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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SITUAÇÃO DRAMÁTICA NA MADEIRA (VIII)

É óbvio que não temos uma cultura de risco. Ela não faz parte da nossa forma de estar na vida.
Nunca a aprendemos com a responsabilidade que ela envolve. O princípio que nos tem sido legado através das sucessivas gerações é que, por aqui, isto é um “Cantinho do Céu”. Talvez, por isso, e por irresponsabilidade de quem tinha o dever de contrariar tal princípio, arriscamos, permitimos, desleixamo-nos, não colocamos os haveres no seguro, acreditamos que tudo vai dar certo, até um dia! Talvez, por isso, as mais de setecentas linhas de água no Funchal não têm merecido o cuidado e o respeito pela natureza tão bela quanto agressiva, talvez por isso o planeamento urbanístico ao nível da Região falhe no exigente rigor sobre o qual deveria assentar todas as decisões, e quando a borrasca surge, ei-los a sacudir a responsabilidade com uma arrepiante desfaçatez. Ao contrário do que ouvi o presidente do governo regional dizer, nós não temos de viver e conviver com o risco, temos é de integrar uma cultura de risco desde as mais tenras idades. Não se trata de uma cultura de medo, mas de uma cultura que nos prepare, em consciência, para saber dizer não perante tantas situações potenciadoras de elevados graus de risco.
Vivemos um drama, uma tragédia marcada, novamente, com sangue e lágrimas, uma tragédia que, ciclicamente, se repete, que tem uma longa História de perda de vidas humanas e de bens materiais que os homens desprezaram e, hoje, convicto estou, regressada a normalidade, a cultura existente determinará a manutenção dos mesmos erros.
É evidente que, seja onde for, as catástrofes acontecem quando menos se espera. Se não as podemos prever com rigor e “desviar” em tempo, no mínimo, temos a responsabilidade colectiva de atenuar as consequências. A ausência de uma cultura de risco vai ao ponto de termos estádios de futebol em todo o sítio, para devertimento, claro, estádios onde são necessários e onde seriam dispensáveis, mas não temos um radar meteorológico. Parece impossível mas é assim.
Tenho presente o desastre de 1993 e tenho presente tudo quanto vi em Vargas, na Venezuela, na tragédia de Dezembro de 1999, onde morreram mais de 50.000 pessoas. Em Vargas, a palavra incúria foi a mais evidente. Escutei opiniões diversas, indaguei os porquês e isso serviu-me para ter uma posição de sistemático alerta junto da Câmara do Funchal onde desempenhava as funções de Vereador. Falei, tantas vezes, da necessidade de um melhor planeamento urbanístico, lutei pela carta de riscos, posicionei-me contra muitas decisões, estou, por isso, de consciência tranquila, mas com um aperto no coração por continuar a sentir que poucos ouvem os sinais da natureza e poucos se ralam com as posições dos homens e mulheres de ciência cujas investigações, infelizmente, são tidas no quadro de “teóricos de café”. Perguntar-me-á o leitor: o que fazer? Talvez eu saiba, mas ficará para depois. Esta não é, certamente, a hora para esgrimir argumentos de natureza política. Cada coisa a seu tempo. Hoje, é dia de funeral de uma criança. Não o conhecia nem à sua família. Simbolicamente, lá estarei. Posted by Picasa

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