Despachar para a natureza a responsabilidade do que aconteceu parece-me um acto de cobardia social e política.
Três notas prévias: primeira, fico sempre com um nó na garganta quando vejo alguém em situação desagradável; segunda, porque faz parte do meu código, rejeito atirar-me, sem dó nem piedade, seja a quem for. No exercício da política também; terceira, não tenho costela de abutre, no sentido de devorar as vítimas políticas aquando dos cenários de tragédia e morte. Não alinho nessa espécie de necrófago político, sempre à espreita de uma oportunidade para a bicada. Mas esta forma de estar na vida e na política não significa que tudo passe em vão e que não retire as necessárias conclusões. Seja qual for o momento, tento fazer sínteses e deduzir as eventuais responsabilidades. Deve ser assim na vida pessoal de cada um de nós, na família, na empresa, nas condutas sociais, na escola e na política, também. O silêncio, o encolher de ombros, o despachar para a natureza a responsabilidade do que, neste caso, aconteceu na Região, parece-me um acto de cobardia social e política.
O caso em apreço enquadra-se nas técnicas de previsão. Todos sabem, mas descuram, que há técnicas de previsão quantitativas (métodos de extrapolação, através de procedimentos matemáticos a partir de tendências passadas, e modelos econométricos, onde é possível estudar o conjunto das relações simultâneas entre diversas variáveis) ou, então, técnicas de previsão causais, identificando as variáveis endógenas (controláveis) e as exógenas (em princípio não controláveis), através das quais se analisa a influência de cada variável e, a partir daí, uma situação futura, no quadro de uma relação de causa-efeito. Se quem governa não domina isto parece-me grave. Técnicas que possibilitam, em termos de horizonte temporal, previsões desde o curto ao longo prazo. Basta, para isso, seriedade técnico-científica no trabalho, respeito pelos homens de ciência, fiabilidade nos dados e uma segura determinação do grau de exactidão desejado.
Obviamente, quando se governa com responsabilidade, quando a preocupação se ajusta aos interesses da comunidade, pelo rigor das decisões assumidas, é evidente que não se pode anular por completo os factores não controláveis (neste caso a conjugação dos imponderáveis meteorológicos a uma escala regional) mas, com um elevado grau de certeza, podemos minimizar as suas consequências. Ora, quando existem aterradoras narrações históricas, de tragédia e morte, quando os especialistas em diversas áreas de investigação, mormente, geológica, geográfica e ambiental, colocam em destaque o perigo que decorre de uma abusiva intervenção nos cursos de água ou de uma excessiva impermeabilização dos solos, quando se levantam vozes chamando à atenção para o perigo de implantação de infra-estruturas em zonas de risco, quando não se ordena o território com implacável rigor, quando se oferecem projectos para completar habitações em zonas de risco, quando a economia suplanta uma cultura de risco, é óbvio que, dificilmente, se pode atenuar os efeitos de uma catástrofe com esta dimensão. Não há sistema previsional que responda. Apenas um exemplo: quantos, em tempo devido, embora vilipendiados, falaram da canalização da ribeira de S. João frente ao Dolce Vita? Ora, nem esses são "miseráveis" e "canalhas", tampouco os seus alertas fazem parte de "conversas de teóricos de café".
Politicamente, pelo menos eu, teria já retirado as devidas ilações. Porque a política não é um emprego, é um serviço público à comunidade. Em política a incúria paga um preço alto. Só que isso implica uma cultura de responsabilidade. E, infelizmente, não a temos. Esquisito (?), talvez não, porque a culpa foi só e apenas da precipitação anormal - dizem.
Três notas prévias: primeira, fico sempre com um nó na garganta quando vejo alguém em situação desagradável; segunda, porque faz parte do meu código, rejeito atirar-me, sem dó nem piedade, seja a quem for. No exercício da política também; terceira, não tenho costela de abutre, no sentido de devorar as vítimas políticas aquando dos cenários de tragédia e morte. Não alinho nessa espécie de necrófago político, sempre à espreita de uma oportunidade para a bicada. Mas esta forma de estar na vida e na política não significa que tudo passe em vão e que não retire as necessárias conclusões. Seja qual for o momento, tento fazer sínteses e deduzir as eventuais responsabilidades. Deve ser assim na vida pessoal de cada um de nós, na família, na empresa, nas condutas sociais, na escola e na política, também. O silêncio, o encolher de ombros, o despachar para a natureza a responsabilidade do que, neste caso, aconteceu na Região, parece-me um acto de cobardia social e política.
O caso em apreço enquadra-se nas técnicas de previsão. Todos sabem, mas descuram, que há técnicas de previsão quantitativas (métodos de extrapolação, através de procedimentos matemáticos a partir de tendências passadas, e modelos econométricos, onde é possível estudar o conjunto das relações simultâneas entre diversas variáveis) ou, então, técnicas de previsão causais, identificando as variáveis endógenas (controláveis) e as exógenas (em princípio não controláveis), através das quais se analisa a influência de cada variável e, a partir daí, uma situação futura, no quadro de uma relação de causa-efeito. Se quem governa não domina isto parece-me grave. Técnicas que possibilitam, em termos de horizonte temporal, previsões desde o curto ao longo prazo. Basta, para isso, seriedade técnico-científica no trabalho, respeito pelos homens de ciência, fiabilidade nos dados e uma segura determinação do grau de exactidão desejado.
Obviamente, quando se governa com responsabilidade, quando a preocupação se ajusta aos interesses da comunidade, pelo rigor das decisões assumidas, é evidente que não se pode anular por completo os factores não controláveis (neste caso a conjugação dos imponderáveis meteorológicos a uma escala regional) mas, com um elevado grau de certeza, podemos minimizar as suas consequências. Ora, quando existem aterradoras narrações históricas, de tragédia e morte, quando os especialistas em diversas áreas de investigação, mormente, geológica, geográfica e ambiental, colocam em destaque o perigo que decorre de uma abusiva intervenção nos cursos de água ou de uma excessiva impermeabilização dos solos, quando se levantam vozes chamando à atenção para o perigo de implantação de infra-estruturas em zonas de risco, quando não se ordena o território com implacável rigor, quando se oferecem projectos para completar habitações em zonas de risco, quando a economia suplanta uma cultura de risco, é óbvio que, dificilmente, se pode atenuar os efeitos de uma catástrofe com esta dimensão. Não há sistema previsional que responda. Apenas um exemplo: quantos, em tempo devido, embora vilipendiados, falaram da canalização da ribeira de S. João frente ao Dolce Vita? Ora, nem esses são "miseráveis" e "canalhas", tampouco os seus alertas fazem parte de "conversas de teóricos de café".
Politicamente, pelo menos eu, teria já retirado as devidas ilações. Porque a política não é um emprego, é um serviço público à comunidade. Em política a incúria paga um preço alto. Só que isso implica uma cultura de responsabilidade. E, infelizmente, não a temos. Esquisito (?), talvez não, porque a culpa foi só e apenas da precipitação anormal - dizem.
Nota 1:
Opinião, da minha autoria, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.
Nota 2:
Esta opinião foi escrita com toda a ponderação e, posso mesmo dizer, com um profundo aperto no coração mas com alma, no sentido de quem não quer ver a tragédia, novamente, à porta dos que nada têm depois de uma vida inteira a construir. Trata-se de uma opinião sentida mas responsável. Tive, até, o cuidado, antes da sua publicação, pedir a pessoas que muito considero e estimo (e que nada têm a ver com o exercício da política), o favor de a lerem e de facultarem a sua opinião. Concretamente, pedi a idóneos especialistas e de todos eles tive a sua aprovação. Lamento, profundamente, determinados comentários (para já, não neste blogue) que explicam que, afinal, não temos nem cultura de responsabilidade nem de risco. Isto preocupa-me, até porque, repito, não "tenho costela de abutre". É preciso saber ler e não meter a cabeça na areia, sabe-se lá, por razões meramente partidárias. Chego à conclusão que duas tragédias se abateram: a da destruição e morte e a da ausência de uma mentalidade para enquadrar, de forma séria, o nosso futuro. O que fazer?
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