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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PELOS DIREITOS DAS CRIANÇAS

"quando o vimos ele dirigiu-se a nós como pai e mãe" (...) o João trouxe muito amor para nos dar (...)"
Os sinais de pobreza constrangem-me, chocam-me e deixam-me com um aperto na garganta. Não suporto que as pessoas não disponham do mínimo, que vivam paredes meias com a ostentação, com os acentuados desequilíbrios sociais. É evidente que não está em causa quem, sejam quais forem as razões, consiga uma boa capacidade de resposta às necessidades, em função do trabalho, do investimento, da criatividade, da inovação, do risco, da riqueza acumulada, de heranças, isto é, disponham de meios acima e muito acima da média. O que coloco em causa é uma outra coisa, exactamente a estrutura política que não garante para a maioria a satisfação dos patamares mínimos geradores de segurança e bem-estar. E este aspecto tem muito que se lhe diga, pois envolve uma significativa panóplia de variáveis de natureza política, económica, social e cultural que devem ser tidas em conta.
Mais chocado fico quando a situação envolve crianças desde a mais tenra idade. A este propósito, o DN-M apresenta, na edição de hoje, uma peça assinada pela jornalista Zélia Castro, subordinada ao título "crianças apanhadas no meio da crise", que ilustra bem as privações que pairam no seio de muitas famílias madeirenses. O presidente da Cáritas Diocesana aborda, neste trabalho, algumas importantes causas merecedoras de reflexão, e o vice-coordenador do Sindicato de Professores da Madeira, Dr. Paulo Cafôfo, complementa que "(...) há alunos que vão para a escola com carências alimentares, sem pequeno-almoço" (...) que "há escolas e concelhos mais problemáticos do que outros", bem como "situações encapotadas" e que "a escola sempre foi um amparo para a resolução dos problemas sociais", confessando que já passou por situações de ter de providenciar jantar para alunos que não tinham o que comer e que "quando há carências, as escolas dão resposta, pondo muitas vezes de parte o principal papel", ensinar.
Ora, dir-se-á que é a escola transformada em remediadora social. O drama é que não se trata de um ou de outro caso, mas de centenas de casos. Quando 30% da população é pobre e quando 14.000 estão desempregados é óbvio que os casos cresçam como cogumelos. Aliás, só quem está numa escola, quem é profissional do sector educativo (e se estiver atento aos sinais) é que se apercebe da dimensão do problema.
No meio disto, das histórias de crianças abandonadas, uma ou outra acaba por nos comover e sentir que, ainda assim, há gente muito boa, de um coração e de uma sensibilidade que toca fundo. Segui, ontem, uma peça do Telejornal da Madeira, uma peça de excelência no que concerne à selecção do conteúdo, sequência e valores transmitidos. Tratou-se da história de um casal residente em S. Cruz que preferiu adoptar uma criança a ter um filho biológico. A mãe, de sorriso rasgado, falou daquela criança, vítima de pais negligentes, com um surpreendente amor: "quando o vimos ele dirigiu-se a nós como pai e mãe" (...) o João trouxe muito amor para nos dar", concluiu. O pai falou dos princípios morais, do número de crianças sem direito à felicidade, da complexidade das questões relacionadas com a lei e da opção do casal por dar atenção prioritária a uma dessas crianças do que a um filho biológico.
Enfim, uma história de valores no meio de centenas de crianças madeirenses institucionalizadas que esperam pelo direito à felicidade. Vale a pena seguir este trabalho na edição on-line do Telejornal de ontem.
Ilustração: Google Imagens.

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