O recurso humano, habilmente, passou a ser considerado como uma mercadoria económica. Melhor dizendo, direitos a um canto, porque o que interessa é o rendimento do Homem ao serviço da economia.
Em Outubro de 2000, vai a caminho de onze anos, li, no Le Monde Diplomatique, um excelente artigo assinado por Riccardo Petrella, então Conselheiro na Comissão Europeia e Professor na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). Falava o autor das cinco armadilhas para a educação e de uma cultura de guerra, a saber:
1. Primeira armadilha: “A crescente instrumentalização da educação ao serviço da formação dos recursos humanos”. Isto é, o recurso humano, habilmente, passou a ser considerado como uma mercadoria económica. Melhor dizendo, direitos a um canto, porque o que interessa é o rendimento do Homem ao serviço da economia;
2. Segunda armadilha: “A passagem da educação do campo do não mercador para o do mercador”. É a educação considerada como um grande mercado. Não é por acaso que, nos Estados Unidos, por exemplo, se fala em mercado dos produtos e serviços pedagógicos, em business da educação, em mercado dos professores e alunos;
3. Terceira armadilha: a educação “é apresentada como um instrumento-chave da sobrevivência de cada indivíduo” (...) nesta era de competitividade mundial. No essencial, dir-se-á que a escola está transformada no lugar onde, subtilmente, se aprende uma cultura de guerra;
4. Quarta armadilha: a da “subordinação da educação à tecnologia”. Ora, a mundialização é filha do processo tecnológico pelo que resta à educação fornecer os instrumentos de adaptação ao pensamento único;
5. Quinta armadilha: “a utilização do sistema educativo enquanto meio de legitimação de novas formas de divisão social”, isto é, uma sociedade dividida entre qualificados e não qualificados, entre os que dominam o conhecimento e os excluídos desse acesso.
Pois bem, a par da tal nobreza de princípios da Declaração de Bolonha, por exemplo, questiono-me se todos estes ingredientes, não estarão a conduzir a um campo minado e a uma cultura de guerra? E se esse é o campo que interessa a uma Educação onde o conhecimento rigoroso, exigente e profundo se compagine com os princípios e os valores, a disciplina, a partilha, a aprendizagem da solidariedade e com os direitos de cidadania?
Ilustração: Google Imagens.
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