E o que a Região precisa não é de correcções marginais, antes necessita de mudanças profundas, sensatas, escalonadas no tempo, através de novas políticas que só outros políticos o poderão fazer com eficácia. Maquilhar não chega, pois retirando-a fica a realidade. A História dos processos políticos diz-nos que não são possíveis mudanças através do mesmo quadro ideológico, fundamentalmente porque as pessoas seguem posicionamentos idênticos, ficam amarradas pela mentalidade, pelos interesses e pelas pressões. As mudanças operam-se sempre de fora para dentro, porque é aí que reside a inovação, a criatividade e o entusiasmo pela transformação.
Fazer crescer a planta da alternativa política |
A Região Autónoma da Madeira encontra-se, todos sabem, portanto, não constitui novidade para ninguém, pelo menos para aqueles que acompanham o dia-a-dia político, numa situação de eminente catástrofe social. Já aqui equacionei um conjunto de preocupações na sequência das leituras que faço aos indicadores sociais.
Tais indicadores são a consequência de anos a fio de uma política megalómana, contrária e desproporcional à realidade e ao sentido dos princípios que devem nortear o desenvolvimento. Pelo menos estes: o da responsabilidade do Estado, o da teleologia funcional, o da auto-determinação, o da prioridade estrutural, o da auto-sustentação, o da transformação graduada, o da continuidade funcional, o da interacção e da integração, o da flexibilidade, o da optimização dos meios e o da participação. Todos estes princípios foram subvertidos ou esquecidos em todos os sectores que sustentam o desenvolvimento e, portanto, o resultado é aquele que temos aí. Ignoraram que o desenvolvimento integra três dimensões inter-relacionadas: a Económica, ligada à produção e distribuição dos bens; a Social, que tem a ver com as condições de vida e com as desigualdades; e a Cultural, ligada, fundamentalmente, ao património num sentido lato do termo.
E quem assim não soube interpretar o desenvolvimento, parece-me óbvio que não está em condições de arquitectar e de operacionalizar outras respostas que não aquelas que temos vindo a assistir. Há trinta e tal anos que o registo é sempre o mesmo, daí que não se possa esperar novos caminhos de quem apenas sabe repetir o passado, apenas com alguns "acertos" meramente marginais, quer ao nível dos conceitos quer ao nível dos actores políticos desses conceitos.
E o que a Região precisa não é de correcções marginais, antes necessita de mudanças profundas, sensatas, escalonadas no tempo, através de novas políticas que só outros políticos o poderão fazer com eficácia. Maquilhar não chega, pois retirando-a fica a realidade. A História dos processos políticos diz-nos que não são possíveis mudanças através do mesmo quadro ideológico, fundamentalmente porque as pessoas seguem posicionamentos idênticos, ficam amarradas pela mentalidade, pelos interesses e pelas pressões. As mudanças operam-se sempre de fora para dentro, porque é aí que reside a inovação, a criatividade e o entusiasmo pela transformação. Quem está por dentro acomoda-se, ganha raízes, deixa andar, desenvolve mecanismos da sua afirmação pessoal e de grupo, enreda-se em laços e compromissos e, portanto, fica sem hipóteses de gerar o novo portador de futuro.
Charles Handy explica-nos isso através da Curva Sigmóide. Dir-se-á que o PSD-Madeira (e o seu governo) passou pela fase de implantação, cresceu, maturou e encontra-se, hoje, na zona de turbulência (entre A e B), onde os seus processos já não respondem aos problemas com os quais se confronta. A saída para este quadro político está na construção de uma nova Curva Sigmóide (alternativa política) sob pena de declínio e morte para a qual arrastará todos os madeirenses e porto-santenses.
Ilustração: Google Imagens (1)
4 comentários:
Só que,Caro Senhor Professor,não é com uma "alternativa" condicionada por diversos e estranhos laços, designadamente, parentais - pretendendo agradar a Gregos e Troianos - que a Nova Curva se desenhará com consistência.
A ruptura necessária,não se processa com a outra face da mesma moeda...
Note-se que não excluo a realidade da existência de "Gente de Boa-Vontade",queimando toda a sua energia na luta insana de remar contra a corrente,como é o seu caso.
Quem inventou que "Água mole em pedra dura,tanto dá até que fura",mentia tão descaradamente quanto mais não pretendia que atirar para as Calendas Gregas a Mudança, Urgente e Necessária.
Entretanto,"Lá vamos,cantando e rindo..."
Obrigado pelo seu comentário.
Eu vou tentando alertar, mas não sei se com sucesso.
Um abraço.
Caro amigo
Confesso que não conhecia a "curva Sigmóide", mas achei interessante. Porém, parece-me que há outras saídas não previstas nessa curva. Uma será a implosão do partido no poder consagrada na mais recente teoria política de Jardim: "o PSD só rebenta por dentro". Ele sabe que os delfins estão desesperados —apostaram o seu futuro político no jardinismo e estão a ver que a sua progressão na carreira está a ficar, mais uma vez, bloqueada...
A outra alternativa será a queda do regime com a substituição do partido do poder.
De qualquer forma, o resultado será sempre o mesmo: uma reviravolta drástica com custos demasiados para os madeirenses. Porque não há memória de uma ditadura (por mais disfarçada que tenha sido) ter acabado a bem.
O mal já está feito há muito tempo.
Obrigado pelo seu comentário.
Exactamente, "não há memória de uma ditadura (por mais disfarçada que tenha sido) ter acabado a bem".
Estou convencido que esta acaba mal.
Enviar um comentário