Por mais voltas que dê, de renovação, o pensamento ideológico e estratégico, está lá, no "ADN" partidário, marcado por trinta e quatro anos de poder ininterrupto. Por isso, com o respeito que tenho pelas opiniões, aquela entrevista é "água do Luso".
Acorrentado aos interesses. A Mudança não passa por aí! |
Li, com atenção, a entrevista do Dr. Miguel Albuquerque inserta na edição de hoje do DN. Para alguns pode ser considerada uma entrevista de ruptura, todavia, para mim, não é. E não é, desde logo, porque o PSD nunca será diferente daquele liderado pelo Dr. Jardim. A matriz orientadora está lá, os profundos interesses da máquina pacientemente montada ao longo de anos, estão lá e ninguém os beliscará. Por mais voltas que dê, de renovação, o pensamento ideológico e estratégico, está lá, no "ADN" partidário, marcado por trinta e quatro anos de poder ininterrupto. Por isso, com o respeito que tenho pelas opiniões, aquela entrevista é "água do Luso". Por dois motivos: primeiro, porque o "único importante" já disse que não gosta de falsas partidas e que quem quiser colocar em causa a sua liderança, que se submeta a votos no plano interno, numa clara demonstração de força e de apego ao poder; em segundo lugar, porque aquela entrevista não traz nada de novo. Numa passagem pelos sectores da governação e respectivas fragilidades, pergunto, mas há quanto tempo as "denúncias" foram feitas? Há quanto tempo, nos planos económico-financeiro e fiscal, na política de emprego, na educação, nas questões sociais, particularmente, no sector do turismo e transportes, repito, há quanto tempo esses assuntos estão devidamente escalpelizados? E o Dr. Miguel Albuquerque conhece, ora se conhece, as propostas de diploma sobre os diversos sectores, áreas e domínios que foram chumbadas pelo PSD? São dezenas para não dizer centenas. Tenhamos presente o que se passou no recente debate do Plano e Orçamento! Só do PS-M foram 90 propostas chumbadas.
Ora, uma mudança nunca tem sucesso através de uma simples alteração das figuras, mas nas concepções de base ideológica e no paradigma de crescimento e de desenvolvimento que se deseja. E neste aspecto, o Dr. Miguel Albuquerque, político que acompanhei, durante doze anos, na qualidade de Vereador da Câmara do Funchal, não constitui um exemplo de esperança. Basta olhar para este Funchal descaracterizado, a duas ou mais velocidades, entre a zona baixa e a alta, a indisciplina no cumprimento dos instrumentos de planeamento e já que fala do Turismo, que "ocupar 30.000 camas não é assim tão difícil", pergunto, se é com políticas de ordenamento, da sua inteira responsabilidade política, como aquela que está aos olhos de todos, a zona Monumental - Lido, que venderemos este destino numa óptica de qualidade? Este é um mero exemplo, mas há outros.
É claro que me soube ler que o "PSD-Madeira não pode ser uma central de distribuição de mordomias". Se não pode ser é porque é! Há muito que se sabia disso, que há muita gente a viver à mesa do orçamento e que a engrenagem está montada no sentido de chegar a uma grande parte das famílias, por mais insignificante que seja a mordomia. Nem constitui nada de novo, pois sabe-se que assim é, que o controlo é absoluto.
Portanto, esta entrevista, aparentemente de contrapoder, não é mais do que um acto de uma certa luta interna entre personalidades que, chegados aos 50 anos de idade, como é referido (e não foi por acaso), desejam marcar terreno, oferecendo, para dentro, um sinal de grandes desconfortos externos, entre aqueles que desejam o poder, mas sentem que as portas e janelas estão trancadas. É um tiro no escuro que o "paizinho" avaliará e estudará a melhor forma de calar. Outra leitura eu faria se, mesmo no contexto do partido do Dr. Miguel Albuquerque, ao contrário de fazer um elogio ao Dr. Jardim, assumisse que a sua candidatura, a candidatura do UI está errada e que estava disponível para enfrentá-lo. Falar de ciclos, de acomodados e de novas políticas, não chega, é conversa mole que passam pelo UI como água nas penas de um pato!
Em síntese, a Região precisa de MUDANÇA, mas de uma mudança que não surja do interior do PSD. As rupturas não podem ficar pelas palavras nem pela margem dos problemas. A ruptura terá de ser ideológica e de pensamento estratégico. E isso o PSD jamais conseguirá fazer pelo monstro de interesses que ele próprio criou. Terá de passar à Oposição para estudar os problemas e credibilizar-se. Não tem outra solução.
Ilustração: Google Imagens.
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