O problema não está na Assembleia ir à escola, pois, do meu ponto de vista, a questão é muito mais vasta e complexa. A pedagogia da democracia resolve-se com professores completamente livres e empenhados na transformação organizacional dos estabelecimentos de educação e ensino, de tal forma que a transversalidade dos conteúdos constituam meios poderosíssimos no sentido da conquista de uma mentalidade verdadeiramente democrática. Uma Escola que não é democrática, no sentido mais extenso do conceito, não está em condições de poder fazer a pedagogia da democracia. Uma escola livresca, de manuais e de avaliações, uma escola de toca-entra-toca-sai, onde interessam mais as respostas do que as perguntas, obviamente que não consegue libertar no sentido de uma espiral para fora tendo o aluno no centro dessa espiral. Aliás, parece-me sensível um paradoxo que conduz à pergunta: como pode a Assembleia querer falar de democracia se ela própria não é democrática?
Li que a Assembleia Legislativa da Madeira terá pela 124ª vez visitado uma escola no âmbito da iniciativa, segundo me apercebi, "A Assembleia vai à escola". Lamento ter que dizê-lo, mas este tipo de iniciativa vale zero. Insere-se mais no quadro de "um número político", integrado no programa circense da política regional, do que propriamente uma iniciativa com consistência pedagógica no que concerne à vida e vivência da Democracia. É das tais iniciativas que nascem, vivem e morrem no instante. São absolutamente neutras e, portanto, delas não se pode esperar qualquer consequência benéfica para o entendimento do exercício da política. Trata-se, repito, de "um número" inconsequente.
O problema não está na Assembleia ir à escola, pois, do meu ponto de vista, a questão é muito mais vasta e complexa. Nem é seu mister por aí enveredar. A pedagogia da democracia resolve-se com professores completamente livres e empenhados na transformação organizacional dos estabelecimentos de educação e ensino, de tal forma que a transversalidade dos conteúdos constituam meios poderosíssimos no sentido da conquista de uma mentalidade verdadeiramente democrática. Uma Escola que não é democrática, no sentido mais extenso do conceito, não está em condições de poder fazer a pedagogia da democracia. Uma escola livresca, de manuais e de avaliações, uma escola de toca-entra-toca-sai, onde interessam mais as respostas do que as perguntas, obviamente que não consegue libertar no sentido de uma espiral para fora tendo o aluno no centro dessa espiral.
A escola de hoje, aliás, de sempre, embora pintada de fresco, essa espiral tende a ser feita de fora para dentro, condicionando e enredando o aluno naquilo que interessa ao poder político. Crianças despertas para o mundo serão, naturalmente, adultos com uma visão alargada dos problemas, que sabem cruzar tudo o que lhes apresentam, capazes de produzirem sínteses e de saberem dizer não, quando assim o entenderem. E a verdade é que, desde há muito, subtilmente, os políticos rejeitam-na, condicionando a liberdade da escola, oferecendo uma autonomia mitigada ao jeito da notável síntese do Professor Licínio Lima: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". É esta escola condicionada e condicionante, antidemocrática, com parcos meios, de sentido vertical, que também é geradora de medos sem fim. Quantos professores me confidenciaram os seus receios em abordagens no quadro da democracia, não vá ser mal interpretado no seio da escola e até junto dos pais dos seus alunos! Uma coisa, por exemplo, no quadro da História, é abordagem da "Revolução Francesa"; outra, por extensão, a sua contextualização histórica trazida até aos nossos dias. Ficar pelas datas não chega e este é apenas um exemplo. A pedagogia da democracia e da respectiva existência de órgãos democráticos passa, inevitavelmente, pela liberdade, pela mentalidade, pela responsabilidade, pela autonomia, por uma outra organização dos estabelecimentos de educação e ensino e não pelos actos condicionadores que fazem da escola um ponto de encontro e, raramente, um ponto de partida.
Pode a Assembleia percorrer todas as escolas da Região que nada adiantará. Aliás, parece-me sensível um paradoxo que conduz à pergunta: como pode a Assembleia querer falar de democracia se ela própria não é democrática? A democracia formal tem terminado na contagem dos votos que estabelece o número dos eleitos por cada força partidária concorrente. E a DEMOCRACIA é muito mais do que isso. Quando não se discute de forma séria e empenhada, quando a decisões têm mais a ver com os interesses partidários do que propriamente com os interesses do povo eleitor, quando a Assembleia se demite de investigar, quando a irracionalidade do "chumbo" das propostas é prevalecente, mesmo que de bons conteúdos se trate, quando a Assembleia se deixa ultrapassar pelo governo, questiono, que importância e que efeitos terão as explicações oferecidas aos meninos? Treta, apenas fumo que o vento leva!
Ilustração: Google Imagens.
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