Fulano, beltrano ou sicrano são pobres porque são pobres e porque querem ficar nas margens. Quem governa prefere aliviar a consciência com algumas migalhas distribuídas sob a forma de subsídios, com algumas cantinas sociais, com alguns apoios caritativos através das instituições de solidariedade social, mas não esboça uma preocupação estrutural de romper com o círculo vicioso da pobreza. Quem governa fala de empreendedorismo, de criatividade e inovação, distribui até alguns apoios, mas logo a seguir fica a dever milhares aos empresários e impõem-lhes impostos que acabam por sufocar a sua actividade. Quem governa fala da família, mas não apresenta uma política de família. Quem governa fala da Educação, mas torna a Escola remediadora social. Quem governa preocupa-se com as estatísticas dos exames de Português e Matemática, mas dispensa professores e não se preocupa com o aluno que deveria ser o centro das políticas educativas. Daí os altos índices de exclusão e de insucesso. Quem governa quer manter-se no poder a qualquer preço, gasta na sua promoção e apresenta-se completamente alheio aos olhares definidores das prioridades e do esbatimento das desigualdades sociais. Cada um que se arrume!
O problema, embora não sendo novo, parece que apresenta proporções cada vez maiores. Causa-me angústia assistir a determinados programas ou simplesmente ler aquilo que vai acontecendo mesmo à nossa beira: casais sem meios e filhos institucionalizados, violência doméstica, desespero, pais que matam e que se suicidam, enfim, dramas em catadupa que não deveriam permitir a indiferença, mas que testemunham essa mesma indiferença da sociedade e dos seus representantes políticos. A notícia vive no instante e logo morre. Passadas umas horas já poucos se lembram de um facto que nos prostrou e arrepiou. Vivemos encarcerados, lamentando e não actuando. Em 2011, registaram-se mais 110 suicídios do que em 2010, segundo o Instituto de Medicina Legal (IML). "Os 1208 casos registados, que correspondem a três suicídios por dia, estão, contudo, longe de representar a real dimensão deste fenómeno, já que “muitas vezes o Ministério Público dispensa a autópsia quando tem suspeitas fundadas de que não houve crime”, conforme esclareceu Duarte Nuno Vieira, ao tempo presidente do IML. O suicídio é a principal causa de morte não-natural no país, tendo ultrapassado o número de mortes na estrada. Segundo notícia do Público (Lusa - 08 de Setembro de 2012), em 2009, verificou-se um suicídio a cada quatro horas, tendo sido a Madeira a Região de maior incidência. E apesar disto assim se verificar há um estranho silêncio no equacionamento das causas que estão associadas e que são potenciadoras dos dramas pessoais e familiares.
E as causas são múltiplas, obviamente. Uma delas tem a ver com o desemprego. Li uma declaração de José Carlos Santos, da Sociedade Portuguesa de Suicidologia que aludia a um estudo publicado em 2011, segundo o qual "a cada aumento de 1% na taxa de desemprego nos países da União Europeia correspondia uma subida de 0,8% na taxa de suicídio, entre 2007 e 2009". O desemprego, a desestruturação familiar, as depressões, julgo eu, leigo na matéria, constituem factores que deveriam merecer preocupada atenção, mas que, infelizmente, passam ao lado dos governantes. Deixo essa análise para quem é especialista e estudioso dos fenómenos sociais, mas não deixo passar a questão política em função do desinteresse público e notório. Sinto que os governos, se em outras matérias não são pró-activos, nesta, na da organização social ainda pior se comportam. Fulano, beltrano ou sicrano são pobres porque são pobres e porque querem ficar nas margens. Quem governa prefere aliviar a consciência com algumas migalhas distribuídas sob a forma de subsídios, com algumas cantinas sociais, com alguns apoios caritativos através das instituições de solidariedade social, mas não esboça uma preocupação estrutural de romper com o círculo vicioso da pobreza. Quem governa fala de empreendedorismo, de criatividade e inovação, distribui até alguns apoios, mas logo a seguir fica a dever milhares aos empresários e impõem-lhes impostos que acabam por sufocar a sua actividade. Quem governa fala da família, mas não apresenta uma política de família. Quem governa fala da Educação, mas torna a Escola remediadora social. Quem governa preocupa-se com as estatísticas dos exames de Português e Matemática, mas dispensa professores e não se preocupa com o aluno que deveria ser o centro das políticas educativas. Daí os altos índices de exclusão e de insucesso. Quem governa quer manter-se no poder a qualquer preço, gasta na sua promoção e apresenta-se completamente alheio aos olhares definidores das prioridades e do esbatimento das desigualdades sociais. Cada um que se arrume!
É isto que me dói e que me deixa revoltado perante tanta desgraça que tem sido do conhecimento de todos nós, com os governantes mergulhados no seu egoísmo, na valorização da sua imagem, na visita de peito cheio aqui e ali, no microfone onde debitam banalidades, raramente ou nunca numa leitura correcta sobre as situações e, como lhes compete, na implementação de medidas tendentes a corrigir os dramas que fragilizam a sociedade. E por aqui fico.
Ilustração: Google Imagens.
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