Pontal, a dita "festa" de uma coisa sobre a qual nada há para festejar. Alguém pode ou deve festejar o desemprego, a precariedade, a pobreza, a emigração, a ausência de esperança nos jovens? No Pontal não falaram da realidade do país, antes, com muito descaramento, falaram de um país que apenas existe nas suas mentes. Passos Coelho pediu um voto de "confiança" e que todos decidam "com a cabeça e com o coração" pois, sublinhou, "(...) governamos só a pensar nos portugueses". E Paulo Portas, intruso em um comício laranja, mandando, assim, a democracia cristã às malvas, teve a lata de pedir que António Costa não dividisse o País. Isto é, a coligação pode vender o seu peixe, mentindo e aldrabando, os outros devem abster-se de qualquer sinal de novo projecto! Devem manter-se calados porque só há uma verdade. Espantoso!
Aquele bracinho do PP a querer agarrar as laranjas! |
"Governámos só a pensar nos portugueses". Poderia ter dito, "governámos a pensar nos portugueses", mas não, destacou a palavra: SÓ. E esta palavra, politicamente, tem muito significado. É a consciência a ditar que a população sabe, pela vivência de todos os actos, que não foi assim. Qualquer pessoa entende que este foi um governo rendido aos interesses do grande capital e subserviente a uma Alemanha trituradora. E qualquer pessoa percebe que foi esta coligação que roubou direitos sociais, atentou contra o equilíbrio entre gerações jogando umas contra as outras, espoliou os aposentados rasgando contratos rubricados entre as partes, aplicou uma vergonhosa política fiscal que destruiu a designada classe média, tornou os ricos ainda mais ricos e os pobres mais pobres. E quando isto e muito mais aconteceu, obviamente que ele, Passos Coelho, sabe que não governou só a pensar nos portugueses. Daí a necessidade da palavra só para mascarar a realidade! E tanto assim é que a dívida em percentagem do PIB cresceu e já anda pelos 130% e a verdadeira taxa de desemprego é superior aos 20% (há um estudo de Eugénio Rosa que situa o desemprego entre os 23,8% (desemprego oficial + inactivos disponíveis) e 28,6% (desemprego oficial + inactivos disponíveis + sub-emprego tempo parcial). Isto é, 509.000 desempregados não são considerados no desemprego oficial. É o país do sucesso que vendem em contraponto aos pedidos de ajuda junto das instituições de solidariedade social.
Comparável só a mentira vendida antes de Abril de 74. Hoje, em tempo que designam democrático (!), a mentira é refinada, ignora os contextos, passa uma esponja sobre a desgraça social, transporta o sorriso, mas também a ameaça do tipo não queiram voltar ao passado! Mas qual passado, questiono. Eu falo do presente e do presente envenenado vendido em 2011. Falo perante dados concretos de uma sociedade que se esvai; falo de política e não de politiquice; falo de indicadores económicos, financeiros, sociais e culturais; falo de milhões que viram coarctados os seus direitos à saúde e à educação; falo de privatizações que nunca deveriam ter acontecido; falo do roubo na banca e do que estamos a pagar e falo da grosseira mentira de que o país, ao contrário de ontem, "tem os cofres cheios". Tenham vergonha, porque em uma democracia que fizesse jus ao seu significado, nem 10% teriam nas próximas eleições. São tantos os partidos em quem votar!
Ilustração: Google Imagens.
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