O acto de renovar não significa a mesma coisa de tira daqui e coloca acolá. Na política, renovar, tem muito mais o significado de ir em busca de novas referências, de pessoas com competência técnica, com experiências diversas em vários sectores onde exercem as suas profissões, capazes de, distantes dos partidos, trazerem inovação, criatividade, rigor e independência. Na política renovar não significa baralhar e dar de novo, isto é, sair do serviço x e entrar no servicinho y. Uma espécie de ida à arrecadação! No caso da candidatura do PSD, o que se verifica é isso mesmo, uma rotação de pessoas e não uma mudança das caras e dos comportamentos políticos. O Funchal, a minha cidade e onde sempre vivi, precisa dos primeiros e dispensa os segundos. Dos segundos, as figuras já conhecidas, todos sabemos o que delas se pode esperar: rotina, obediência cega ao "chefe" e aos lóbis (é muito difícil cortar os cordões umbilicais), continuidade, enfim, o mesmo de sempre, paleio, mais paleio e pouco mais. É isso que luto por evitar. O Funchal, tal como toda a Região, precisa de cidadania activa, de novos actores que brotem da sociedade, necessita de gente com bom senso, de personagens com princípios e valores democráticos, precisa de gente culta no sentido de saberem produzir as necessárias sínteses do conhecimento e que saibam marcar o ritmo das prioridades em todos os sectores e áreas da intervenção municipal. O Funchal precisa de novos actores políticos cuja cartilha não seja a do partido, mas a cartilha das necessidades do povo.
Ora, quando leio que a equipa candidata x é uma equipa de renovação, dá-me vontade de rir, pois olho para os protagonistas e, sem qualquer esforço, sei que um já lá estava, outro veio de uma qualquer direcção regional, o outro de um instituto, aqueloutro do cargo y, por aí adiante, um a um, as novidades são poucas. É a lista da continuidade na sequência dos alinhamentos do último congresso laranja. Depois, a palavra renovação, politicamente, claro, tem, no actual contexto, um significado de maior abrangência. O Funchal precisa de deixar de ser governado por aqueles que já lá estão há 37 anos consecutivos. Para o povo o significado maior da palavra renovação aí se deveria encaixar. Não quero com isto dizer que, ao longo de 37 anos, pela Câmara não passaram figuras que deixaram trabalho apaixonadamente realizado. Obviamente que sim. Respeito-os, independentemente de, globalmente, concordar ou não com as suas orientações. Até com alguns mantenho uma relação de grande cordialidade. Mas não é isso que está em jogo. Hoje joga-se no terreno das preocupações das pessoas e talvez não esteja errado dizer que para corrigir os gravíssimos erros cometidos e uma clara ausência de estratégia, serão necessários tantos anos quantos os de democracia temos. É um trabalho de décadas e que tem de ser começado, desde logo, rompendo com a actual estratégia política. Os erros urbanísticos, as cedências, as tolerâncias que permitiu o crescimento de habitações de natureza espontânea, o dramatismo das zonas altas do concelho a necessitar requalificação, a importante questão do plano de ordenamento do comércio, as questões da mobilidade pendular (norte/sul), as ligações aos concelhos limítrofes para além da circulação na baixa que implica novos hábitos a aprender, a questão das bolsas de pobreza, os acessos ao mar e a protecção das zonas "non aedificandi", as questões relacionadas com a segurança de pessoas e bens, a descentralização de responsabilidades para as Juntas de Freguesia, a (re)organização burocrática dos serviços da Câmara, os problemas resultantes de uma dívida de mais de cem milhões de euros, enfim, estes são alguns dos problemas a resolver e que necessitam, obviamente, de pessoas com capacidade técnica, com bom senso e que saibam fazer da Câmara "uma grande mesa de diálogo com os cidadãos", aliás como um dia me disse o Engº Danilo de Matos.
A Câmara do Funchal não precisa de repetidos. Quando era criança estuporava com os cromos repetidos que me levavam a desesperar não conseguir preencher toda a caderneta dos jogadores. Agora, dou comigo, no plano político, a ter que olhar novamente para repetidos. Que raio, é tempo de "fechar" essa fábrica que goza connosco, que mete nas carteirinhas cromos e mais cromos sempre iguais. É tempo dos funchalenses terem a alegria de conseguir terminar a caderneta, que significa a esperança numa cidade mais equitativa, mais justa, mais dinâmica, mais Europeia, mais Atlântica e mais turística. E os mesmos de sempre não a sabem fazer, se soubessem já a tinham feito. E têm o desplante de pedir uma maioria absoluta! Demos, por isso, a oportunidade aos cidadãos e aos partidos que recuaram no sentido de possibilitarem a necessária e urgente abertura à sociedade. Os seis partidos (PS, PTP, MPT, PND, PAN, BE), estão a dar uma grande lição que, oxalá, seja compreendida pela população.
Ilustração: Google Imagens.
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