Devagarinho, passo ante passo, com pezinhos de lã, contacto aqui e outro ali, uns "bons" telefones, umas velhas amizades, umas partidas de golfe, um interesse de lá para se verem livres desta coisa de cá, e pronto, lá teremos mais um fatinho à medida dos interesses do PSD-Madeira. Como estão tesos que nem um carapau, obviamente, que os contactos há muito começaram para distribuir as percentagens das quotas a este e àquele "privado". São 49% a entregar aos amigos de sempre, àqueles que, certamente, beneficiários de muita coisa ao longo de trinta e tal anos, agora, sentem-se na "obrigação" de não poderem fugir com o rabo à seringa. Tudo em nome da laranja! Uns não vão participar, é certo, porque os negócios caíram a fundo e estão a braços com problemas complicados, outros, estão na fila dos candidatos, porque há muito que fazem parte dos avençados do regime. Foram muitos anos de benesses, por via das concessões que lhes ofereceram de bandeja ou porque, apesar de tudo, as suas posições garantem a multiplicação dos euros. Os disponíveis estou em crer que irão (terão) cobrir as necessidades de quotização. E pronto, a não ser que o governo caia e que tudo volte a ser repensado, a RTP-Madeira corre o sério e grave risco de se tornar num enorme Jornal da Madeira.
Neste processo, eu compreendo o silêncio dos profissionais da RTP/RDP Madeira. É difícil tomar posição quando há famílias por detrás e responsabilidades individuais assumidas. Não há, por aqui, espaço profissional que possibilite saltar de empresa para empresa, mesmo quando é indiscutível a competência técnica que muitos evidenciam. O mercado é limitado e condicionado por múltiplos factores, eu sei. E trabalhar numa televisão ou numa rádio de serviço público não é a mesma coisa que trabalhar à peça ou em uma rádio local. É óbvio. É natural, por isso, que se gere um certo pavor, pelo menos para todos aqueles que mantêm um coluna vertebral óssea e não de plasticina, é natural que o medo e a incerteza conduzam a uma certa indiferença e que fiquem expectantes, portanto, penso que não é a esses que devem ser assacadas as grandes responsabilidades de confronto face a mais esta pouca-vergonha que estamos a assistir. Essas responsabilidades pertencem aos partidos, aos políticos sérios e honestos e ao povo em geral. É aos madeirenses e portosantenses que não querem ver o serviço público de rádio e de televisão subjugado a uma qualquer força política que detenha, circunstancialmente, o poder, que compete a luta pela independência desse serviço que tem raiz constitucional. É a todos nós que compete essa responsabilidade, através de uma reacção enérgica contra este "servicinho da República" aos "donos do poder regional".
Eu acompanhei o dossier RTP-M durante alguns anos. Conheço como se processou a dança de cadeiras no poder bicéfalo da RTP/RDP. Sei das reuniões realizadas e as contradições legais. Sei, na altura, quantas acções foram empreendidas no sentido da reposição da legalidade e da descoberta de uma certa aldrabice política. Nessa altura, o poder regional e nacional fizeram algum compasso de espera durante algum tempo, todavia, hoje, voltaram à carga e estão a fazer tudo no sentido de entregar ao poder regional do PSD-M, de bandeja, um serviço que deveria ter a marca da independência. Não conseguiram a privatização da RTP, mas começam a deitar o rabo de fora relativamente à Madeira. Da minha parte continuarei a lutar para que a RTP/RDP não esteja sob as garras de um poder que já provou, através do Jornal da Madeira, o que entende por uma comunicação social livre.
Ilustração: Google Imagens.
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