Não é sério quando assume e critica que "o PS criou o problema e não quer fazer parte da solução". Pelo contrário, quem criou o problema, à luz dos dados que acima lhe deixo, é que deve resolvê-los. E relembro-lhe as palavras de Paulo Portas, em Março de 2011: "o PS não é parte da solução, é parte do problema". Depois do descalabro da governação social-democrata/centrista e da posição de Portas fará algum sentido pedir, aos para si "culpados" da situação, uma bóia de salvamento político, ao jeito de repartição da factura dos estragos feitos por clara impreparação para governar? Relembro, também, que foram legitimamente eleitos após chumbarem, na Assembleia da República, o PEC IV e o governo foi empossado pelo Presidente da República, com um programa de "salvação nacional". Prometeram resolver o problema do País sem esfrangalhar o já de si pobre tecido social. Foi o que vimos! Mas, o curioso, José Manuel Rodrigues, é que ao mesmo tempo que responsabiliza o PS, também diz que "é necessário ter um governo mais forte que lance políticas", o que significa que este governo, em sua opinião, evidencia sensíveis fragilidades e que, deduzo eu, o campo da austeridade pela austeridade apenas agravou a situação herdada. Em que ficamos? Pergunto-lhe, então, neste contexto e uma vez mais, se faz algum sentido, chamar para um "compromisso", de governo ou de legislatura, aqueles que, no seu entendimento, foram os culpados, os mais gastadores e sem sentido de Estado, aqueles que conduziram "o país à maior dívida da sua história"? Que incoerência política, Caro José Manuel!
Meu Caro
José Manuel Rodrigues,
Somos Amigos há muitos anos. Julgo que a consideração e estima pessoal é mútua. Respeitamo-nos com as naturais diferenças de pensamento político. Sou por políticas de esquerda, de respeito pelo ser humano, o meu Caro pertence à direita política que se esqueceu do seu ideário democrata-cristão. Mas isso não significa que não nos entendamos e nos respeitemos. É essa forma de estar na vida e no exercício da política que me leva a escrever estas linhas ao correr do pensamento. Que gostaria que fossem interpretadas de forma séria, sem interesse colateral em função da proximidade das eleições autárquicas. Se ler estas linhas considere-as como se estivéssemos numa conversa informal, em tempo quente, em todos os sentidos, com uma cerveja pelo meio.
Meu Caro, politicamente, não é sério, nem justo, que assuma que foi o PS "que conduziu o país à maior dívida da sua história". Repito: não é sério, nem justo. A declaração pode servir interesses políticos mediáticos, na cavalgada pelo poder, mas não tem sustentabilidade. Sabe, tão bem quanto eu, que o governo do Engº José Sócrates, no primeiro mandato, reduziu um défice de 6.83% para menos de 3% e com quatro factores que não devem ser escamoteados: crescimento económico, substancial aumento dos benefícios sociais, política de abertura aos mercados externos (exportações) e aposta nos sectores estratégicos, concretamente, na educação/ciência e energias, entre outras. Não lhe vou dar exemplos, porque o meu Amigo sabe que assim foi. E sabe também que a avassaladora crise, a pior dos últimos oitenta anos, colocou muitos países em situação complexa. Os países com maiores debilidades estruturais foram os que mais sofreram. A nossa taxa de analfabetismo, insucesso, abandono, défice no campo profissional e quase 2,5 milhões de pobres (INE) foram determinantes para impedir o esbatimento das consequências do gigantesco tsunami económico e financeiro. Independentemente das circunstâncias internas, peço-lhe que olhe, por exemplo, para Espanha, que tinha superavit nas contas públicas e como ela está hoje, entre tantos outros países que andam de angústia em angústia. A crise portuguesa tem, portanto, origem externa, o que não significa que não tivessem sido cometidos erros. Qual o governo que não os comete(u)? Porém, não se me afigura sério que apenas se olhe para um dos pratos da balança e que, politicamente, se esconda o peso do que de bom foi concretizado.
Ora bem, mas se esse foi, no seu entendimento, um mau período de governação, o que dizer do governo a que o seu partido pertence que de uma riqueza do País que estava a cair 0,9%, em 2011, hoje, cai 4%; que dizer do seu governo cuja taxa de desemprego era de 12,1% e que passou para 17,6%; onde a dívida pública era de 107% do PIB e passou para 127% e que continua em acelerado e preocupante crescimento; onde o défice estava em 8% e que hoje é de 10,6%? Caro José Manuel Rodrigues, permita-me que lhe diga, uma vez mais, não está a ser sério, quando conhece, porventura melhor do que eu, todas as promessas feitas aos portugueses pelos partidos da coligação PSD/CDS, nessa ânsia apressada de chegar ao poder ou ao "pote" conforme se queira interpretar. Em dois anos de governo, o José Manuel Rodrigues sabe que esta coligação deu cabo do País, intencionalmente empobreceu-o, castigou-o com impostos e taxas pavorosas, maltratou os reformados e pensionistas, conduziu o povo a um novo ciclo de emigração e de um PEC IV, negociado com as mais altas instâncias europeias e com o "selo" de garantia de Merkel, hoje, andará pelo PEC quinquagésimo se somarmos as medidas desde então tomadas!
Não é sério quando assume e critica que "o PS criou o problema e não quer fazer parte da solução". Pelo contrário, quem criou o problema, à luz dos dados que acima lhe deixo, é que deve resolvê-los. E relembro-lhe as palavras de Paulo Portas, em Março de 2011: "o PS não é parte da solução, é parte do problema". Depois do descalabro da governação social-democrata/centrista e da posição de Portas fará algum sentido pedir, aos para si "culpados" da situação, uma bóia de salvamento político, ao jeito de repartição da factura dos estragos feitos por clara impreparação para governar? Relembro, também, que foram legitimamente eleitos após chumbarem, na Assembleia da República, o PEC IV e o governo foi empossado pelo Presidente da República, com um programa de "salvação nacional". Prometeram resolver o problema do País sem esfrangalhar o já de si pobre tecido social. Foi o que vimos! Mas, o curioso, José Manuel Rodrigues, é que ao mesmo tempo que responsabiliza o PS, também diz que "é necessário ter um governo mais forte que lance políticas", o que significa que este governo, em sua opinião, evidencia sensíveis fragilidades e que, deduzo eu, o campo da austeridade pela austeridade apenas agravou a situação herdada. Em que ficamos? Pergunto-lhe, então, neste contexto e uma vez mais, se faz algum sentido, chamar para um "compromisso", de governo ou de legislatura, aqueles que, no seu entendimento, foram os culpados, os mais gastadores e sem sentido de Estado, aqueles que conduziram "o país à maior dívida da sua história"? Que incoerência política, Caro José Manuel!
E quanto a eleições antecipadas, ao sublinhar que elas "só viriam a agravar a situação do país em termos financeiros", desculpar-me-á mas penso que se trata de uma afirmação sem qualquer consistência e apenas para consumo dos menos esclarecidos. Agravar em que aspecto? É tão legítimo pensar dessa forma como eu presumir que, através de um confronto político, os "mercados" repensariam a sua estratégia de exploração e de esmagamento dos países. É preciso sustentar aquilo que se afirma. Eu não entro nesses domínios da discussão, em função de uma complexidade que não domino, mas estou certo que há uma absoluta necessidade de uma nova ordem internacional, que Christine Lagarde não pode dizer hoje uma coisa e, amanhã, o seu contrário, e que à Europa, dominada pela onda neoliberal, comilona e insaciável a que o seu partido pertence, devem os países mostrar os dentes. Repito: mostrar os dentes! Sabe, não devemos ser eternos "bons alunos". É tempo de sermos bons professores! Temos que nos dar ao respeito, em função de quase novecentos anos de História. Hoje, não se empresta dinheiro, vende-se dinheiro. E o dinheiro que nos venderam, tem de ser restituído, é certo, mas de forma (re)negociada e com taxas de juro que não signifiquem o estrangulamento de dez milhões e de outros por essa Europa fora.
Mas ainda sobre as eleições antecipadas, a talhe de foice, questiono o meu Amigo, fazendo um zoom à Madeira, se a sua tese corresponde ao mesmo princípio, isto é, que elas também aqui não se justificam? Com uma dívida (impagável) estimada em mais de oito mil milhões (com as PPP), com 25.000 desempregados, empresas em falência, pobreza em crescimento, será, pergunto-lhe, que a nossa situação se agravaria com eleições antecipadas? Dir-me-á que são dimensões diferentes do problema. Respondo-lhe, tal como Cunhal disse a Soares: "olhe que não... olhe que não". A embrulhada é a mesma, a pouca-vergonha política por aqui é pior que a da República, daí que, eleições para colocar esta gente a andar justifica-se, sendo para tal necessário um pingo de responsabilidade por parte do Presidente da República, figura que está em Belém com o apoio do CDS/PP, convém lembrar. A não ser que esteja a pensar numa coligação com o PSD-M! O mesmo lhe digo, relativamente, ao governo de Passos/Portas, completamente desacreditado, onde só a devolução da palavra ao povo poderá trazer alguma esperança. O meu Amigo não as deseja, eu compreendo, porque sabe o que vale o CDS de lá e o CDS de cá; sabe que o desastre eleitoral para o CDS será catastrófico, porque poucos perdoarão o que fizeram durante estes dois anos de tormento pela sistemática agressão aos mais elementares direitos das pessoas.
Sem me afastar deste meu desabafo, porque as palavras são como cerejas, em Maio passado li, no Expresso, um artigo de Paulo Gaião com o seguinte título: "Porque é que o CDS não aprovou o PEC IV". Ele traz à colação Lobo Xavier que chamou "aprendiz de feiticeiro" a Passos Coelho e onde sublinha que o CDS "é especialista nestes revisionismos históricos, em que só os outros saem mal na fotografia". O autor, mais adiante, transcreve o que é contado no livro "Resgatados", de David Dinis e Hugo Filipe Coelho (editora Esfera dos Livros), sublinhando que "muita gente no PSD, ainda que por diferentes razões, pôs as mãos na cabeça quando Passos anunciou que ia rejeitar o PEC IV. Durão Barroso telefonou ao líder do PSD para o demover: "Não pode chumbar isso. Já foi muito discutido. Esteve aí uma missão da Comissão Europeia e do BCE a preparar tudo". "Isto com a Grécia foi horrível, se você puder evitar isso é o mais importante. Depois terá uma oportunidade (...)". Eduardo Catroga tinha uma visão diferente mas também era contra o chumbo do PEC IV, como se refere no mesmo Resgatados. Em telefonema a Passos, Catroga disse ao líder do PSD: "Se eu fosse a si, ainda viabilizava mais este, porque isto vai rebentar mais à frente, antes do fim do ano. Aguente e o Sócrates cai para a casa dos 10% e, então, fica bem enterrado". O CDS quer engalfinhar os laranjinhas. O problema é a bomba ao retardador também o atingir (...) o velho problema do CDS quando começa a fazer piruetas muito ousadas e morde a própria cauda". É este tipo de política, Amigo José Manuel, que repudio. Você conhece o bas-fond da política e mais não lhe digo, porque seria ensinar o "Pai Nosso ao vigário".
Caro José Manuel Rodrigues, eu compreendo a sua angústia pela proximidade de um acto eleitoral onde decidiu jogar tudo e cujos tiros podem sair pela culatra. Não se convença da expressão eleitoral das últimas legislativas que lhe garantiu nove deputados. O PS também já teve dezanove embora num outro contexto. Quando tive algumas responsabilidades políticas sabia que quando o PS por lá andava bem, na Madeira crescíamos; a contrária também foi sempre verdadeira. No seu caso, presumo, que o mesmo se verificará. O desastre da governação nacional (PSD/CDS) terá repercussões no seu partido ao nível regional, apesar de alguma condescendência que venho a verificar na crítica política em relação ao PSD. Parece-me óbvio que sofrerá as consequências da péssima governação nacional. É a vida! O que não me parece de bom tom político é a dissimulação, é responsabilizar outros por incompetências provadíssimas, é querer estar no poder sem apoio social, é ter um discurso na República e outro na Madeira. Isso, não aceito.
Meu Caro, um dia destes falamos com uma cerveja pelo meio. Talvez ajude a afogar as suas "mágoas". As minhas expresso-as neste blogue, porque há um tempo para fazer política e um tempo para reflectir o que vai acontecendo em nosso redor.
Um abraço de Amizade.
Ilustração: Google Imagens.
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