Não sei se se trata de uma relação de causa-efeito, mas a carta do leitor ontem publicada no DN-Madeira, pelo Dr. Ricardo Vieira (ex-lider do CDS local) pareceu-me uma deliberada resposta à posição do Dr. Cabral Fernandes (ex-líder do CDS local). O Dr. Cabral Fernandes entendeu dizer, publicamente, que não apreciava a posição do seu partido, porque o essencial destas eleições autárquicas, para além da capacidade dos candidatos, obviamente, é tentar acabar com 37 anos de jardinismo. E transmitiu a ideia que o CDS-M não tinha percebido essa dimensão ao afastar-se da coligação pela "Mudança". Por isso mesmo, porque está em causa um regime velho, caduco e que se mostrou destruidor dos equilíbrios que a Região deveria ter (basta olhar para os indicadores e para a dupla austeridade) votará na "Mudança". Do meu ponto de vista, tem toda a razão. A sua decisão coloca em evidência a sua inteligência política que se apresenta muito para além dos interesses meramente partidários. O Dr. Ricardo Vieira, pelo contrário veio falar de "contra-senso", denunciando que se arrepia quando pensa numa "coligação onde se deitam na mesma cama inimigos viscerais". E diz mais, o que para mim é espantoso: "o aliciamento de derrubar o que resta do partido maioritário não é razão suficiente nem necessária para deitar fora memórias e valores!". E aqui questiono, politicamente, o Dr. Ricardo Vieira, mas quais memórias e quais valores? Esquece-se das ofensas feitas contra a sua pessoa? Já não digo contra o seu partido, mas contra a sua pessoa? Esquece-se das ofensas relativamente ao seu Pai? Esquece-se da dívida pública de mais de 6.3 mil milhões de euros (fora as PPP) e o que ela significa de sofrimento para todos os madeirenses e portosantenses? Esquece-se do caudal de ameaças, perseguições, ofensas, insultos e prateleiras, ao longo de tantos anos, contra tantas pessoas de reconhecido mérito da nossa sociedade? Esquece-se o Dr. Ricardo Vieira do que está a acontecer a quase todo o tecido empresarial? Mas se, eventualmente, está a referir-se às "memórias e valores" do seu partido político, ainda assim questiono, então, que razões substantivas levaram a coligar-se com o PS-M naquele ano autárquico de 1989? Ano que, por pouco, essa coligação não ganhou? E em 2001? Pela proximidade ideológica, certamente que não foi!
Desejará o Dr. Ricardo Vieira continuar a assistir a actos como este, o de rasgar o DN por não lhe ser subserviente? |
Depois, com toda a sinceridade, considero que constitui uma ofensa aos membros da Coligação "Mudança", pessoas oriundas da sociedade, a esmagadora maioria sem passado político e partidariamente activo, falar de um "albergue espanhol" do qual emerge, segundo referiu, a confissão da "incapacidade para, por si sós, lá chegarem". Trata-se de um deslize da sua parte porque, creia, que não é, Dr. Ricardo Vieira, nem uma coisa nem outra. O Dr. Ricardo Vieira sabe, mas tenta esquecer, a monstruosa teia de interesses, controlos e de medos gerados na Madeira que têm cristalizado qualquer hipótese de crescimento de uma alternativa. Portanto, essas pessoas merecem respeito pois não pertencem nem integram um albergue nem são incapazes. Pelo contrário, são pessoas de valor, desprendidas, experientes e que interpretam a política como um serviço público à comunidade. Não estão ali por carreirismo, porque é capaz de dar jeito às suas vidas pessoais e profissionais. Basta olhar e identificar que todos têm a sua profissão e sucesso familiar e profissional. E sendo assim, o que o Dr. Ricardo Vieira deveria aplaudir é o facto de seis partidos terem aberto as suas portas à sociedade, conjugando os pontos comuns e ultrapassando as naturais diferenças. Esse é o grande exemplo de abertura e de cidadania que marcará estas eleições. Vergar-se, Dr. Ricardo Vieira, NUNCA. Se a coligação não sair vitoriosa todos eles regressarão às suas vidas profissionais de onde, aliás, nunca saíram.
Por fim, espero que PSD e CDS "não se deitem na mesma cama"!
Tenho pelas duas figuras aqui referidas, o Dr. Cabral Fernandes e o Dr. Ricardo Vieira, a maior consideração e estima pessoal, mas não poderia deixar de dizer, pública e democraticamente, a minha discordância pela "carta do leitor" escrita pelo Dr. Ricardo Vieira.
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