A última sondagem publicada pelo DIÁRIO encheu-me de uma esperança que classificaria de moderada. No Funchal os números apontam que tudo poderá acontecer, desde uma vitória muito clara de Paulo Cafôfo a uma indesejável continuidade do regime que nos trouxe a esta situação. Para mim, não sendo estranho, causa-me perplexidade, depois de 37 anos de poder do PSD, que ainda existam 34% de pessoas que, segundo a sondagem, ainda afirmam votar no PSD. Gera algum espanto, confesso. É evidente que sei da complexa máquina de produzir votos, os múltiplos e intrincados cordões umbilicais que se cruzam entre juntas de freguesia, casas do povo, associativismo, subsidiodependências, poderes privados, a propaganda feita através do Jornal da Madeira, o silêncio do Senhor Bispo em tantas matérias, a apatia do Senhor Representante da República, o deixa andar dos Órgãos de Soberania, a força do discurso mentiroso tornado verdade absoluta, a intencional mentalidade que foi formatada por diversos caminhos que a "inteligência" criou, enfim, aquela percentagem explica senão no todo uma grande parte dos condicionamentos. Não é normal que um povo com milhares de desempregados, que se confronta com a pobreza e com gritantes desigualdades, que todos os dias esperneie face às agruras da vida, continue a entregar ao senhorio a vergasta para gáudio dele e sofrimento das suas vidas. Não é normal, repito.
Paulo Cafôfo é a grande esperança |
O normal seria colocá-los a milhas, experimentando outras oportunidades, trazendo para a liderança pessoas e projectos prenhes de esperança. O normal seria que os milhares de desempregados e respectivas famílias reagissem e, neste momento, Bruno Pereira tivesse uma percentagem quase residual, mesmo com inaugurações e "Tony's Carreiras" pelo meio. E regresso ao princípio, ou as pessoas não foram sinceras quando questionadas pela empresa de sondagens e, se assim for, o PSD será apeado do poder, ou então entramos no domínio patológico do voto. Repito, com algum optimismo moderado, estou em crer que, desta vez, porque se trata de um pico de descontentamento que "cheira" à distância, pelas vulnerabilidades políticas, pelos constrangimentos que invadem toda sociedade fruto da dupla austeridade imposta, pela existência de uma liberdade mitigada, de uma Autonomia perdida, no fundo, pela falência da Região, o povo acabará com os mitos que têm rodeado o exercício da política regional.
Ainda ontem o Padre José Luís Rodrigues escreveu um artigo de relevante importância que pode ser aproximado à Madeira, àquilo que decorre sob os nossos olhos de actores/observadores: "(...) Olho a realidade à volta e retenho o que de pior me surge para dizer, mais do mesmo sempre. No entanto, mais adiante consola-me o sonho dos poetas que nunca desistem mesmo que o mundo os mate, porque os poetas só morrem por causa do mundo, em luta com a ditadura do mundo. Este mundo concreto de homens e mulheres extraordinários, mas outros e outras, carrascos que se alimentam da destruição dos outros, semeando a crueldade do sofrimento e da morte. Mas, é mão destes que também quero morrer. Isto é, na luta imparável com a ditadura do mundo. Não me peçam para desistir dessa luta. (...) eles são políticos, banqueiros, capitalistas, corruptos, vilões da grande injustiça, ladrões, aldrabões, egoístas, gananciosos, corruptos e todos os que matam o «alimento» que é a poesia. (...) A injustiça não tem nenhuma entidade que a combata. Por conseguinte sou também daqueles que defendem que desatar as iras da ditadura do mundo, não é garantia de que as coisas ficarão bem, mas é melhor do que os louvores, as palmas e palmadas nas costas, as condecorações e tantos salamaleques que atribuem os senhores do tempo aos senhores do templo". O mundo de que fala o Padre José Luís Rodrigues é o nosso "mundo", o mundo também da Região, pelo qual temos de ser poetas, pensadores do futuro e lutadores "contra "a ditadura do mundo"... do nosso pequeno mundo!
E no meio disto, vem o Dr. Bruno falar da "governabilidade da Câmara do Funchal" que não pode ficar à mercê de "arranjos". Repetiu, por palavras mais decentes, o que o seu "chefe" partidário disse junto a um copo de sidra: "não se pode entregar um País na mão de garotada". Quis, certamente, falar da Região, porque o ambiente é de eleições aqui. Subtilmente falou do País. Politicamente, jogou uma espécie de bilhar às três tabelas onde é Doutor! Transmitiu o medo, o sentimento de dúvida, enquanto Bruno Pereira falava de "arranjos"! Mas quais arranjos? Então durante 37 anos o exercício da política não foi de permanentes arranjinhos a todos os níveis? Essa, NÃO!
Ilustração: Google Imagens.
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