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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A REFORMA DO ESTADO OU UM ESTADO NA REFORMA?


Li o último artigo de Clara Ferreira Alves na revista do Expresso. A páginas tantas salienta: "(...) a reforma do Estado, acho, sinceramente, que apenas quer dizer que o Estado se vai retirar da vida dos portugueses e passar a ser uma sombra fantasmagórica, um velho num banco de jardim, cheio de antidepressivos e alimentado por marmitas das senhoras caridosas e outras organizações cristãs. O Estado vai passar à reforma, retira-se da vida pública e, como todos os reformados, vai viver na miséria e no silêncio. É isto a reforma do Estado. (...) Tratando-se do Estado português na reforma, tudo o que se pode esperar são no máximo € 700,00 sujeitos a impostos. E a obrigação de alimentar os filhos desempregados e os netos (...)". Muitas vezes dou comigo a pensar que, porventura, eu é que estou a ver mal o problema. Mas há tantos outros a escrever. Fico consolado, mas revoltado.


Estes indivíduos que dizem governar o País têm de ser postos a andar. E quanto antes. Dos cortes nos salários, aposentações e pensões o Tribunal Constitucional que analise e diga de sua justiça. O que sabemos é que roubo continua, que estamos a saque e indefesos. Uns continuam a enriquecer, sem mexerem no produto, outros engrossam a fila da pobreza. Uns têm de se aposentar aos 67 anos, mas o da troika, um dos que nos inferniza e nos condena à pobreza, de nome Jürgen Kröger, pôde fazê-lo aos 61 anos, com 30 anos de trabalho (cerca de € 10.000,00/mês) e com um contrato de mais um ano de trabalho (extra reforma) a valer € 469,00 por dia de trabalho. Inverter esta situação só os colocando a milhas e fazendo valer a voz da contestação nessa Europa que vê, mas faz que não está a ver. O nosso problema, disse ontem Manuel Alegre, no Jornal I, é o "governo ter impunidade absoluta" com o apoio de Cavaco, claro. É essa impunidade que é preocupante. 
De mansinho, com pezinhos de lã, esta gentalha vai colocando o nosso País ao seu jeito. Na Educação e na Saúde, sistemas determinantes no Portugal nascido de Abril, operacionalizam, com total descaramento, cortes aqui e outros ali, ao ponto de, hoje, esse direito começar a ser uma miragem para os portugueses. Na Educação é sensível o frenesim pela privatização. Para o ministro ultra liberal Nuno Crato, o pior ministro desde os governos provisórios, consequência da sua veia ideológica, a Educação assemelha-se a este tempo de castanhas assadas entre duas mãos. Há que soltá-las antes que queime. Incapaz de reorganizar o sistema, no âmbito do direito constitucional, há muito que denuncia querer se libertar das escolas e dos professores. Quanto maior for a privatização melhor. Trata-se, do meu ponto de vista, do maior ataque à Escola Pública, ao mesmo tempo que força e lança professores contra professores. O desespero de muitos, atirados para fora do sistema, tenderá ao aparecimento de escolas privadas, para o desrespeito pelas carreiras e, naturalmente, pelas remunerações. No essencial, pensará, esse é um problema deles, dos professores. Desastre para as famílias é o que vem a caminho. 
Na Saúde serão menos 282 milhões de euros no orçamento de 2014, facto que, obviamente, colocará os portugueses, cada vez mais, a sentirem o efeito dos cortes. Uma coisa é o rigor, a disciplina, a poupança em tudo o que é possível fazer com qualidade, mas com eficácia; outra, é cortar, de forma cega, desde os recursos humanos (médicos, enfermeiros e todo o restante pessoal) aos encargos de funcionamento do sistema. Subtilmente, estão a empurrar os portugueses para as seguradoras e para as clínicas privadas com todos os encargos que daí derivam. Esquecem-se que nós pagamos altos impostos, pagamos IRS no pressuposto que é aí que se faz a justiça fiscal, para que seja garantida a acessibilidade aos serviços, todavia, depois, voltamos todos a pagar para garantir aquilo que a Constituição define como um direito social. 
A propósito, li o último artigo de Clara Ferreira Alves na revista do Expresso. A páginas tantas salienta: "(...) a reforma do Estado, acho, sinceramente, que apenas quer dizer que o Estado se vai retirar da vida dos portugueses e passar a ser uma sombra fantasmagórica, um velho num banco de jardim, cheio de antidepressivos e alimentado por marmitas das senhoras caridosas e outras organizações cristãs. O Estado vai passar à reforma, retira-se da vida pública e, como todos os reformados, vai viver na miséria e no silêncio. É isto a reforma do Estado. (...) Tratando-se do Estado português na reforma, tudo o que se pode esperar são no máximo € 700,00 sujeitos a impostos. E a obrigação de alimentar os filhos desempregados e os netos preguiçosos que não saíram da sua zona de conforto. (...)". 
Muitas vezes dou comigo a pensar que, porventura, eu é que estou a ver mal o problema. Mas há tantos outros a escrever. Fico consolado, mas revoltado.
Ilustração: Google Imagens.

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