Do que é conhecido, porque a História divulgará muito mais, a Europa tem, como Presidente da Comissão, um pau mandado. Serve os interesses ideológicos instalados. É evidente que existem contextos e as decisões são tomadas em função das análises do momento. Todavia, existe sempre uma linha, a tal linha que separa a honestidade política do andar ao sabor das marés! Ora, nos últimos dias, confrontamo-nos com duas posições: a de José Sócrates, numa entrevista ao Expresso, a propósito do PEC IV e do derrube do governo, na qual explica e elogia a posição do Dr. Durão Barroso nesse processo; e as declarações desta mesma figura, no início desta semana, que, genericamente, apontam no sentido inverso. Antes, exclamou "conseguimos"; agora, "Portugal não pode deitar tudo a perder", porque, se trocar o passo, mais austeridade virá a caminho. Temos assim, Durão e Barroso, duas caras e duas atitudes. Percebo, cada vez mais, o que Henry Kissinger, um membro permanente de Bilderberg, terá dito sobre Durão: é "indiscutivelmente o pior primeiro-ministro na recente história política. Mas será o nosso homem na Europa".
Narrou José Sócrates: "(...) Quando cheguei a Bruxelas, pedi o apoio da Comissão e do BCE, por escrito. O Barroso achou, como eu, que estava feito. Só faltava o papel, que os serviços do Barroso foram fazer. Aquilo foi discutido no Conselho e decidiu-se que Portugal não ia pedir ajuda. Houve uma intervenção manhosa do primeiro-ministro da Holanda, e eu, muito irritado, até lhe pedi que ele dissesse quanto é que Portugal lhe devia, porque não estava para ficar-lhe a dever um tostão nem aturar-lhe o calvinismo reles. Nunca tinha havido uma discussão daquelas no Conselho, e ele calou-se. É votado, e a Merkel vira-se para mim e diz: parabéns! O Barroso diz: conseguimos! Estava genuinamente satisfeito, e eu estava mais aliviado. Veio o Trichet, e eu disse-lhe que havia que estar de olho nos mercados. Desde que aprovássemos o PEC4, diz o Trichet, apoiar-nos-iam. Às quatro de cá ou cinco e meia de lá, o Barroso avisa-me, surpreendido, que o PSD vai chumbar isto. Telefono para Lisboa e sei que o Passos Coelho vai convocar uma conferência de imprensa. O Barroso sabia o que isto nos tinha custado. Os filhos da mãe da direita em Portugal deram cabo de uma solução apenas para ganharem eleições. Nunca contei com isto."
Entretanto, Durão Barroso disse esta semana: "(...) Nunca critiquei o Tribunal Constitucional". Limitei-me a "salientar as possíveis implicações de determinadas decisões" do Tribunal Constitucional, simplesmente porque "Portugal não pode deitar tudo a perder". Isto é, ou deixam passar esta vergonhosa austeridade ou, ponham-se a pau porque será ainda pior. Esqueceu-se, assim, das negociações primeiras, o que me dá a entender que, politicamente, é uma espécie de catavento. A Europa está assim.
Mas interessante é ter presente que, no início, a troika prometia um crescimento acumulado de 4,1% de 2012 a 2015. A verdade porém, é que a austeridade não pára e Bruxelas quer cortar mais 1,6 mil milhões de euros em 2015. O mesmo Durão que, aquando do PEC IV, segundo o que li, apoiou Sócrates, Merkel e o BCE (reunião de Berlim) no sentido de inviabilizar a entrada da troika em Portugal, é o Barroso que agora assume o contrário. Que mundo de incoerentes, falsos e de aldrabões políticos que falam de forma convicta, passando uma esponja sobre o passado. Chamo a isto aldrabice discursiva. Não tenho outra leitura política.
E o Povo aguenta! Até quando, não sei.
Ilustração: Google Imagens.
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