A segunda frase: "a população da Madeira não lê jornais". Espantoso. Se não lê que razões o levam a estar preocupado com o DIÁRIO e com a família Blandy e que razões o levam a pôr os madeirenses a pagar três milhões anuais ao Jornal da Madeira? Então, o que o leva a rasgar, à frente de todos, o DIÁRIO? Como justifica mais de 50 milhões transferidos para o JM, em vinte anos, para, ainda por cima, esse jornal ter um passivo superior a trinta milhões, segundo o que foi publicamente divulgado? Mas esta história da população não ler, conduz-me a uma outra leitura: que raio de sistema educativo liderou para, depois de quase quarenta anos, o hábito cultural da leitura, o direito de ser informado, a preocupação pelo conhecimento que não se esgota nos jornais tenha os níveis que tem, o que constitui uma angústia para professores e toda a sociedade? É por isso que, sempre o disse e escrevi, que a grande obra, a obra do e no ser humano está por fazer. E essa obra que não foi feita é, do ponto de vista social, UM CRIME!
O ainda presidente do governo regional da Madeira, em entrevista à RTP-Informação (repetida, ontem, pela RTP-Madeira, ao final da tarde - o JM não teria feito melhor), a propósito da austeridade e dos resultados eleitorais, sublinhou duas frases política e absolutamente "fantásticas": "estou tão insatisfeito como o povo" e "a maior parte da população da Madeira não lê jornais". De resto, toda a entrevista, de 45', versou sobre assuntos requentados, superficiais, no meio de outros absolutamente marginais. Nada de novo, nem para os que vivem na Madeira, nem para os portugueses do Continente. Mas aquelas duas frases, do meu ponto de vista, têm muito que se lhe diga. A primeira, deliberadamente, misturando-se com o povo, com a tal "pata-rapada" e "cachorros", frases que um dia deixou escapar, deu a entender que não tem nada a ver com o desastre económico, financeiro, social e cultural da Madeira. Lavou as mãos com água suja benzida pela sua política. Como se a Madeira não tivesse órgãos de governo próprio, uma Assembleia Legislativa e um governo! Como se a Madeira não tivesse um Estatuto Político-Administrativo próprio e como se não fosse possível governar com esta Constituição! Como se não tivesse desfrutado dos muitos milhões da Europa e da responsabilidade nacional! Como se o desastre na Educação e nos Assuntos Sociais em geral e, na Saúde, em particular, fossem culpa de Lisboa! Como se a Constituição da República o tivesse alguma vez impedido de fazer piscinas (que não funcionam), um campo de futebol por cada 7.000 habitantes, um heliporto que não funciona, uma marina no Lugar de Baixo e tantas e tantas obras megalómanas e não prioritárias. Como se a Constituição o tivesse impedido de ter melhor escola e melhor saúde, bem como apoios concretos aos idosos, através de verbas inscritas no Orçamento Regional. Como se a Constituição o tivesse impedido de ter na Madeira um Plano de Ordenamento do Comércio! Como se a Constituição o tivesse amarrado a não cumprir os vários instrumentos de planeamento! Como se a Constituição o tivesse limitado nas políticas de turismo. Eu diria, por aquilo que escutei, o político jogou sempre à defesa e com muitos pontapés claramente para as bananeiras. Lisboa é a culpada de tudo. Eu que sou um português de profundas convicções autonomistas, escutei aquilo e repeti, tal como ele, a páginas tantas disse: vai mas é dar uma volta ao bilhar grande! "Insatisfeito como o povo", uma ova.
A segunda frase: "a população da Madeira não lê jornais". Espantoso. Se não lê que razões o levam a estar preocupado com o DIÁRIO e com a família Blandy e que razões o levam a pôr os madeirenses a pagar três milhões anuais ao Jornal da Madeira? Então o que o leva a rasgar, à frente de todos, o DIÁRIO? Como justifica mais de 50 milhões transferidos para o JM, em vinte anos, para, ainda por cima, esse jornal ter um passivo superior a trinta milhões, segundo o que foi publicamente divulgado? Mas esta história da população não ler, conduz-me a uma outra leitura: que raio de sistema educativo liderou para, depois de quase quarenta anos, o hábito cultural da leitura, o direito de ser informado, a preocupação pelo conhecimento que não se esgota nos jornais tenha os níveis que tem, o que constitui uma angústia para professores e toda a sociedade?
É por isso que, sempre o disse e escrevi, que a grande obra, a obra do e no ser humano está por fazer. E sempre o disse, embora pareça perverso, que aquela terá sido a sua preocupação, isto é, que uma população educada (não apenas escolarizada) dificultar-lhe-ia a sua vidinha política. Daí o deixa andar. Lembro-me, por exemplo, em Câmara de Lobos, já tem uns anos, na visita oficial de Cavaco Silva, ter dito a um jovem que tinha "chumbado" o ano: não te importes, eu também chumbei e hoje sou presidente do governo! Não foram exactamente estas as palavras, mas este o sentido. Fiquei esclarecido. Eu diria que pela "boca morre(u) o peixe". Portanto, deixará o governo com uma pesadíssima herança, já que a EDUCAÇÃO é determinante no futuro de qualquer povo.
Acessoriamente, no decorrer da entrevista, abordando as greves, mostrou-se contra a sua realização, pelo menos de algumas! Mas, curiosamente, o seu governo garante tolerâncias de ponto, até para o rali Vinho da Madeira, já sugeriu uma greve de zelo, onde os funcionários públicos comparecessem ao serviço mas não trabalhassem (DN de 28 de Fevereiro 2008) e apoiou a greve da Função Pública em 28.11.2007. Mas também disse, em 28.06.2013 que "só fez greve quem mesmo não quer trabalhar". Também por aqui se deduz que funciona de acordo com o quadrante do vento político. Nisto e em tudo. Uma tristeza e que tempo perdi ao seguir 45' de paleio!
Ilustração: Google Imagens.
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