"Não há razões para termos saudades da Escola do Passado" - Professor Doutor Manuel Jacinto Sarmento. O problema é saber o que pensa o Secretário Regional da Educação sobre esta e outras matérias! Saberá? Ser governante é muito mais que entrar às 09 e sair às 18:00!
Tenho andado a ler e a reler a entrevista do Professor Doutor Manuel Jacinto Sarmento, Professor Associado com Agregação do Instituto de Educação da Universidade do Minho e Director do Departamento de Ciências Sociais da Educação. É Doutorado com a tese "Lógicas de Acção: Estudo Organizacional da Escola Primária". A entrevista, conduzida por António Baldaia, foi publicada na edição de Outono 2013, da revista A Página da Educação. É uma entrevista notável. São sete páginas de sabedoria, em contraponto com tanto aprendiz de feiticeiro que nos rodeia no sistema educativo. Deixo aqui três respostas a questões colocadas pelo jornalista:
- "Estamos a falar de uma escola ao serviço de uma estratégia de estratificação e elitização social?
Sim... Só que aqui não há propriamente uma lógica instrumental: pensar como melhor destruir a Escola para todos e garantir a Escola estratificada e dualizada. Creio que não é essa a concepção ao nível do poder político, é antes uma ideologia que se difunde, muitas vezes como senso comum. Associar a Educação ao mérito, o mérito ao esforço, o esforço às aprendizagens básicas, é uma ideia que se difunde, que evolui e que precisa de ser desconstruída. Esse é o grande esforço que as ciências da Educação têm de fazer - a desconstrução das ideias do senso comum, que nascem sempre em função de representações compatíveis com modelos de sociedade estratificada, desigual. Desconstruir isso e propor uma educação efectivamente compatível com as necessidades, os interesses e os anseios de todos.
- Dois anos depois de ter escrito o Cratês em discurso directo, que balanço faz da actuação do ministro?
O Cratês, enquanto ideologia neoconservadora, coligada com concepções neoliberais expressa por Nuno Crato, nunca terá aderência à realidade. A ligação dessa ideologia com a realidade das escolas é extremamente débil. Portanto, não podemos encontrar em Nuno Crato ministro a expressão daquilo que ele é enquanto ideólogo, por consequência directa das próprias contradições do cratês. Aquilo não é de facto aplicável. Quer dizer, não pode chegar ao Ministério da Educação e implodir o ministério... pode é reforçar a burocracia, como o fez. Portanto, nós temos um ministro que imaginou um mundo com o qual se confrontou, e que efectivamente não tem nenhuma consistência, e tentou sempre soluções de continuidade, estratégias que lhe fossem permitindo sustentar o seu sistema de crenças, numa realidade que continuamente lhe escapava. E a consequência disso foram medidas mal preparadas, inconsistentes, inarticuladas e funestas. Eu acho que Nuno Crato, dois anos depois, consegue ser o pior ministro de todo o período democrático. Claramente.
-Um balanço negativo, portanto...
Foi completamente destruído todo o subsistema de Educação de adultos: acabou com os centros de Novas Oportunidades, limitou muito fortemente o acesso aos cursos de educação e formação... mesmo os cursos de segunda oportunidade para jovens que não andam na escola (PIEF, CEF) estão extraordinariamente reduzidos... seria relativamente pensável que, destruindo uma coisa, outra fosse erguida. Mas não! (...) Não há rigorosamente nada do ponto de vista da melhoria das aprendizagens dos alunos: os programas de formação de professores, a promoção de uma formação de segunda oportunidade, todas as estratégias no sentido do reforço educativo... tudo foi destruído e nada ficou como contraponto, senão o reforço da exigência, com mais exames que vêm revelar uma Escola que prepara menos bem os alunos e que, simultaneamente, reforçam os dispositivos de selecção e de exclusão escolar".
Ilustração: Revista A Página da Educação.
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