Quando li a notícia tive a mesma leitura política do Deputado Carlos Pereira, líder do grupo parlamentar do PS: "A transformação do JPP (Juntos Pelo Povo - S. Cruz) merece reflexão, sobretudo numa altura em que há um glamour particular em torno dos independentes. Agora que esse movimento independente passou a um movimento de militantes importa perguntar o que os move? Mas mais. Que chapéu ideológico transportam? Que referências? Que quadro programático? Talvez a grande pergunta é: a atração da independência partidária perdeu-se ou é isto a participação cívica e todos temos responsabilidades de não diabolizar os partidos porque eles são de facto a chave da democracia? Aqueles que num movimento de independentes vociferaram contra a militância acusando-a, não raras vezes do estado de "coisas", são hoje membros naturais de um partido novo apesar de despido de referências. Só lamento que não se encha os partidos que existem de robustez, de competência e de esperança.... Esta multiplicação é, em meu entender, perversa e, paradoxalmente, favorece o status quo!" Nem mais, digo eu.
Confesso que, em função do quadro político gerado ao longo de vários anos em Santa Cruz e por alguma ausência de estratégia do Partido Socialista, em um determinado período, que levou a que muitos socialistas resolvessem sair das hostes partidárias e abraçarem o citado movimento (conheço o processo), cheguei a nutrir alguma compreensão e, no momento-chave, até simpatia. De resto, conhecia as pessoas liderantes do movimento. Enfim, se "para grandes males, grandes remédios", pensei eu, mais valeria uma equipa vencedora do que uma fragmentação partidária que conduzisse à eternização do PSD-M no poder de Santa Cruz. A JPP fez o seu percurso a partir de Gaula e, na fase crucial, vieram a beneficiar do apoio, sobretudo do PS e do CDS-PP, o que os alcandorou a uma vitória eleitoral autárquica com larga maioria absoluta. Fiquei satisfeito com o resultado. Mas foi "sol de pouca dura" e eis que acabam por dizer à população que tudo aquilo foi engodo. Toda aquela história da independência, do esgotamento político dos partidos, que o povo tem de tomar nas suas mãos a construção do futuro colectivo, blá, blá..., foi apenas uma cortina de fumo.
É óbvio que, democraticamente, estão no seu pleno direito de conjugarem esforços no sentido de se constituírem como partido, porém, não se livram das eventuais leituras políticas. Dessas, repito, não se livram. É Jardim a querer um novo partido porque está farto do PPD/PSD, é a JPP a transformar-se em partido, ora bem, pergunto, se não existirão partidos a mais? Então, há alguns anos atrás, os partidos eram isto e aquilo e, agora, constituem a melhor via para o sucesso? E sabendo que não existem partidos regionais, irão colar-se a quem ou com que interesse nacional, quando o problema é local?
Li no DN-Madeira: "(...) De acordo com Élvio Sousa esse importante documento, em que se funda o partido, vai ser apresentado já no próximo dia 26, numa reunião em Lisboa, o que mostra também a abrangência do projecto. Para já, explica o autarca, é ponto assente que o futuro partido não se vai assumir como de direita, esquerda, ou centro. Será um partido abrangente, sem essa marca limitadora da participação política como defende o Juntos Pelo Povo, agora numa perspectiva nacional". Isto é, serão de esquerda, direita ou do centro conforme as situações e conveniências. Nada de ideologia, nada de pensamento, uma coisa tipo albergue espanhol? Do meu ponto de vista, um projecto destes não tem hipóteses. E logo se verá, porque este tipo de aspirações, embora constitucionalmente legítimas, estão condenadas ao fracasso. Há vários exemplos na recente história da democracia portuguesa que o provam. A ambição paga-se muito cara e com juros incomportáveis. O Povo fez um tratamento à cegueira e começa a ver perto e longe. Mas, enfim, o tempo o dirá. Esta é, apenas, a minha convicção, porque não gostei, nem da forma nem do conteúdo que por agora é conhecido.
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário