O que mais me custa em uma campanha eleitoral é ter de escutar a mentira oferecida em doses industriais de braço dado com a falta de vergonha na cara. É que já não se pode ouvir o senhor "irrevogável", Dr. Paulo Portas, falar de troika e de "bancarrota", como não consigo ouvir o Dr. Passos Coelho, todos os dias, passando culpas como se não tivesse sido primeiro-ministro entre 2011 e 2015. O Dr. António Costa tem razão quando diz que a troika só se irá embora quando estas duas personagens também forem.
Sobre a troika, no sentido da sua contextualização histórica, socorro-me do jornalista do Expresso Nicolau Santos: "o pedido de ajuda aos credores internacionais começa com o chumbo do PEC 4, em 2011, com um conjunto de medidas "que poderiam evitar o pedido de resgate". O leitor que oiça o depoimento que aqui partilho do jornalista Nicolau Santos. Aqui: https://www.facebook.com/joaoandreescorcio/posts/10206178988848681
Mas há mais. O Engº José Sócrates recebeu um país com um défice de 6,83%, após dois governos PSD/CDS, numa altura em que não havia crise alguma nem problema algum na economia e nos mercados. Em 2008, quando terminou o seu primeiro mandato e se apresentou a eleições, o governo de José Sócrates tinha baixado o défice para 2,6% (2007 e 2008), sendo o primeiro em muitos anos a cumprir as regras da União.
A sensação que fico é que há ali, na Coligação, uma explicável fome de poder. O Dr. Passos Coelho já se esqueceu que foi o PSD que criou o famigerado "pagamento especial por conta" que estrangulou os pequenos e médios empresários; que foi a ex-líder social-democrata, que esteve na origem da ruinosa titularização das dívidas fiscais e contributivas ao Citigroup, e que a situação não foi pior tal ficou a dever-se à política de receitas extraordinárias. Isto para não ir mais longe, ao tempo do Professor Cavaco Silva (PSD), enquanto Primeiro-Ministro, (que hoje se arroga defensor do equilíbrio das contas) onde se verificaram os défices orçamentais mais elevados (em 1993, -8,9% do PIB). O Dr. Passos Coelho esquece-se que o défice inferior a 3% foi concretizado sem colocar em causa o apoio social que conheceu, a partir de 2005, um dos maiores e mais consistentes incrementos junto dos mais carenciados da sociedade. Lembro-me, por exemplo, da baixa no preço de 4.000 medicamentos que significou uma poupança para os portugueses de 726 milhões de euros; o Complemento Solidário para Idosos, instrumento poderoso para atenuar a pobreza, na altura, para 200.000 portugueses; o apoio pré-natal; o Salário Mínimo que cresceu 20% nos anos de liderança do PS; o Abono de Família, uma das prestações mais importantes que cresceu 25% no mesmo período. Tratou-se, aliás, do maior aumento de sempre conjugado com o 13º mês desta prestação social; a Acção Social Escolar, baseado nos escalões do abono de família, e que veio a beneficiar milhares de alunos e suas famílias; o apoio à parentalidade, onde a licença passou de cinco para dez dias de licença, acrescido de mais um mês caso o pai ficasse com a criança; a reforma da segurança social permitindo safar o País que se encontrava no abismo para uma situação de garantia de futuro.
Mais, ainda: o PSD esquece-se da conjuntura internacional, essa crise fabricada externamente, que arrastou todo o Mundo, uns países mais do que outros, para uma situação deveras complexa, com os défices a crescerem e a estrangularem as contas públicas. Parece que os olhos continuam sedentos de poder, pelo que não deixam ver que a Espanha chegou, no período anterior à crise, a ter um superavit e logo a seguir à crise, chegou aos 11,4% de défice; a Inglaterra aos 12%, França aos 7,7% e por aí fora. Perante isto, falem e debatam as propostas para o futuro e deixem a mentira e a aldrabice.
Ilustração: Google Imagens.
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