Vive-se um tempo de descrença política. Há uma certa fúria contra os políticos. Há razões para tal, face às atitudes, às mentiras, às aldrabices várias, aos discursos falsos, às promessas não cumpridas, aos casos de Justiça, às obras megalómanas e não prioritárias, aos assaltos à carteira da maioria dos portugueses, enfim, há razões para que todos nos sintamos de pé atrás, quando nos contam, apenas, metade da história. Ainda ontem quando Passos Coelho e Paulo Portas, de visita a um mercado, foram vaiados e confrontados com os lesados do BES e, segundo escutei, por professores, tal aconteceu e, certamente, voltará a acontecer ao longo da campanha, é porque o discurso da mentira foi dominante nestes quatro últimos anos. As pessoas revoltam-se porque exigem decência e transparência no relacionamento e porque se sentem defraudadas nas suas expectativas, por mínimas que sejam. Aos lesados da fraude chamada BES, Passos Coelho acabou por arengar que "se não têm dinheiro para ir lá [tribunal] eu organizarei uma subscrição pública para os ajudar a recorrer ao tribunal". Uma declaração que poderá vir a incendiar ainda mais as relações que são tensas. Porque o que lhe compete não é, depois de ter dito que o BES era uma instituição segura, falar de peditórios, mas exercer a influência política necessária para que o problema tenha uma solução em tempo aceitável. Ao contrário de apaziguar, julgo que incendiou. Basta de peditórios, tantos que seriam necessários. Exigem-se políticas sérias e honestas. É para isso que os actos eleitorais servem.
E, depois, como se aquela posição de Passos Coelho não bastasse, Paulo Portas, "o irrevogável", veio sublinhar que eles (oposição) são assim, que há pessoas a mando de alguns partidos que aparecem para gerar a confusão. Ainda pior, como se o essencial dos problemas apresentados se resolvessem com tiradas daquelas. E o "irrevogável" senhor, mentindo, foi mais longe: "(...) quem chamou estrangeiros, lhes deu poder e autoridade para influenciar as políticas em Portugal foi quem levou o país à bancarrota e chama-se Partido Socialista". Esquece-se que chumbou o PEC IV, esquece-se da crise internacional gerada fora do País e que se tornou avassaladora em toda a Europa, esqueceu-se das suas declarações sobre o "sisma grisalho" relativamente às agressões aos reformados e pensionistas: "(...) Num país em que grande parte da pobreza está nos mais velhos e em que há avós a ajudar os filhos e a cuidar dos netos, o primeiro-ministro sabe e creio que é a fronteira que não posso deixar passar" (...) "Não quero que em Portugal se verifique uma espécie de cisma grisalho, que afectaria mais de três milhões de pensionistas, uns da Segurança Social, outros da Caixa Geral de Aposentações". A verdade é que a fronteira foi ultrapassada, Aceitou o rebuçado de vice-primeiro-ministro e todos conhecemos a história daí para a frente. São, portanto, espécies com a mesma plumagem. Se um diz mata o outro manda esfolar.
Embora assim seja, o que conduz a população à descrença e à tal fúria contra os políticos, considero um erro colocar todos os políticos no mesmo saco. Não são todos iguais. Há Homens e Mulheres na política de um valor extraordinário. Depois, toda a nossa vida depende das boas ou más políticas. Daí que as estruturas políticas sejam importantes. Não as podemos secundarizar. É por isso que, agora, somos chamados a julgar os actores e as políticas dos últimos quatro anos e a eleger os actores e as políticas que se nos afigurem como as eventualmente melhores para os próximos quatro anos.
Ilustração: Google Imagens.
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