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terça-feira, 26 de setembro de 2023

Desprestigiante para nós "animais" e para a "natureza"

 

Há situações geradoras de uma enorme perplexidade política. Pelo menos aqui na Região Autónoma da Madeira, onde há 47 anos consecutivos apenas uma força política tem tido a responsabilidade de governar. E sempre com confortáveis maiorias absolutas, à excepção dos últimos quatro anos onde se tornou necessária uma coligação com um partido que, hoje, não se sabe qual o seu verdadeiro peso eleitoral (PSD/CDS).



E eis chegado o momento que o povo entendeu retirar essa maioria absoluta (mesmo coligada). Para muitos, concluídos os resultados finais, da direita à esquerda, as legislativas regionais de 2023, foram de enorme explosão de alegria. Finalmente, no passado Domingo, abriam-se as portas para um novo tempo, de melhor vivência democrática e de onde podia emergir a possibilidade de experimentar outras formas de governação. 

A minha perplexidade reside aí. Durante anos e anos acompanhei o lamento, os desabafos de incontidas fúrias pela quase impossibilidade de romper com a monumental teia de interesses pacientemente tecida. Assisti ao valor do cartão partidário ser mais importante que a competência. Assisti ao crescimento de fortunas "mal explicadas" e a "obras inventadas". Porém, chegado o momento que um acto democrático decidiu que tudo devia ser diferente, logo surge quem entenda permitir a continuação do mesmo formato político. Trata-se de uma venda a pataco. 

Desprestigiante para nós "animais" e para a "natureza". No essencial, o que se está a passar resume-se no que me dás e no que te ofereço em troca. Lamentável. 

Nem conta dão do sinal expresso nas urnas pelos eleitores, tampouco que vão ter de engolir, entre muitas situações, o orçamento, o plano de investimentos, as contas da região, a estrada das Ginjas, a praia Formosa, tudo ou quase tudo. Exactamente o que aconteceu com um partido da coligação que, antes, vociferava contra tudo (vide youtube) e, hoje, apresenta-se "domesticado" em toda a linha. Muitas vezes mais papista que o papa!

Não é que não seja legítimo a quem ganhou as eleições, de forma clara, querer integrar mais um ou dois partidos na governação, através de acordos de incidência parlamentar ou mesmo através da atribuição de uma qualquer secretaria ou direcção regional. O problema não é esse. O problema reside em aceitar o que antes foi veemente condenado. E mesmo que não tivesse sido abertamente sentenciado, a leitura histórica da situação política madeirense aconselharia prudência no respeito pelos demais. O problema é matar, por interesses particulares e menores, a oportunidade de gerar o novo que as urnas ditaram, matar os discursos em alta-voz que 47 anos é tempo demais na governação. Trata-se de uma venda aos bocados. A minha perplexidade reside aí, porque estou face a uma PANtomina (no sentido figurado: uma mentira bem elaborada, logro), política de muito mau gosto.

Se se tornasse necessário partir para um novo acto eleitoral, pois partíssemos, sem medo, devolvendo a palavra ao povo. A Democracia é isso mesmo. Mas aí, compreendo, eventualmente podia ser pior, não é, porque o povo não admira a mentira, não aceita jogos de conveniência e repudia quem diz que vai embora e depois fica!

Ilustração: Google Imagens.

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