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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Javardices não escrutinadas

 

Enquanto madeirense sinto-me envergonhado com várias situações que estão a acontecer ou por aquelas que, a propósito, vêm a colação carregadas de aldrabice às escâncaras e de um intolerável mau gosto. Não sei para onde caminhamos. Já não são coisitas de somenos importância, que nos desagradam mas toleramos. São questões de princípios e valores que não podem, em circunstância alguma, serem carimbadas no passaporte da respeitabilidade, da dignidade e da honorabilidade. Atingimos o ponto de uma inaceitável bandalhice, indignidade e baixeza que coloca em causa a sociedade que desejamos: equilibrada, culta, respeitadora dos direitos e deveres da vida democrática.



Assiste-se ao aviltamento e a uma certa desvergonha só possível quando faltam referências maiores capazes, pelo seu exemplo, de repelir para bem longe tudo o que se enquadra no âmbito da porcaria. Já tivemos importantes referências políticas para quem olhávamos e escutávamos com atenção, mesmo que não concordássemos com o partido político que representavam. Um dos que guardo em memória, um Senhor, sublinho, o Doutor Adriano Moreira. E em todos os quadrantes políticos, ressalvo, ao longo da vida, acompanhei pessoas de uma elevadíssima respeitabilidade e idoneidade política e social. 

Estamos a cair, em acelerada velocidade, no lado oposto. Eu não entendo a lógica de quanto pior melhor; é-me difícil aceitar que se garanta a presença no hemiciclo de quem demonstrou, com imagens ao jeito de uma produção porno, não ter a mínima qualidade para nos representar; não consigo engolir, nos governos e nos hemiciclos, pessoas que não foram devidamente escrutinadas, desde alegados problemas com a Justiça até à participação em gravações de áudio e de vídeo, onde emergem conteúdos escabrosos, indignos e revoltantes.  

Mas não é apenas isto que é perturbador. Se o último acto eleitoral teve em vista a eleição de deputados representantes da vontade popular, como é possível suportar a mentira, a aldrabice nas palavras ditas, a subversão de tudo aquilo que devia ser total e rigorosamente transparente. É um que sublinha que disse que ia embora só para "pressionar" o eleitorado (era a fingir!); outro que afirma que a Pediatria é a sua opção e, portanto, prescinde da Assembleia; outro que diz que não contactou a Iniciativa Liberal na noite das eleições e agora sabe-se que não foi assim. Por aí fora...

Mas quero ser mais preciso. Através de um comentário deixado na minha página de facebook, espreitei este endereço: Jesus, Natal e Merdas.. - YouTube. Aguentei dois minutos e exclamei: este não é o meu mundo. Isto é execrável em qualquer parte do Mundo! O problema é que a maioria política na Assembleia e a tal pressuposta "estabilidade" esgota-se numa pessoa que não foi, certamente, escrutinada por quem devia. O líder do partido vencedor das eleições, não escrutinou (olhou apenas para o voto), a líder do PAN idem e, finalmente, pior ainda, o Senhor Representante da República não o fez com o cuidado que lhe competia, o que significa que todos concordaram com a javardice. Do meu ponto de vista, o Senhor Representante devia ter mandado realizar esse trabalho. É neste quadro que o exercício da política está a movimentar-se. Parece que qualquer coisa serve. Ora bem, alguém está a mais, por isso, seria bom para sanidade do sistema político que saltassem desta carroça desengonçada.

Ademais, ser Deputado está muito para além de votar os diplomas. Obrigatoriamente, têm de ser pessoas de qualidade e de conteúdo político (estudando os dossiês), técnico, cultural no sentido lato do termo e de reconhecimento social à prova de bala. Tudo o que sai deste quadro é grosseiro e, algumas vezes, nojento e patético.

Desculpem-me o tom deste texto, mas estou saturado de porcaria.

Ilustração: Youtube

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