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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Os lugares comuns do Professor Cavaco - o Presidente que não se curvou perante a morte do Nobel Saramago

 

Há pessoas que não se enxergam. Pessoas que não percebem que tudo tem o seu tempo e que elas já tiveram o seu. O Doutor Cavaco Silva, político profissional, é um deles.



Não sei como explicar, ou melhor, escrever o meu pensamento relativamente a esta figura que fez uma grande parte da sua vida como político. Sobretudo porque ela dá a entender que, de quando em vez, precisa de um palco talvez para que não o esqueçam. Paradoxalmente, sem a memória do seu tempo político. Depois, não tem noção do que pensam dele. Ainda há dias, o jornalista Luís Osório, referindo-se a Cavaco Silva, escreveu:

"É uma pessoa pouco recomendável (...) voltou a aparecer. Às vezes, um livro. Outras vezes, um ajuste de contas. Contra pessoas, contra a esquerda, contra a má moeda, contra qualquer política menos ele próprio – o homem não se cansa de ajustar contas com o seu ressentimento (…) Para diabolizar António Costa. Para espetar uma faca no pobre Rui Rio. Para dar prova de vida. (...) "O homem que beneficiou de alguns privilégios conhecidos, mas que continua a pairar como se lhe devêssemos alguma coisa, como se lhe tivéssemos de ir comer à mão. (…) O homem que não fez nenhuma declaração aquando da morte de José Saramago, nem uma palavra. Uma vergonha, uma canalhice. Porque Cavaco era Presidente da República"!

O livro acabo de publicar por Cavaco Silva, "O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar" - reflexões sobre o que deve ser o comportamento do primeiro-ministro" para que o seu Governo "tenha sucesso", constitui um repositório de lugares-comuns. Dou alguns exemplos:

"O Presidente deve adotar uma conduta marcada pela isenção e independência"; relativamente aos partidos, que "não interfira no combate político e não atue como força de contrapoder relativamente ao Governo, antes lhe garanta cooperação institucional". Que um primeiro-ministro deve "evitar responder em público" às críticas presidenciais, mesmo quando as "considere injustas ou erradas". Deve, defende, "reservar-se para manifestar o seu desacordo" numa reunião semanal entre os dois ou "através de um telefonema pessoal, podendo então sublinhar o risco de o Presidente ser utilizado como ‘arma de arremesso’ na luta entre partidos". Outros conselhos de Cavaco Silva aos primeiros-ministros é que tenham uma "interpretação alargada do dever de informação" ao Presidente e que não coloquem “obstáculos aos pedidos” para se reunir individualmente com ministros", sendo, ainda, "exemplar na discrição do teor das conversas". - 24.Sapo.

Hoje, no Expresso, o escritor Bruno Vieira Amaral, depois de ler o "livrinho de receitas", coloca, em título, com ironia qb : 

"Um primeiro-ministro que siga os conselhos de Cavaco transforma-se num bom primeiro-ministro ou acorda no corpo de Aníbal Cavaco Silva?"

Regresso a 2017. Miguel Sousa Tavares, no Expresso, escreveu: 


"Bem pode Cavaco Silva desfilar o rol de grandes do mundo que conheceu em vinte anos no topo da política portuguesa: nenhum desses grandes o recordará nem que seja num pé de página de memórias e a nossa história não guardará dele mais do que o registo de uma grandiloquente decepção".

Não resisto e vou ainda mais atrás, estabelecendo uma comparação. Deixo aqui algumas frases interessantes do Professor Doutor Cavaco Silva e do Almirante Américo Tomaz, ambos Presidentes da República, o primeiro em tempo democrático; o segundo, do tempo da ditadura:

Cavaco Silva (nos Açores): "Ontem, reparava no sorriso das vacas que estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto e verificando aquele que começava a ficar mais verdejante".


Cavaco Silva: "Como nos vamos livrar deles (funcionários públicos)? Reformá-los não resolve porque deixam de descontar para a CGA e diminui as receitas de IRS. Só resta esperar que acabem por morrer".


Cavaco Silva: "Quando, no dia 13 de Maio, surgiu a notícia de que finalmente a 7.ª avaliação (Troika) tinha sido mandada para trás das costas e que estava aberto o caminho para a extensão das maturidades, a minha mulher disse-me: 'Ó meu caro – ela [Maria Cavaco Silva] trata-me de outra forma – isto é com certeza influência de Nossa Senhora de Fátima, porque hoje é dia 13".


Conclusão: equivalem-se.

Ilustração: Google Imagens.

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