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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

OS SUBTIS TRAÇOS DA DITADURA MODERNA

Se Al Capone regressasse ficava pasmado... como é possível tanto sangue sem um único tiro!
Só hoje tive algum tempo para ler o magistral ponto de situação da última semana política, de desabafo também, da autoria do Jornalista Luís Calisto, publicado na edição de Domingo do DN-Madeira. Vale a pena ler, pela oportunidade e pelo que ele traduz, em todos os campos de análise, numa terra onde sobressaem, claramente, os traços de uma política ditatorial. Ficam, aqui, alguns excertos:
"(...) Mas imaginemos que, em lugar de um só noticiário semanal, Sócrates decidia fechar por inteiro um órgão de comunicação com mais de 130 anos e para isso usava todos os meios financeiros públicos necessários e todos os métodos ilegais, exactamente como Jardim faz na Madeira, no seu projecto assumido de levar o Diário de Notícias à falência? Ou então, de que grau na escala de Richter seria o terramoto na capital se Sócrates ameaçasse expropriar um jornal? Foi o que Jardim fez relativamente ao Diário, aliás com todo o País a ouvir (...) e se, mais do que a tentativa de usar a publicidade como castigo ou prémio, o governo de Sócrates tivesse mesmo cortado há mais de dez anos os anúncios oficiais a um órgão para os canalizar todos ao jornal da sua cor, tal como faz na Madeira o dr. Jardim? Que, além de negar publicidade ao Diário para a entregar ao JM, e ainda intimidar nos discursos públicos os empresários que anunciam no Diário, mandou que todos os órgãos públicos cortassem a assinatura do DN, incluindo escolas. Sócrates, que com toda a lógica paga já pelo atrevimento da 'tentativa de interferência', onde já não andaria se chegasse ao cúmulo que Jardim pratica nesta Região, com dinheiros públicos! Que aconteceria naquela Lisboa e arredores se Sócrates resolvesse governamentalizar o DN de lá até 99% do capital, injectar-lhe uma fortuna diariamente, e depois, apesar do crescendo assustador do passivo, torná-lo gratuito e agravar ainda mais as despesas com o aumento da tiragem e alargamento desenfreado da distribuição, tudo com a ambição de fechar os que não domina? Como reagiriam Correio da Manhã e Público, por exemplo, e quantos dias mais aguentaria Sócrates no poder? Pois é essa situação que existe na Madeira, sem tirar nem pôr, e bem à vista de todos. (...) E se Sócrates fizesse como o sr. Jardim, que calunia, insulta e enxovalha diariamente os jornalistas com epítetos de corruptos, traidores, comunas, súcias, fascistas, tolos, incapazes, incultos, vingativos, desonestos, gente reles, mentes recalcadas, bastardos, exóticos, incumpridores de estatutos editoriais, ralé que não toma banho? E as jornalistas de vendidas, descompensadas, sovaqueiras...? Que seria de um Sócrates cavalgando tal paradigma? É claro - dirá algum leitor continental -, é claro que se Sócrates ou sátrapa mais bem pintado se atrevesse a tanto no Continente, sairia muito maltratado da refrega".
O leitor que leia e retire as suas conclusões. Da minha parte, parabéns ao Director do Diário pela coragem de tocar na ferida que mata a DEMOCRACIA. Este texto ficará para memória futura.
Ilustração: Google Imagens.

12 comentários:

Gustavo Jardim disse...

É muito lindo, mas há uma diferença substancial entre ambos: Jardim é "cão que ladra mas não morde". Sem papas na língua e directo. Todos sabem como que contam...
E nada se passa além disso. De conversa.
Vejam os dinheiros do futebol e comparem com o que e como Porto, Benfica e Sporting receberam (dezenas de milhões cada um) na maior manhosise.
Sócrates é manhoso e faz tudo por detrás e faz mesmo.
A verdade, é que Calisto não revela que, tirando o JM, ficaria toda a imprensa adversa ao GR. E aí deixaríamos de ter pluralidade.
Imagine que no Continente era assim... Impossível. Quando aparece um pequeno foco de não concordância trata-se logo dele (TVI, Manuela, Crespo). Aqui na Madeira é o inverso. Há muito maior liberdade de imprensa. O facto de ser toda ela (a imprensa) adversa ao GR é a maior e mais evidente prova disso.
Por muito que queiram dizer o contrário.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
É a sua opinião que respeito.
O problema é que eu NÃO QUERO que retirem dos meus impostos uma fatia para um jornal manifestamente ligado ao poder. Seja ele qual for.
Vendam-no, entreguem-no à Diocese (!), libertem-se deste encargo e respeitem as leis do mercado. Bastaria isso e até poderiam seguir a mesma linha editorial.
Agora, eu ajudar a pagar um jornal do poder, isso não. O problema reside aí.

Gustavo Jardim disse...

Até poderia concordar consigo caso fossem MESMO as leis do mercado que definissem o panorama da comunicação social na Madeira.
Mas não são!
São as leis socratianas, como gradualmente vamos sabendo. E são "leis" iceberguianas, das quais se conhecem apenas pontas (as que se vão conhecendo nos últimos dias e não devido à justiça - também ela de joelhos).
A pluralidade é um bem muito caro. Daí que, para mantê-la, na Madeira precisamos mesmo do JM. Mesmo que custe algum dinheiro a todos.
Não é assim que funciona a democracia? O esforço de todos para a salvaguarda dos bens essenciais.
E a pluralidade da comunicação social disponível é um desses.
Desafio-lhe a um exercício: esqueça o JM e avalie o que temos na imprensa, rádio e televisão regional. No que respeita à informação política. E à respectiva posição relativa ao Poder.
E depois, compare com o resto do País...
É que, na Madeira, a situação que apurar comprovará a existência de liberdade na cmunicação social. AO contrário do estado de coisas no (socialista) resto do País.
Admito que seja difícil para si, pois até lhe reconheço algumas situações e posicionamentos idóneos. Mas, infelizmente, nesses casos, nada em linha com os socialismos aplicados (quando em sede de poder).

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Eu parto do princípio que não se combate um eventual erro com outro ainda mais grave. O mercado, inclusive, o das ideias e dos posicionamentos político-partidários devem ser livres. O jornalismo deve assim funcionar na base de livres-pensadores, nunca através de um quadro de constrangimentos. A Democracia e a Liberdade constrói-se dessa maneira, na diversidade das opiniões, no rigor das análises e no respeito pelos outros. O que não significa que eu, enquanto cidadão, tenha de pagar para que exista essa pluralidade. Convenhamos que não faz sentido algum. O JM já pertenceu à Diocese e foi um jornal de prestígio. Vivia da publicidade e dos assinantes, nunca do erário público. Tinha a sua linha editorial distinta e marcada pela Igreja. E por lá passaram excelentes jornalistas. Eu sei do que falo, porque lá trabalhei no final dos anos 60 e fui colaborador assíduo.
Ora, tudo o que aqui se passa não tem nada a ver com Sócrates ou outro qualquer. Tem sim a ver com políticas locais numa perspectiva de poder absoluto.
Sabe, eu sou Autonomista por convicção, não de aviário, e por isso, interessa-me o que se passa na Região e como é que poderemos desenhar o futuro para que o deixemos melhor. Essa é a minha preocupação. Interessa-me o País, relativamente, enquanto português. Só isso.
Uma vez mais, obrigado pelos comentários. É sempre muito bom confrontar opiniões distintas.

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Concordo inteiramente consigo. O que aqui se afirma está à vista. Mas o pior cego é o que não quer ver.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.

Gustavo Jardim disse...

É erro actuar no mercado quando ele se mostra disfuncinal?
Não é essa a base do socialismo de 3ª via, tão em voga?
Daí que não estamos perante um erro destinado a combater outro erro.
É uma necessidade (em absoluto)para não deixar o mercado (da comunicação social madeirense) que é disfuncional, agravar a sua situação.
Numa matéria, repito, essencial e básica: a pluralidade da comunicação social.
Saíndo o JM, o panorama regional fica negro em termos de pluralidade. Ficaria apenas tudo o que é adverso à linha política eleitoral (absolutamente) maioritária na Madeira. É apenas uma constatação.
Para bem de todos é necessário evitar isto. Mantendo o JM, mesmo que com custos. As votações sucessivas na Madeira comprovam a justeza do procedimento.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Desculpar-me-á a franqueza mas o seu ponto de vista denuncia, claramente, o seu posicionamento partidário. No mínimo, denuncia.
Ora, o que está aqui em causa não são questões de natureza partidária, mas questões de natureza económica, de mercado e, em última instância, de liberdade.
Imagine o meu interlocutor que nos aplicavam uma taxa qualquer para tornar a "Cimentos Madeira", por exemplo, mais competitiva que uma outra qualquer que está aí no mercado? Não faz sentido. O JM é uma empresa e como tal terá de providenciar os meios necessários à sua sobrevivência. Tal como aconteceu no passado. Com uma certa tolerância ainda admito uma ligeira comparticipação nas empresas com a responsabilidade de serviço público, como é o caso da RTP/RDP. Pese embora o serviço público seja constitucional. De resto, não, sou absolutamente contrário, até pelo exemplo de toda a Europa.

Gustavo Jardim disse...

Mas, você que é tão adverso a comparações, compara o fornecimento de cimento à pluralidade na informação?
O meu posicionamento denuncia quanto valor concedo à pluralidade da informação disponível. Nada mais. De resto, mantenho o ponto de vista de que (mesmo que custe dinheiro) temos que ter todos os pontos de vista informativos no mercado.
Não deixamos de ter cimento de for outra empresa a fornece-lo. Mas deixamos de ter "uma" informação (um determinado conteúdo e ponto de vista) se o JM deixar de existir. Neste caso não estamos a falar de cimento (que é igual a partir de quaisquer dos fornecedores). Estamos a falar de informação diferente consoante a origem. Na pratica são dois produtos diferentes. Um deles desaparece (bem como o pluralismo) com o desaparecimento do JM. Mais uma vez... é factual.

André Escórcio disse...

Note bem: eu falei de empresas, não comparei serviços prestados. É tão ilegítimo eu suportar encargos de uma empresa de cimentos, tabaco, etc. etc., como suportar parte dos encargos de uma empresa de comunicação social. Eu rejeito uma ajuda às despesas das rádios locais, como ao Jornal da Madeira. Até porque, volto a sublinhar, pode o JM manter o seu estatuto editorial, as mesmas características, a sua política de ali só escreverem as pessoas do regime, podem manter tudo igual, mas não são os nossos impostos que devem pagar a propaganda do regime. Imagime, meu Caro, que um partido da oposição queria ter um jornal subordinado a esse pressuposto de luta pela pluralidade da opinião? Estaria na disposição de o pagar? Eu não estou nem estaria, obviamente.
O que está aqui em causa é um princípio de natureza económica e mais, de respeito pelas prioridades sociais. Sempre fui contra qualquer "pravda" ou qualquer sistema que sufoca o povo e restringe a liberdade.

Gustavo Jardim disse...

1º Opinião e ponto de vista (sim, do regime) também têm que estar presentes. Mesmo que custe dinheiro. É o pluralismo que está em questão.
2º O JM não é "pravda" nenhum pois esse (lá nos Países onde o socialismo básico foi experimentado, com os resultados que se viram) estava (e só assim podia ser)sozinho. Por cá é o inverso. Desaparecendo o JM ficam todos os pravdas locais sozinhos. Todos a marrar para o mesmo lado. Não pode ser...
3º Empresa sim. Como a de Electricidade, a ANAM, etc. Fornecem produtos únicos, dificilmente integráveis em contextos de concorrência. Neste caso, a informação JM é única. Devido a várias razões, precisa de ser suportada. Provavelmente porque "dizer mal" ainda se paga. "Dizer bem", não.
4º Os partidos da oposição (na Madeira) estão todos bem representados. E fartamente representados. Na informação e nos programas de opinião. E na imprensa.

André Escórcio disse...

Primeiro: o pluralismo assegura-se através do mercado e dos diferentes critérios editoriais. Em absoluto, não através do financiamento público.
Segundo: a designação de "pravda" é simbólica, como é fácil perceber. Mas sempre lhe adianto que se eu escrever um artigo de opinião e dirigir ao JM, certamente que não será publicado.
Terceiro: a comunicação social não tem de dizer bem ou mal. Apenas analisa e tem opinião. Compete-nos, enquanto leitores, identificarmo-nos ou não com o que é escrito. Mas isto não pressupõe que eu tenha de pagar qualquer coisa que eu não quero ler. Isso é absurdo. Eu compro o que quero e não o que me impõem.
Quarto: trata-se de uma posição discutível até porque desconheço os posicionamentos político dos jornalistas. Não entro por aí.