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domingo, 6 de julho de 2008

O DESPORTO NOS SISTEMAS EDUCATIVO E DESPORTIVO: PARA UM NOVO PARADIGMA DO SABER E DO SER

“Se a sociedade está errada o desporto não pode estar certo”
“Um desporto ao serviço da mudança”,
sínteses dos conferencistas Manuel Sérgio e Gustavo Pires, respectivamente.

Sábado, passado, numa iniciativa do Grupo Parlamentar do PS-Madeira, inserida num ciclo de dezoito conferências sobre temas diversos dos sistemas educativo e desportivo, estiveram, no Funchal, os Professores Gustavo Pires e Manuel Sérgio. Tratou-se de uma notável conferência à qual aderiram muitos professores e políticos que acompanharam as três horas de exposição e debate com muito interesse.
Gustavo Pires foi o primeiro orador. Preferiu situar a sua exposição ao mais alto nível da prática desportiva e, portanto, de um nível macro de abordagem, conduzir os participantes para as relações de natureza política e social ao nível micro, isto é, dos países e das regiões. E fê-lo com mestria, enquanto livre-pensador e investigador. Foi às raízes do problema, falando de Coubertin e da sua perspectiva política do desporto, reafirmando a necessidade de colocar o desporto ao serviço da mudança. Em contraponto e a propósito, manifestou-se desagradado com alguns responsáveis no âmbito do Comité Olímpico Português quando sublinham… nós somos praticantes e deixamos a política para os políticos. Da própria Carta Olímpica, sublinhou o Catedrático, emerge que o desporto está ao serviço do desenvolvimento humano. E sendo assim, só se pode interpretá-lo numa dimensão política.
O Professor, a partir daquele enquadramento inicial viajou, então, pelo olimpismo, pelas relações internacionais, os interesses, apetites e envolvimentos políticos que o desporto provoca, os pressupostos que enformam uma prática desportiva em todos os patamares, enfim, através de dados, alguns muito complexos, ficou ali bem claro que há uma necessidade de compreender as teias políticas do desporto para quem quer nele encontrar as respostas mais adequadas ao nível micro das organizações que promovem o crescimento e o desenvolvimento do desporto.
Já o Professor Manuel Sérgio começou por trazer à colação Hegel sublinhando que “A verdade é um todo”, para logo concluir no contexto inicial da sua intervenção, que o desporto tem de ter valores que não se circunscrevem ao físico. Para surgir o campeão, disse, muitas outras coisas deverão estar resolvidas. Chamou à atenção dos presentes que o desporto é, antes de mais, um espaço de intervenção educativa, pois quando o colocam fundamentalmente numa dimensão física mais acéfalo é. E isso tem de ser combatido, sublinhou.
“Se a sociedade está errada o desporto não pode estar certo”, disse o Professor, para quem a prática desportiva deve resultar de uma sociedade mais democrática, de melhor cidadania, de mais justiça, de mais leitura, de bem-estar, etc.. Para isso é necessário, sublinhou, fazer uma revolução, uma vez que “ser pelo desporto é ser por tudo o resto”. É evidente, continuou o conferencista, “os governos não têm medo de quem faz desporto, têm medo é de quem pensa” e, por isso, no plano cultural, torna-se necessário corrigir processos em que o desporto não seja a primeira das prioridades, talvez a primeira das segunda prioridades.
Duas intervenções notáveis, repete-se, sobretudo no plano dos princípios e dos valores que devem caracterizar uma verdadeira política desportiva. Se a esses princípios e valores enunciados juntarmos os conhecidos e muito divulgados posicionamentos dos conferencistas, relativamente às questões que se prendem com a “morte” da Educação Física e o nascimento de uma nova disciplina curricular denominada por Educação Desportiva Escolar, pode-se então dizer que estão aqui definidas as grandes linhas de pensamento estratégico do desporto nos sistemas educativo e desportivo. Há, portanto, sublinhamos nós, absoluta necessidade de criar um novo paradigma do saber e do ser através do desporto.
AUTONOMIA
TAMBÉM AO NÍVEL OLÍMPICO
No decorrer da conferência e numa perspectiva autonómica, o Professor André Escórcio provocou o conferencista com a seguinte questão: “numa estrutura política e organizativa diferente, no contexto das nações e do próprio movimento olímpico internacional, será possível a Madeira, no quadro da Região Autónoma que é, a prazo, ter uma participação olímpica autónoma?”
O Professor Gustavo Pires foi claro: "A Madeira, que tanto defende uma maior autonomia política, deveria repensar esta estratégia também no desporto, a começar por se libertar da malha da organização desportiva nacional. Assumiria, dessa forma, a representação a que tem direito, tanto mais que os resultados desportivos na Madeira, no domínio da alta competição, são muito significativos".
Foi uma declaração que levantou alguma celeuma junto dos participantes. Mas tudo ficou esclarecido que uma posição destas deverá ser lançada com eventuais resultados a longo prazo. Há vários exemplos no Mundo. E para isso, para já, os políticos deveriam pensar e forçar a criação, na Madeira, de uma delegação do Comité Olímpico Português.
De uma coisa é certa: caminhar nesse sentido arrastaria consigo uma revolução no pensamento político e nas actuais posturas do desporto regional. O futuro dirá se, em 2008, não foi lançada a primeira semente de uma Autonomia também ao nível olímpico.

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