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terça-feira, 6 de outubro de 2009

DÍVIDAS, TRÂNSITO E EXPRESSÃO ELEITORAL

Três notas:
1ª Não constitui novidade o facto do governo e das câmaras pagarem, tardiamente, os compromissos assumidos. No fundo, as dívidas significam que governo e as câmaras auto-financiam-se com as dívidas aos particulares. Esperar entre 213 e 256 dias, isto é, entre sete a nove meses pela cobrança das facturas arrasta consigo gravíssimos transtornos para as empresas. Desde logo o IVA que não aguarda pela cobrança tal como outros impostos, os salários que têm dia certo e, portanto, muitas têm que se socorrer do crédito bancário com todos os prejuízos que daí advêm. Gerou-se o péssimo princípio de não honrar os compromissos e de todos deverem a todos. Um círculo vicioso de consequências desastrosas em função do desejável equilíbrio do sistema empresarial. Safam-se os grandes, os de maior poder e ainda assim, sobretudo na construção civil, a fragilidade de tais empresas há muito que é evidente, com as falências e despedimentos em massa.
A listagem das dívidas aos fornecedores por fornecimentos ao governo e câmaras é assustadora e extremamente preocupante. Vive-se numa permanente ilusão, com os responsáveis políticos certamente a dormirem descansados, enquanto cresce o desespero de muitos empresários. O balão, quase no limite da sua elasticidade, continua a encher. Por este andar não leva muito tempo que não se oiça o estoiro.
2ª Uma vez mais as ciclovias. Ontem, o presidente da Câmara do Funchal, anunciou a intenção de construir mais uns metros de ciclovia. Muito tardiamente começa a pensar que a solução para o tráfego e transportes no Funchal terá de passar por novos hábitos a aprender. Só que o problema é muito mais complexo do que a promessa de mais umas centenas de metros de ciclovia. O problema só poderá ser resolvido com uma visão integrada onde as ciclovias surjam como mais um elemento a juntar a tantos outros. A ciclovia não pode ser vista, apenas, como um elemento no quadro do lazer, isto é, de passeio com intencionalidade desportiva, mas como um elemento de transporte no interior da cidade. É assim em todo o lado. A ausência desta perspectiva está, por exemplo, na rua Dr. Fernão de Ornelas, na Avenida Arriaga ou na Avenida das Comunidades, onde os novos arranjos urbanísticos não previram a existência da ciclovia.
Enquanto não se pensar de uma forma integrada, enquanto a política for orientada no pressuposto que basta "um penso rápido" nos problemas, neste particular, o grave problema do tráfego e dos transportes continuará a sofrer a pressão do automóvel sobre a cidade, de nada valendo as novas acessibilidades que desafogam, momentaneamente, mas onde tarde ou cedo tudo volta ao mesmo.
3ª A sondagem que dá nova vitória ao PSD no concelho de Santa Cruz, com resultados na ordem dos 43% significa que o povo continua preso, isto é, dependente de uma monumental engrenagem político-partidária da qual não consegue libertar-se. E o caso de Santa Cruz certamente que, com maior ou menor expressão, multiplicar-se-á pelos outros concelhos e freguesias. Oxalá que não, todavia, a história não prognostica outro quadro. E isto é muito preocupante, porque no mesmo concelho onde a vitória do PSD parece não estar em causa, é o mesmo concelho que teve um autarca condenado e onde as obras prometidas, segundo um levantamento feito pelo DN, não foram além de uma execução de 44,2%. Mais de metade das promessas não foram cumpridas. Ora, quando o presidente do governo regional, no seu artigo de opinião publicado na edição de hoje do JM fala de um "pesadelo nacional" e que Portugal é um "case study", interrogo-me se tal pesadelo e tal estudo de caso não deveria começar pela Madeira!

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