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domingo, 11 de outubro de 2009

A FAMÍLIA EM PRIMEIRO LUGAR (II)

A propósito da sociedade desumana que estamos a criar, já aqui escrevi sobre um episódio com um dos meus netos. Esse vive no Porto e, desde muito cedo, devido aos afazeres profissionais dos pais (ambos farmacêuticos), um dia a mãe foi buscá-lo já muito próximo das 19:00 horas. Estava só e com cara infeliz. Perante o quadro, a mãe prometeu que no dia seguinte iria buscá-lo mais cedo. E assim aconteceu. Foi às 16 horas. Ele não tinha ainda três anos. Disse-lhe logo que se reencontraram: "obrigado, mamã, por me teres vindo buscar cedo". Há dias, o mais velho, que vive no Funchal, filho de pais médicos, no meio de uma conversa sobre as coisas que gostava, confidenciou à mãe: "o que eu mais gosto na vida é de passar o tempo com o meu papá e com a minha mamã".
Eu sei o significado e o alcance destas palavras porque tive a felicidade de, desde sempre, por hábito criado, tomar todas as refeições do dia em conjunto e de não preterir qualquer tempo disponível em função da educação das filhas. Felizmente, não passaram, nem permitiríamos um dia inteiro enclausuradas nessa famigerada e penosa "escola a tempo inteiro". É vidente que somos professores e a flexibilidade de horários permitiu sempre o desejável acompanhamento educativo e a vivência de outras importantes experiências culturais e desportivas, desde o ballet, à música, à natação. O que significa isto, retomo aqui as minhas convicções, tudo começa na organização do sistema social. Há países em que, praticamente, tudo encerra às 17 horas. Quem fica até mais tarde é porque não soube organizar as suas tarefas até essa hora. Mais, é indelicado marcar uma reunião de trabalho para as 16:30 horas. Há países onde se entra mais cedo, por volta das 08 horas.
Ora bem, não é o facto de, aparentemente, trabalhar-se mais horas que a produtividade irá aumentar. Tenhamos presente aquela ideia peregrina da União Europeia, felizmente rejeitada, de possibilitar que os trabalhadores pudessem fazer 65 horas de trabalho semanal, ou, então, aquela do Secretário de Estado Valter Lemos, ao apadrinhar uma ideia da Associação Nacional de Pais, para que as escolas estivessem abertas 12 horas. Que falta de bom senso!
É evidente que a produtividade só aumenta pela qualidade do trabalho, pela formação das pessoas, pela tecnologia empregue, pelo rigor e disciplina, pelas remunerações que não sejam de clara exploração, pela mentalidade de quem trabalha e não pelo número de horas de "clausura".
Nos estabelecimentos de educação e de ensino, desde a creche ao ensino secundário, a qualidade da educação e concomitantes resultados também só melhoram quando se concede prioridade ao essencial em detrimento do acessório. Só que para isso necessário se torna a reinvenção de todo o sistema educativo. Tudo o resto parece-me paleio sem consistência que conduz a crianças desasjustadas, a jovens e adutos desesperados. Mas quem altera isto, quando a ideia que subsiste é a de "Maria vai com as outras..."?
Fotos: 1ª Arquivo pessoal; 2ª Google imagens.

3 comentários:

João Laboreiro disse...

Nem a propósito.Público de hoje.

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/12-10-2009/sozinho-em-casa-mas-com-mae-culpada-ao-telefone-17943275.htm

Seis milhões sozinhos em casa...

Do mal o menos, as nossas ETIs...

Porque, infelizmente, trabalhar menos é uma utopia, principalmente quando, com a nossa produtividade (baixa) não o podemos fazer sem um corte - insustentável - nos rendimentos.
E quando caminhamos para uma Venuelização onde quem ganha as eleições são as maiorias subsidiadas, estando asminorias produtivas à mercê desse voto...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Respeito a sua posição, todavia, sem qualquer utopia (pois há muitos exemplos por essa Europa fora) considero as ETI uma boa resposta para um problema errado. O poder político tem é de reorganizar a organização social. E isso é possível, com coragem política.

João Laboreiro disse...

Infelizmente essa de reorganizar o trabalho é utópica quando são necessários cada vez mais recursos e há mais e mais dependentes de subsídios RSI, Desemprego, etc, para acudir à fuga de empregos para a China. Um problema que se vai colocando mesmo para essa "Europa fora".
Se se reduz trabalho (divide-se por mais gente) terá que se reduzir rendimento e esse é o problema... E quanto menos trabalho, menos produção e menos recursos disponíveis para os subsídios que serão cada vez mais exigidos. Pois são os subsidiados é que ganham eleições (vimos agora isso). Daí que estamos bem arranjados...