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sábado, 31 de outubro de 2009

MANTER O PODER

Percorre-me um desconfortável pressentimento que a Região parte, em movimento acelerado, para tempos de caos. Não se trata de uma pouco cuidada observação ao comportamento dos actores e da história que corre nesta tela da vida colectiva, mas sim de sinais preocupantes, consequência da ligeireza governativa, das características que emanam do discurso político acompanhado ao som da ópera (obra) do malandro. Pouco importa o dramatismo da vida empresarial, espremida e impossibilitada de gerar emprego, por um “capitalismo predador” e por uma “democracia de superfície” na expressão de Baptista Bastos, pouco importa quem passa mal, pouco importa o remoinho em que se está a transformar a vida das pessoas, o desastre do sistema educativo que enfrenta a pobreza de 80.000, pouco importa a sociedade que uns poucos estão a construir desde que se salvem, neste revolto mar de enganos, com riqueza, muitas vezes, mal explicada. É por isso que a expressão dos actos eleitorais, que respeito, pouco me diz, quando conheço os meios abstrusos que se utilizam, manipuladores das consciências desde idades muito jovens, que impedem o pensamento e a participação livre e democrática. E isto preocupa porque não é só a falência das empresas que está em causa mas, pior ainda, a falência do Homem que, inteligentemente anestesiado, não encontra forças para sair do colete em que o envolveram. Não falam da cinzenta realidade sentida, antes a pintam de cores vivas, não falam das políticas económicas que podem reverter e dominar o monstro do desemprego, antes preferem o fait-divers da revisão da Lei das Finanças Regionais e da Constituição da República, dos instrumentos que podem acelerar o movimento Keynesiano gerador de riqueza e bem-estar para os do grupo mas, está visto, com perda de esperança para a maioria.
Manter o poder tornou-se mais importante que o olhar atento para as fragilidades do Povo, desde as suas competências à cultura. "(...) um dos meus melhores trabalhos políticos – disse o presidente do governo – foi ter reduzido (o PS) a um pequeno partido. Dá-me um gozo. É a chamada vingança do chinês". Compreendo, agora, o significado da sua declaração de há dias "(...) não podemos fazer a vontade ao inimigo. Temos de chegar às metas legitimamente sonhadas". Ora, as metas legitimamente sonhadas, naquele pressuposto, não se enquadram no sentido da melhoria do "índice de desenvolvimento humano", uma vez que o seu melhor trabalho político foi e é, deduz-se das suas declarações, por portas travessas, pelo discurso da mentira, pela subtil perseguição, pelo combate e destruição da imagem e credibilidade das pessoas, causar danos políticos no “inimigo”. Essa foi e é a cultura de guerra e a meta "legitimamente sonhada". Pobre o político que assim pensa e actua.
Para quem não faz do exercício da política uma carreira, para quem entende tal participação como um serviço público à comunidade, enquanto português, cidadão livre, aquelas declarações irritam ao ponto de apetecer dar um berro nos seus ouvidos e dizer-lhe, na cara, tudo o que se esconde atrás do biombo do homem que só inaugura. Habituei-me aos disparates que oiço e, não deixando de reflectir sobre as palavras ditas, felizmente, consigo que elas passem por mim como a água nas penas de um pato.
De resto, muito mal vai um líder quando, indecorosamente, sublinha a sua sede de "vingança" (de quê, pergunto) e o "gozo" que lhe proporciona atacar uma instituição que lhe deveria merecer respeito democrático. Explica-se pelo facto de nunca querer comemorar o 25 de Abril!
Nota:
Artigo de opinião, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN-M

7 comentários:

Unknown disse...

Costuma-se dizer que o ladrao mais esperto vai para política... Algo que me custa a perceber é porque isso realmente acontece. A política é como uma universidade onde os alunos sao pagos e onde nao tem exames de admissao e os alunos so teem de ter contactos. O que acontece a essa universidade? Os alunos sao burros como uma porta para poder passar qualquer exame, dizem que estudam quando realmente tao mais preocupados com o dinheiro que vao receber. E a Universidade lá vai a falencia.

Nao percebo porque os políticos sao assim... realmente nao percebo, nao percebem que teem a vida de milhares ou milhoes de pessoas na palma da sua mão? Política devia ser um emprego mais respeitado e admirado. Mas nao. Política é o emprego mais detestado e mais corrupto que se conhecesse e ouve-se falar. Apesar de todos aparecerem na TV como intelectuais, ninguem gosta deles!

Ainda pior! As campanhas eleitorais so influenciam 5% dos votos! Tanto dinheiro so para poderem ficar no cargo mais tempo a receber dinheiro facil. Dinheiro de pessoas que matam-se a trabalhar.
O pior das campanhas: fazer as pessoas levarem a politica como um jogo de futebol onde vendem t-shirts, bones e etc do partido. E depois acontece como se fosse no futebol: "PRESIDENTE DO PORTO ACUSADO DE CORRUPCAO, nao interessa, o porto continuara a ser a minha equipa!" E depois esta ideia troca-se na política. Onde em vez de olharem como esse partido esta hoje, olham como era ha anos atras.

E para que tanta rivalidade entre partidos? Nunca vi uma coisa tao estupida! Parecem a minha turma de quando andava na primaria, a unica diferenca é que teem mais vocabulario para dizer a mesma coisa que uma crianca diz a outra numa discussao e vestem mais formais.

Em vez de serem mais abertos a opinioes de fora, pensam que o vosso partido é o unico que ta correcto. Bah...

25 de Abril... nao me diz muito, se Portugal tivesse mudado para melhor politicamente e económicamente, tudo bem... e tudo bem que tiramos um ditador na política, mas o País continua na mesma situacao de merda.

E nao falo do Alberto Joao aqui, falo de TODOS.

Unknown disse...

P.S.- Estou ha ja algum tempo na America e nao teclado portugues, logo é-me dificil ter toda a acentuacao direita. E tambem tenho nocao de algumas frases serem estruturadas de maneira estranha mas isso sao influencias do ingles quando estamos muito tempo fora do país

André Escórcio disse...

Meu Caro,

Não se preocupe com o seu teclado. Também tenho familiares nos Estados Unidos, um deles há trinta anos.
Continue a ter as suas opiniões. Só o facto de procurar saber o que se passa em Portugal e, particularmente, na Madeira, já é importante. É sempre bom termos opinião!

Unknown disse...

Sou Madeirense, estudante universitário nos E.U.A. logo importo-me com o que se passa... Quanto a política em Portugal, já não há paciencia para ver o que quer que seja. Para que? Só me ajudará a nao apreciar o dia.

Mas parabéns, continue com os seus valores! Há muitas poucas pessoas que nao deixam os seus valores de lado, por mais incrível que pareça...

Unknown disse...

Li no seu profile que é do PS. Vou ser sincero, nao simpatizo nada com o PS, principalmente devido ao José Socrates.
Mas isto é algo que me põe estupefacto... voce parece ser uma pessoa que ta na política por querer e nao por necessidade, como é que as pessoas mais... err.... falsas, vao parar ao poder e as pessoas que realmente teem algo para dar, nao se ouve falar? (ou as tantas engano-me, pois nao tou a par na política... ja ouve uma altura que tive interessado, só que depois vi que nao valia a pena).

André Escórcio disse...

Obrigado, uma vez mais, pela sua mensagem.
Sabe, meu Caro, a política deveria ser um serviço público à comunidade. Infelizmente, há muita gente que se serve da política. Detesto fazer alguma coisa por interesse pessoal. Participo porque entendo que é necessário dar voz aos que não têm voz. Mas não é fácil quando, por todos os meios tentam abafar.
Um abraço e obrigado.

André Escórcio disse...

Ah, só mais uma coisa, muitas felicidades para si nos seus estudos.