O trabalho da Jornalista Ana Luísa Correia, publicado hoje no DN, vem confirmar os dados que, de uma forma avulsa, vão sendo publicados na comunicação social. No seu conjunto são os dados da vergonha. A estes, muito certamente, há que juntar centenas, inclusive, a fatia de violência exercida sobre os homens, que não chegam ao conhecimento das instituições, por vergonha e incapacidade de dizer basta. O sofrimento fica-se pelas quatro paredes das habitações, meses e anos a fio. Sofrem os adultos mas sofrem também as crianças e os idosos que crescem ou coabitam em ambientes degradados.
Estes dados podiam e deveriam estar reduzidos ao mínimo ou mesmo erradicados. Desde logo através de rígidas normas de consumo de álcool, por um conjunto de medidas legislativas punitivas, pela existência de políticas de família sérias e profundas, por um consistente trabalho ao nível da educação e formação, pelas políticas de natureza económica geradoras de postos de trabalho remunerados com dignidade, pela responsabilização nas condutas, pelas dinâmicas sociais susceptíveis de estimularem para os princípios, para os valores, para o respeito e para a tolerância, pela libertação do Homem ao nível da sua mentalidade mesquinha e violenta. Isto é possível mas com outras políticas, com uma outra sensibilidade da parte de quem governa.
A melhoria desta terrível situação provocadora de infelicidade não se resolve com a simples criação de espaços de acolhimento (casas de abrigo), embora constituam, reconheço, uma solução de protecção imediata à vítima. O problema resolve-se indo ao fundo da questão, às causas que fazem despoletar os sinais de uma sociedade tendencialmente primária nos comportamentos. A caminho das 1000 queixas registadas por ano, o que significa uma média de denúncias de quase três casos por dia, é tempo das autoridades terem um novo olhar sobre este flagelo, sobre esta incomodante vergonha.
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