É preciso ter muita lata para pedir ao associativismo desportivo que vá à banca contrair empréstimos para pagar dívidas que são, efectivamente, da responsabilidade do Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira. Diz o Diário, que ronda os sete milhões de Euros! Que vão à banca e que, naturalmente, hipotequem os seus bens pessoais. E no caso do governo falhar, deduzo, que se vão os anéis e que fiquem os dedos.
Qualquer pessoa, político, gestor ou administrativo sabia, desde há muito, que esta política desportiva estava completamente errada. E se não sabiam, porque preferiram assobiar para o lado, demonstram, agora, a mais pura ignorância da realidade da Região aos mais diversos níveis de análise. Sempre sublinhei que esta era uma política desportiva ao serviço da POLÍTICA e não uma política desportiva ao serviço do DESENVOLVIMENTO. A este propósito apresentei, na Assembleia Legislativa da Madeira, um Projecto de Decreto Legislativo Regional que foi chumbado pelo PSD.
Ora, o que aqui se passa não abona um governo que, prioritariamente, deveria olhar para o sector do desporto como bem cultural, deveria olhar, em função dos níveis de pobreza e das carências gerais, deveria olhar para o desporto como um meio de Educação, deveria olhar para os clubes como instituições continuadoras da actividade escolar e veículos de cultura e bem-estar das populações. Simplesmente porque somos (infelizmente) uma Região pobre, com problemas até ao céu da boca, com históricas dificuldades para atender aos dramas sociais que nos rodeia, desde o desemprego, às angústias dos empregadores, até à complexa situação de centenas de idosos quer no que concerne à ausência de alojamento em lares quer na atribuição de subsídios compensadores das magras pensões que auferem. E andam para aqui a jogar um acéfalo jogo de ricos, com milhares de deslocações e de subsídios, com contratualizações de atletas continentais e estrangeiros ao serviço de uma representação regional que não é portadora de futuro algum.
É evidente que não me situo num campo miserabilista, isto é, que não devamos ter direito à participação nacional e internacional. Não é isso que está em jogo. O que não é defensável é a ausência de rigorosas prioridades, o que está em causa é a existência de Sociedades Anónimas Desportivas com a participação de dinheiros públicos (quem quer andar no casino que encontre meios para isso), o que está em causa é o histórico abandono do desporto escolar à míngua de verbas para suportar um trabalho educativo e de qualidade.
O problema não é de agora. Há clubes na falência, há associações que carregam dívidas incomportáveis mas continuam a fazer estádios, a jogar fora o dinheiro dos impostos de todos, como se fossemos uma Região rica, de pleno emprego e com a maioria dos seus problemas resolvidos. Que tristeza! Sinto pena.
Nota: Não me digam que o Engº Sócrates também é o culpado pela política desportiva da Madeira!
8 comentários:
Caro Sr. Deputado,
Peço desculpa, mas revela um desconhecimento do país...
Por exemplo no futebol os Pescadores da Caparica, jogam a zona sul... E sabe que eles estão quase na falencia por ter que ir ao Algarve jogar... Como sabe, não há muitas equipas no Alentejo...
A política desportiva na Madeira é a melhor do país... Veja-se o apoio ao Desporto Escolar e outros, que foram copiados pelo Governo de Sócrates...
As viagens são uma asfixia aos estudantes madeirenses, aos desportistas e outros... Há que agir... Há que mudar as coisas...
Obrigado pelo seu comentário.
Tenho por hábito na vida falar de coisas que conheço. Estudo-as, em primeiro lugar. É, por isso, que detesto a leviandade e não sigo o que os fazedores de opinião publicam como verdade absoluta.
No que diz respeito à nossa terra, a esta Região que amamos porque aqui nascemos, desculpar-me-á, mas não devemos ser cegos ou, partidariamente, pouco escrupulosos, perante factos que há muito tempo estão escalpelizados.
Para que saiba e possa comparar, nos últimos oito anos, o governo regional "gastou" no sistema desportivo (federado) qualquer coisa como 240 milhões de euros e, no desporto escolar, cerca de dois milhões de euros. Temos cerca de 3500 praticantes regulares no desporto escolar e cerca de 17000 no federado, o que significa a total inversão da pirâmide. Melhor dizendo, onde devíamos ter muitos, temos poucos, e onde deveríamos ter poucos (porque o federado é qualidade), temos muitos.
Os resultados, esses, são efémeros, quando se fala de um título ou outro conquistado. Fico contente, obviamente, mas isso não é tudo.
E depois quero que fique claro que, em relação ao que se passa no Continente, sobretudo no desporto escolar, creia que isso não me satisfaz, nem minimamente, há muitos anos. Já escrevi muito sobre isso.
Dois milhões no Desporto Escolar em 8 anos? Deve estar a brincar...
Só em ordenados de professores de Educação Física, no mínimo, 10 milhões/ano ou 80 milhões em 8 anos. Contas por baixo...
Quanto aos transportes (viagens para o Continente), se não sabe, devia saber que o Goverso Sócrates nunca cumpriu com o devido nessa matéria (verbas dos jogos da Santa Casa).
Afinal, Sr. Deputado, não estudou tão bem estas matérias...
(mas acha sempre que sim)
Obrigado pelo seu comentário.
Estudei, estudei. Esta é a minha profissão. A minha profissão não é a de Deputado.
Quando se fala em 2 milhões para o Desporto Escolar significa uma média, por exagero, de cerca de 500mil euros por ano, de acordo com dados que me foram facultados. Este valor destina-se a ACTIVIDADES e não ao pagamento de pessoal, como é óbvio. Da mesma forma que os 240 milhões do sistema desportivo não estão contabilizados os valores dos destacamentos do pessoal docente junto dos clubes e associações.
Estes são dados oficiais, não são meus, não são da oposição política.
Quanto aos Jogos da Santa Casa, permita-me que lhe diga que não está bem informado. A distribuição dos quantitativos não se destinam apenas ao desporto. E nas outras áreas a Madeira também beneficia. Mais ainda. As verbas da Santa Casa são de aplicação obrigatória no desporto escolar, situação que não tem acontecido. Não se deve transferir essas verbas para outras intervenções não prioritárias. Mas sobre isto, tenho um longo dossiê, só que, no espaço em que estes assuntos devem ser equacionados, infelizmente, não o são. O problema não é meu, é da Madeira, é da sua população, é de todo o associativismo.
Desculpe mas também há aí falta de informação: as verbas libertas pela exploração dos Jogos NÃO SÃO APLICADAS na Madeira na proporção populacional ou na dos gastos no próprio jogo.
Saiba, Sr. Deputado, que todo o apoio ao investimento em Creches e Educação Pré-Escolar no Continente é feito com estas verbas (também recolhidas na Madeira).
Se somos 2,5% da população, deviamos aceder a 2,5% dessas verbas. Ora recebemos umas décimas.
Mais uma acção de Sócrates contra a Madeira. Dificilmente se sai desta...
Ver post sobre esta matéria, em função do comentário feito.
Como responderia o Sr. Professor, com o mal dos outros (Barroso) podemos nós.
A realidade é que o dobro de quase zero é pouco mais que zero.
E que os tais programas extra-desporto não chegam cá ou, se chegam será mais qualquer coisa perto de zero.
Resumindo e somando, a Madeira está a ser trapeada recebendo as tais décimas em vez de 2,5%.
O grosso do dinheiro, como lhe disse atrás, está a subsidiar a construção de Creches e oferta ao nível do Pré.Escola. Lá. Só lá. Com o nosso dinheiro (também).
Acho que seria de direito termos acesso aos 2,5%. Para as viagens dos desportistas ou para as (nossas) creches. Não vem esse dinheiro. Ficou lá o Socrates com ele.
São factos.
Obrigado pelo seu novo comentário.
Penso que já "esmiucei" os dados. Apenas adianto que a Madeira, para além do "bolo" geral do Orçamento de Estado, recebe duzentos e muitos milhões no quadro dos "custos de insularidade". O problema é que não se respeitam os princípios do desenvolvimento. São doze. Um deles, o princípio da "prioridade estrutural". Posso dar um exemplo: o Estádio do Marítimo ou um novo hospital. Talvez este não seja o melhor exemplo, até porque o Hospital deve ser da responsabilidade nacional e apoiado, certamente, por fundos europeus (princípio da teleologia funcional). Mas há outras (muitas) áreas onde se "gasta" e não se "investe".
Há princípios, portanto, que não são respeitados e daí o descalabro financeiro. Podíamos até ter os tais 2,5% que o problema continuaria a subsistir. Tarde ou cedo, não mexendo da estrutura de pensamento, na estratégia, obviamente que os resultados não se alterariam.
Enviar um comentário