"Sinto-me amigo do violino como se ele fosse uma pessoa. Quando o limpo é como se eu próprio estivesse a lavar-me".
Ontem, assisti a um espaço televisivo que me deixou encantado e emocionado. Tratou-se do programa "30 minutos" da RTP1. Um dos temas versou sobre a Escola de 2º e 3º ciclos LuÍs António Verney, situada em Chelas. A população escolar, que ronda os 500 alunos, é fundamentalmente oriunda do bairro pobre conhecido por "Zona J de Chelas". Trata-se de uma escola problemática, uma vez que os alunos chegam à escola com carências múltiplas, desde as básicas (alimentação e higiene) até aos de natureza afectiva e comportamental. Daí que 30% dos alunos tarde ou cedo abandonem o sistema.
Ontem, assisti a um espaço televisivo que me deixou encantado e emocionado. Tratou-se do programa "30 minutos" da RTP1. Um dos temas versou sobre a Escola de 2º e 3º ciclos LuÍs António Verney, situada em Chelas. A população escolar, que ronda os 500 alunos, é fundamentalmente oriunda do bairro pobre conhecido por "Zona J de Chelas". Trata-se de uma escola problemática, uma vez que os alunos chegam à escola com carências múltiplas, desde as básicas (alimentação e higiene) até aos de natureza afectiva e comportamental. Daí que 30% dos alunos tarde ou cedo abandonem o sistema.
Através da Profª Ana Rita criaram a aula de violino, na palavra da narradora do programa, tendo por lema "cordas mágicas que despertam sonhos". Escutei testemunhos de alunos, pais e avós e vi a pobreza espelhada nas habitações. Ouvi o Daniel assumir que, ao contrário do que acontecia, "agora gosta de estudar, porque o violino ajuda-o na concentração". Foi um dos últimos a ter o violino porque a mãe teve de esperar pelo subsídio de férias para pagar os € 118,00 do instrumento musical. Enquanto ensaia, sublinhou o Daniel, esquece-se dos problemas de casa, da falta de dinheiro e de condições, onde cerca de € 600,00 têm de chegar para oito pessoas. "Quando chego a casa fico pior", assumiu o Daniel. O pai, com sinais de velhice e expressão cansada, adiantou que é muito difícil chegar ao final do mês, pois nada sobra. "Não pode é faltar para eles", adiantou.
Ora, a música, neste contexto de escola problemática derivada das carências sociais, dir-se-á que funciona como forma de integração escolar, educativa e social. Ao seguir o programa variadíssimos aspectos foram-se cruzando na minha cabeça e que vêm dar razão a um conjunto de princípios que há muito defendo para o sistema educativo. Desde logo a dimensão do estabelecimento de ensino e o número de alunos por sala de aula; depois, a verdadeira autonomia da escola que permite delinear um projecto educativo próprio (não existem duas escolas iguais); em terceiro lugar, a capacidade de cada estabelecimento de ensino definir o seu currículo e respectivos programas, embora respeitando, apenas, as disciplinas consideradas obrigatórias (Língua Portuguesa, Matemática, etc.).
Ali, na Escola Básica Luís António Verney, a música assume uma dignidade curricular que, certamente, em outras escolas não tem. Os resultados estão à vista: melhoria do sucesso escolar, melhor integração e satisfação das famílias, mesmo naquelas onde reina a pobreza. Sobre a Escola Hoje muito, humildemente, tenho escrito e muitos contributos, certamente, muitas pessoas têm para dar. Lamento que, por aqui, já que falo de música, se continue a bater a mesma tecla e a produzir o mesmo som, cujos resultados também estão à vista: o maior abandono e insucesso ao nível do País, isto é, uma completa desafinação. Senhores do poder, acordem e aprendam!
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Tendo modestamente ajudado a tornar este projecto possível não posso deixar de lhe agradecer as suas palavras. A bem da verdade devo referir que este excelente projecto apenas é possível com o apoio do ministério da educação sem o qual não seria possível. Além claro do esforço e dedicação dos professores, da visão e do empenho do director do conselho directivo da escola, da inteligência dos alunos e das famílias e do empenho da Academia de Música de Lisboa. Um verdadeiro trabalho de equipa que tem na verdade produzido excelentes resultados. Não me envergonho de dizer que chorei ao ver a reportagem.
Muito obrigado pelo seu comentário.
Sinto que estamos todos no mesmo barco: o da EDUCAÇÃO.
Também fiquei com as lágrimas a caírem, porque se trata de um projecto feito com amor para aqueles que dele sentem falta.
Obrigado e parabéns pela sua colaboração.
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