"Vou reconstruir isto". Fica a ideia de uma espécie de Liedson da política... que resolve!
"Vou reconstruir isto", disse o presidente do governo regional porque «com a vida das pessoas não se brinca". Dois aspectos ressaltam destas declarações: desde logo, a histórica necessidade de centrar na primeira pessoa a responsabilidade de fazer a "obra", o que significa que todos os outros são apenas meros tarefeiros. Ele é o centro de tudo, o omnipresente, o político que dá e tira, que joga as cartas conforme quer, o homem que não tem colaboradores mas servos, que está no pedestal e face ao qual todos se vergam, não por respeito e competência, mas por evidente medo. Do ponto de vista político esta lógica em que assenta o EU e o UI (como ainda ontem e bem dizia o Jornalista Ricardo Oliveira - UI / único importante) tem uma óbvia finalidade, pois propaga-se junto da população menos habilitada, a população sofredora, a população mais frágil e mais dependente. Fica a ideia do paizinho, do "abono de família" desta equipa governativa, numa espécie de Liedson da política "que resolve". E isto é mau, simplesmente porque, pelo caminho, espezinha os técnicos, ofende a inteligência universitária, as associações e os especialistas que se conseguem colocar distantes dos meandros da politiquice barata e sem nível. Todos são uns "miseráveis", face ao chefe da tribo!
"Vou reconstruir isto", disse o presidente do governo regional porque «com a vida das pessoas não se brinca". Dois aspectos ressaltam destas declarações: desde logo, a histórica necessidade de centrar na primeira pessoa a responsabilidade de fazer a "obra", o que significa que todos os outros são apenas meros tarefeiros. Ele é o centro de tudo, o omnipresente, o político que dá e tira, que joga as cartas conforme quer, o homem que não tem colaboradores mas servos, que está no pedestal e face ao qual todos se vergam, não por respeito e competência, mas por evidente medo. Do ponto de vista político esta lógica em que assenta o EU e o UI (como ainda ontem e bem dizia o Jornalista Ricardo Oliveira - UI / único importante) tem uma óbvia finalidade, pois propaga-se junto da população menos habilitada, a população sofredora, a população mais frágil e mais dependente. Fica a ideia do paizinho, do "abono de família" desta equipa governativa, numa espécie de Liedson da política "que resolve". E isto é mau, simplesmente porque, pelo caminho, espezinha os técnicos, ofende a inteligência universitária, as associações e os especialistas que se conseguem colocar distantes dos meandros da politiquice barata e sem nível. Todos são uns "miseráveis", face ao chefe da tribo!
Ao lado desta imagem de homem providencial, o desplante obriga-o a dizer que "com a vida das pessoas não se brinca". Obviamente, que sim. Só que, vasculhando o baú das decisões políticas, pergunto, quem é que, neste processo, andou a brincar com a vida das pessoas? Quem é que secundarizou os avisos, quem é que sempre olhou para os instrumentos de planeamento do território de forma enviesada, quem os suspendeu sempre que deu jeito, quem é que fechou os olhos à construção de natureza espontânea, quem é que sempre esteve mais preocupado com a inauguração e não com a segurança? Quem?
Ora, quando se assume ser o "único importante" na Região, logo também as responsabilidades políticas e até criminais deveriam, concomitantemente, ser-lhe assacadas. O Dr. Jorge Coelho, por exemplo, estava a mais de 300 km. quando a ponte "Entre-Os-Rios" colapsou. Retirou, de imediato as ilações políticas, porque percebeu que alguma coisa tinha falhado e que era da sua tutela salvaguardar. Aqui, nada acontece. É a natureza, a única culpada.
Mas pior do que todas estas considerações é o facto desta calamidade ter vindo por a nu as grandes fragilidades da ilha da Madeira. Colocou a nu a pobreza a muitos níveis. Os jornalistas que se meteram serra fora, que foram até às mais recônditas paragens, mostraram onde não se deve construir, mostraram a ausência de cultura de risco, mostraram que a prevenção e defesa a montante e que História, ciclicamente, recomenda sérios cuidados, não foi acautelada. Empurrar as consequências da catástrofe para as obras do Estado Novo, não lembra ao diabo, constitui um devaneio de muito mau gosto. O que está em causa é quem geriu esta designada Madeira Nova que não acautelou, com o conhecimento existente, os meios disponíveis e com a responsabilidade derivada de órgãos de governo próprio autónomos, uma situação previsível e que, embora não podendo ser evitada em toda a sua extensão, poderia ser substancialmente minimizada. O problema reside aqui.
Portanto, ficaram, infelizmente, repito, a nu as fragilidades estruturais da Ilha, ficou a nu a pobreza, os que foram atirados para a periferia e obrigados a resolver a sua situação habitacional de qualquer maneira, distante de qualquer segurança e que hoje choram os mortos e tudo o que perderam que, aliás, era já muito pouco. Sofro com eles porque, por maior esforço que faça, não consigo integrar-me nesse desespero. Por outro lado, é sufocante ouvir o epíteto de "abutres" aos que agora exigem responsabilidades políticas e criminais, ouvir severas críticas aos académicos, ouvir a desfaçatez de jogar, claramente, para outros responsabilidades políticas próprias.
Ao contrário de tentarem mascarar a realidade, deviam assumir, na plenitude, os erros cometidos derivados de um crónico desleixo pelo planeamento territorial. Tenho à minha frente vários programas de campanha eleitoral à Câmara Municipal do Funchal. Todos eles são unânimes na necessidade de uma operação integrada de requalificação urbanística das zonas altas visando a sua contenção e dignificação. Tenho presente os relatórios feitos em matéria de segurança das populações, dos erros cometidos na canalização das ribeiras e afluentes. Tenho presente os trabalhos científicos de vários académicos e a voz autorizada de técnicos que, cientificamente, pediram cuidado o que se anda por aí a fazer em matéria de impermeabilização dos solos, muitas vezes nas margens das ribeiras. Tenho presente os alertas do madeirense Doutor João Baptista, investigador, sobre a perfuração e impermeabilização da baixa funchalense. Tenho presente o que vejo e o que me dizem quando visito, em missão política, as zonas mais vulneráveis a norte do Funchal. Tenho presente a História e tenho presente o que certos homens fizeram da cidade, pela vivência que tive de doze anos de Vereador da Câmara do Funchal.
No meio disto tudo, o presidente do governo refere que vai fazer tudo igual! Só pode estar a brincar ou não sabe o que diz. Este momento, que colocou a nu as fragilidades deverá, pelo contrário, ser aproveitado para fazer das fraquezas uma oportunidade, o que implica não repetir os mesmos erros. Uma oportunidade para requalificar e para influenciar os Planos Directores Municipais no sentido do rigor. Uma oportunidade para aprender com a História, porque "com a vida das pessoas não se brinca".
5 comentários:
A arrogância só aprende quando o povo deixar de tomar xanax.
Gostei da análise
Cumprimentos solidários
Robles
Obrigado pelo seu comentário.
Caro André Escórcio
Lá chegará o dia em que as pessoas acabarão por perceber quem andou a brincar com as suas vidas.
A factura vem a caminho...apesar do balão de oxigénio que esta catástrofe,por ironia do destino, proporcionou!
Parabéns pela análise.
Gostava muito de ter escrito este Post!!! Faço suas a s minhas palavras.
Muito obrigado pelos vossos comentários.
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