O problema, hoje, já não se coloca em ouvir o Secretário mas outros que tragam o novo, a capacidade de mudar, de apontar caminhos, de solucionar os problemas muito graves que estão pela frente. Não perceber isto, repetir a dose durante tantos anos, constitui a mais viva demonstração que o serviço público foi conquistado, vergou-se, perdeu independência, colocou-se, subservientemente, à mercê dos interesses de um grupo que a controla à distância.
É a passerelle política a funcionar em pleno. É o desfile semanal de elementos ligados ao poder, a janela de promoção das políticas mal sucedidas com perguntas feitas à medida, do tipo, "ainda bem que me fez essa pergunta...". É a televisão descaradamente conquistada pelo poder, subserviente e dócil. Do meu ponto de vista, não há comparação possível com o passado. Se já não era boa, agora, pior ainda está. Os registos provam que esta televisão não é isenta, plural e distante do poder. Não vai ao encontro dos problemas reais, não investiga, não contextualiza e dissolve-se no mundo dos interesses. Parafraseando o que se diz em um outro contexto, "volta Leonel, estás perdoado".
O programa de informação não diária "Entrevista" é a passerelle, o tapete por onde passa a voz da Igreja até ao poder temporal. É o momento, estrategicamente colocado na grelha, logo a seguir ao telejornal, para ouvir mais do mesmo. Hoje, à noite, lá teremos o Secretário das Finanças, uma vez mais, a perorar sobre um lado da coisa, certamente a responder aos que se lhe opõem na teoria, nos conceitos e no exercício dos actos políticos. A televisão da Madeira volta a oferecer aos espectadores o conhecido e deixa passar o desconhecido, em uma atitude política que mais se assemelha ao anúncio do Pingo Doce... de Janeiro a Janeiro.... venha cá! Politicamente, claro. É a propaganda no seu melhor. E logo nas Finanças, cujo buraco de seis mil milhões, exigia outras leituras que não a do governo. O problema, hoje, já não se coloca em ouvir o Secretário mas outros que tragam o novo, a capacidade de mudar, de apontar caminhos, de solucionar os problemas muito graves que estão pela frente. Não perceber isto, repetir a dose durante tantos anos, constitui a mais viva demonstração que o serviço público foi conquistado, vergou-se, perdeu independência, colocou-se subservientemente à mercê dos interesses de um grupo que a controla à distância. E tem controlado com eficácia, através de ligações umbilicais ao próprio Conselho de Administração. Até dispõe, pasme-se, de uma "Comissão de Aconselhamento", liderada pelo Dr. Luís Miguel de Sousa. Aconselhamento de quê, da estratégia, dos gostos, dos interesses políticos, da oportunidade dos programas, da concepção das grelhas, da orientação editorial? Bem esteve o Conselho de Opinião da RTP (em Lisboa) que desde logo se manifestou, sem quaisquer rodeios, contra aquela Comissão de Aconselhamento que, inclusive, viola a lei existente sobre esta matéria.
Esta televisão que deveria ser alternativa, no plano da produção, inovadora, criativa e de qualidade; no plano da informação diária e não diária, exigente, profunda, rigorosa e gerida de dentro para fora, acaba por mostrar-se nua de sentido estratégico, despida de princípios e qualitativamente má. Deixa-se arrastar pela pressão, parafraseando o presidente do governo, ao jeito de uma mafia boazinha. Por mim acabou a tolerância. Sou espectador antes de ser político e nesta perspectiva não quero na minha terra uma televisão de bairro mas uma televisão que constitua orgulho de todos nós.
E o problema disto não está nos seus trabalhadores em geral, desde administrativos até aos técnicos passando pelos jornalistas. O problema, como salientou H. Mintzberg, está no vértice estratégico e não no centro operacional. É do vértice que as orientações são emanadas, percorrendo toda a estrutura até ao centro operacional. O problema é esse, conjugado com a posição de P. Drucker quando observa que "finalidade e missão da empresa são tão raramente consideradas que talvez essa seja a principal causa de frustração e fracasso das empresas". Ou, então, na palavra de Andrew Campbell, no livro Sentido de Missão, por ausência de quatro elementos fundamentais: finalidade, estratégia, padrões e comportamentos. A televisão da Madeira não tem vértice estratégico, não tem finalidade, estratégia, padrões e comportamentos e, assim, só pode ser aquilo que é. E isto não é por culpa dos operacionais mas por culpa de quem tem a responsabilidade de criar empresa num quadro de qualidade.
Se olharmos aos cinco níveis de turbulência desenhados por Igor Ansoff, no que concerne ao planeamento (estável, reactivo, antecipativo, exploratório e criativo) eu diria que esta televisão encontra-se no domínio estável (1900) com algumas preocupações reactivas (1930). Tem, por isso, um longo caminho a percorrer.
Esta televisão da Madeira cumpre aquilo que Shiller, H., in The Mind Managers, sublinha: “(…) Os gestores dos media criam, processam, refinam e presidem à circulação de imagens e informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o comportamento”. De facto, quando produzem, deliberadamente, mensagens que não correspondem à realidade da existência social, os gestores dos media acabam por se tornar gestores das mentes. É o que a RTP-Madeira faz com o seu "exemplar" trabalho. Jorge de Campos, in A Caixa Negra, cita Jacques Piveteau: “o espectacular transformou-se numa droga cujos efeitos não podem acalmar-se senão através do consumo sempre acrescido de doses cada vez maiores”. É o que a RTP-Madeira faz ao promover uma e só uma verdade. E a este propósito, K. Popper e J. Condry, no livro Televisão – um perigo para a democracia, alertam para o facto da televisão ser, hoje, “incapaz de ensinar o que é necessário à sua evolução” (desenvolvimento). Por seu turno, Umberto Eco, in Apocalípticos e Integrados, adverte que a “civilização democrática salvar-se-á se da linguagem da imagem se fizer um estímulo à reflexão crítica e não um convite à hipnose”. O que porém acontece é que, na linha de pensamento de Aor da Cunha, servem para “moldar, esticar ou comprimir imagens com textos que reproduzam a vida política, social, cultural e económica à sua maneira, conforme os critérios ideológicos e particulares do momento não só dos jornalistas, mas também segundo os proprietários dos emissores (…)".
O programa de informação não diária "Entrevista" é a passerelle, o tapete por onde passa a voz da Igreja até ao poder temporal. É o momento, estrategicamente colocado na grelha, logo a seguir ao telejornal, para ouvir mais do mesmo. Hoje, à noite, lá teremos o Secretário das Finanças, uma vez mais, a perorar sobre um lado da coisa, certamente a responder aos que se lhe opõem na teoria, nos conceitos e no exercício dos actos políticos. A televisão da Madeira volta a oferecer aos espectadores o conhecido e deixa passar o desconhecido, em uma atitude política que mais se assemelha ao anúncio do Pingo Doce... de Janeiro a Janeiro.... venha cá! Politicamente, claro. É a propaganda no seu melhor. E logo nas Finanças, cujo buraco de seis mil milhões, exigia outras leituras que não a do governo. O problema, hoje, já não se coloca em ouvir o Secretário mas outros que tragam o novo, a capacidade de mudar, de apontar caminhos, de solucionar os problemas muito graves que estão pela frente. Não perceber isto, repetir a dose durante tantos anos, constitui a mais viva demonstração que o serviço público foi conquistado, vergou-se, perdeu independência, colocou-se subservientemente à mercê dos interesses de um grupo que a controla à distância. E tem controlado com eficácia, através de ligações umbilicais ao próprio Conselho de Administração. Até dispõe, pasme-se, de uma "Comissão de Aconselhamento", liderada pelo Dr. Luís Miguel de Sousa. Aconselhamento de quê, da estratégia, dos gostos, dos interesses políticos, da oportunidade dos programas, da concepção das grelhas, da orientação editorial? Bem esteve o Conselho de Opinião da RTP (em Lisboa) que desde logo se manifestou, sem quaisquer rodeios, contra aquela Comissão de Aconselhamento que, inclusive, viola a lei existente sobre esta matéria.
Esta televisão que deveria ser alternativa, no plano da produção, inovadora, criativa e de qualidade; no plano da informação diária e não diária, exigente, profunda, rigorosa e gerida de dentro para fora, acaba por mostrar-se nua de sentido estratégico, despida de princípios e qualitativamente má. Deixa-se arrastar pela pressão, parafraseando o presidente do governo, ao jeito de uma mafia boazinha. Por mim acabou a tolerância. Sou espectador antes de ser político e nesta perspectiva não quero na minha terra uma televisão de bairro mas uma televisão que constitua orgulho de todos nós.
E o problema disto não está nos seus trabalhadores em geral, desde administrativos até aos técnicos passando pelos jornalistas. O problema, como salientou H. Mintzberg, está no vértice estratégico e não no centro operacional. É do vértice que as orientações são emanadas, percorrendo toda a estrutura até ao centro operacional. O problema é esse, conjugado com a posição de P. Drucker quando observa que "finalidade e missão da empresa são tão raramente consideradas que talvez essa seja a principal causa de frustração e fracasso das empresas". Ou, então, na palavra de Andrew Campbell, no livro Sentido de Missão, por ausência de quatro elementos fundamentais: finalidade, estratégia, padrões e comportamentos. A televisão da Madeira não tem vértice estratégico, não tem finalidade, estratégia, padrões e comportamentos e, assim, só pode ser aquilo que é. E isto não é por culpa dos operacionais mas por culpa de quem tem a responsabilidade de criar empresa num quadro de qualidade.
Se olharmos aos cinco níveis de turbulência desenhados por Igor Ansoff, no que concerne ao planeamento (estável, reactivo, antecipativo, exploratório e criativo) eu diria que esta televisão encontra-se no domínio estável (1900) com algumas preocupações reactivas (1930). Tem, por isso, um longo caminho a percorrer.
Esta televisão da Madeira cumpre aquilo que Shiller, H., in The Mind Managers, sublinha: “(…) Os gestores dos media criam, processam, refinam e presidem à circulação de imagens e informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o comportamento”. De facto, quando produzem, deliberadamente, mensagens que não correspondem à realidade da existência social, os gestores dos media acabam por se tornar gestores das mentes. É o que a RTP-Madeira faz com o seu "exemplar" trabalho. Jorge de Campos, in A Caixa Negra, cita Jacques Piveteau: “o espectacular transformou-se numa droga cujos efeitos não podem acalmar-se senão através do consumo sempre acrescido de doses cada vez maiores”. É o que a RTP-Madeira faz ao promover uma e só uma verdade. E a este propósito, K. Popper e J. Condry, no livro Televisão – um perigo para a democracia, alertam para o facto da televisão ser, hoje, “incapaz de ensinar o que é necessário à sua evolução” (desenvolvimento). Por seu turno, Umberto Eco, in Apocalípticos e Integrados, adverte que a “civilização democrática salvar-se-á se da linguagem da imagem se fizer um estímulo à reflexão crítica e não um convite à hipnose”. O que porém acontece é que, na linha de pensamento de Aor da Cunha, servem para “moldar, esticar ou comprimir imagens com textos que reproduzam a vida política, social, cultural e económica à sua maneira, conforme os critérios ideológicos e particulares do momento não só dos jornalistas, mas também segundo os proprietários dos emissores (…)".
Deveria a RTP-Madeira repensar a sua atitude, a sua independência, a sua duvidosa qualidade, no sentido de tornar-se em um serviço público no qual todos se pudessem orgulhar. Entretanto, hoje, à noite, teremos mais do mesmo, com a presença do Secretário das Finanças para contribuir na gestão das mentes como disse Shiller.
2 comentários:
Caro Dr. André Escórcio, acho lamentável que se diga que o programa Em Entrevista segue critérios que não os jornalísticos. Tenho procurado, de forma independente e séria, trazer os temas que estão no topo da actualidade. Para que não restem dúvidas fica o relatório de todos os convidados que já passaram pelo programa:
- 13.10.2009 - Miguel Albuquerque – Presidente Câmara Municipal do Funchal;
- 20.10.2009 - Coelho Cândido – Comandante Zona Marítima da Madeira;
- 27.10.2009 – João Carlos Gouveia – Presidente PS-Madeira;
- 03.11.2009 – João Rodrigues – Velejador;
- 10.11.2009 – João Luís Gonçalves, Juiz, Procurador do Ministério Público;
- 17.11.2009 – Eduardo Jesus – Presidente Ordem dos Economistas;
- 24.11.2009 - Castanheira da Costa – Reitor da Universidade da Madeira;
- 01.12.2009 – Ventura Garcês – Secretário Regional Finanças;
- 15.12.2009 – Nini Andrade – Decoradora / Designer;
- 12.01.2010 – Nuno Teixeira – Eurodeputado PSD;
- 19.01.2010 – Jacinto Serrão – Presidente PS-Madeira;
- 27.01.2010 – Duarte Rodrigues – Presidente da ACIF;
- 02.02.2010 - Carlos Gonçalves – Director Gabinete Coordenador Educação Artística;
- 09.02.2010 - João Carlos Abreu – Presidente Criamar e ex-secretário regional turismo;
- 23.02.2010 – Almada Cardoso – Presidente Conselho de Administração Sesaram;
- 16.03.2010 – Jorge Faria, IDE;
- 23.03.2010 – Élvio Rúbio Gouveia, mestre, e autor do Livro “Sobrepeso e Obesidade – O Estudo de crescimento da Madeira;
- 13.04.2010 – Roberto Silva – Presidente da Câmara do Porto Santo;
- 20.04.2010 – Marília Azevedo – Presidente do Sindicato de Professores da Madeira;
- 04.05.2010 – Paulo Atouguia – Presidente da Empresa Investimentos Habitacionais da Madeira;
- 11.05.2010 – Élvio Jesus - Presidente do Conselho Regional da Ordem dos enfermeiros.
- 18.08.2010 – Padre Marcos Gonçalves – Juiz Tribunal Eclesiástico;
- 01.06.2010 – Ventura Garcês – Secretário do Plano e Finanças.
Espero ter esclarecido as suas dúvidas.
Abraço,
Virgílio Nóbrega
Obrigado pelo seu comentário.
Creia que, efectivamente, foi esclarecedor o seu texto. O leque de entrevistados falam por si. Mas esse, Dr. Virgílio Nóbrega, é um critério seu e da RTP-Madeira que eu respeito, totalmente. Entendo que a televisão ou qualquer outro órgão de comunicação social, deve ser gerido de dentro para fora. Outra coisa somos nós, espectadores, políticos ou não, que observamos, não o programa A ou B, mas o comportamento geral da Empresa que tem responsabilidades de serviço público.
Ora bem, quando me referi à RTP-M, enquanto passerelle do governo, salientei o facto específico do Secretário das Finanças ter a possibilidade de vender, uma vez mais, o seu "produto" quando o que a Região precisa, no sector da Economia, é de outros olhares. Por isso, mais do mesmo. E isso acontece em outros programas. Por exemplo, ainda há dias, semanas talvez, acompanhei um programa com o Secretário do Equipamento Social, a solo, quando o problema, neste momento, repito, é de outros olhares, porventura também a solo. O que fazer em função do que a tragédia de 20 de Fevereiro colocou a nu, necessita de outras considerações que o Secretário, pela posição que ocupa, obviamente, não adianta.
Aliás, o governo, esse tem três, quatro ou cinco palcos por dia para vender a sua imagem. Olhe, por exemplo, esta manhã, nas NOTÍCIAS, acompanhei, repetidamente, peças com o Vice-Presidente, com Secretário do Ambiente, com o Presidente do Governo e com a Secretária do Turismo e Transportes. Todas as posições da oposição foram retiradas. Aliás, isso acontece todos os dias. Veja, por exemplo, o tratamento dado, ainda à pouco, ao Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, um documento de vital importância para o sistema educativo, cuja conferência de imprensa foi deslocada do seu contexto natural (após a peça da actividade parlamentar)e sem qualquer enquadramento minimamente perceptível. Dir-me-á que o critério é esse. Aceito, não discuto, mas considero, no mínimo duvidoso, enquanto espectador.
O que o meu Caro deveria ter em atenção é o que escrevo nos parágrafos seguintes ao que começa por: "Esta televisão que deveria ser alternativa...".
Sobretudo quando digo que "o problema disto não está nos trabalhadores em geral, desde administrativos, até aos técnicos passando pelos jornalistas...".
O problema está aí, aos olhos de todos.
E mais lhe digo, tenho várias cartas em meu poder que explicam muita coisa que eu, por responsabilidade, não divulgo. Entendo que, na política, não vale tudo. Não é por esses caminhos que me oriento na vida, pelo que nunca utilizei nem utilizarei o exercício da política para criar situações que ofendem os meus princípios e valores.
Se desta vez falei da RTP-M é porque estou farto de ouvir a mesma cantilena, em um momento de aflição das finanças públicas que necessita de outros actores a desenharem o futuro. Acha, o meu Caro, que o Dr. Ventura Garçês adiantou, ontem, alguma coisa? Nada, no meu entendimento.
Obrigado, uma vez mais, por ter entrado neste espaço. É sempre bom trocarmos impressões e pontos de vista diferentes.
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