O problema, hoje, já não se coloca em ouvir o Secretário mas outros que tragam o novo, a capacidade de mudar, de apontar caminhos, de solucionar os problemas muito graves que estão pela frente. Não perceber isto, repetir a dose durante tantos anos, constitui a mais viva demonstração que o serviço público foi conquistado, vergou-se, perdeu independência, colocou-se, subservientemente, à mercê dos interesses de um grupo que a controla à distância.

O programa de informação não diária "Entrevista" é a passerelle, o tapete por onde passa a voz da Igreja até ao poder temporal. É o momento, estrategicamente colocado na grelha, logo a seguir ao telejornal, para ouvir mais do mesmo. Hoje, à noite, lá teremos o Secretário das Finanças, uma vez mais, a perorar sobre um lado da coisa, certamente a responder aos que se lhe opõem na teoria, nos conceitos e no exercício dos actos políticos. A televisão da Madeira volta a oferecer aos espectadores o conhecido e deixa passar o desconhecido, em uma atitude política que mais se assemelha ao anúncio do Pingo Doce... de Janeiro a Janeiro.... venha cá! Politicamente, claro. É a propaganda no seu melhor. E logo nas Finanças, cujo buraco de seis mil milhões, exigia outras leituras que não a do governo. O problema, hoje, já não se coloca em ouvir o Secretário mas outros que tragam o novo, a capacidade de mudar, de apontar caminhos, de solucionar os problemas muito graves que estão pela frente. Não perceber isto, repetir a dose durante tantos anos, constitui a mais viva demonstração que o serviço público foi conquistado, vergou-se, perdeu independência, colocou-se subservientemente à mercê dos interesses de um grupo que a controla à distância. E tem controlado com eficácia, através de ligações umbilicais

Esta televisão que deveria ser alternativa, no plano da produção, inovadora, criativa e de qualidade; no plano da informação diária e não diária, exigente, profunda, rigorosa e gerida de dentro para fora, acaba por mostrar-se nua de sentido estratégico, despida de princípios e qualitativamente má. Deixa-se arrastar pela pressão, parafraseando o presidente do governo, ao jeito de uma mafia boazinha. Por mim acabou a tolerância. Sou espectador antes de ser político e nesta perspectiva não quero na minha terra uma televisão de bairro mas uma televisão que constitua orgulho de todos nós.
E o problema disto não está nos seus trabalhadores em geral, desde administrativos até aos técnicos passando pelos jornalistas. O problema, como salientou H. Mintzberg, está no vértice estratégico e não no centro operacional. É do vértice que as orientações são emanadas, percorrendo toda a estrutura até ao centro operacional. O problema é esse, conjugado com a posição de P. Drucker quando observa que "finalidade e missão da empresa são tão raramente consideradas que talvez essa seja a principal causa de frustração e fracasso das empresas". Ou, então, na palavra de Andrew Campbell, no livro Sentido de Missão, por ausência de quatro elementos fundamentais: finalidade, estratégia, padrões e comportamentos. A televisão da Madeira não tem vértice estratégico, não tem finalidade, estratégia, padrões e comportamentos e, assim, só pode ser aquilo que é. E isto não é por culpa dos operacionais mas por culpa de quem tem a responsabilidade de criar empresa num quadro de qualidade.
Se olharmos aos cinco níveis de turbulência desenhados por Igor Ansoff, no que concerne ao planeamento (estável, reactivo, antecipativo, exploratório e criativo) eu diria que esta televisão encontra-se no domínio estável (1900) com algumas preocupações reactivas (1930). Tem, por isso, um longo caminho a percorrer.

Deveria a RTP-Madeira repensar a sua atitude, a sua independência, a sua duvidosa qualidade, no sentido de tornar-se em um serviço público no qual todos se pudessem orgulhar. Entretanto, hoje, à noite, teremos mais do mesmo, com a presença do Secretário das Finanças para contribuir na gestão das mentes como disse Shiller.
2 comentários:
Caro Dr. André Escórcio, acho lamentável que se diga que o programa Em Entrevista segue critérios que não os jornalísticos. Tenho procurado, de forma independente e séria, trazer os temas que estão no topo da actualidade. Para que não restem dúvidas fica o relatório de todos os convidados que já passaram pelo programa:
- 13.10.2009 - Miguel Albuquerque – Presidente Câmara Municipal do Funchal;
- 20.10.2009 - Coelho Cândido – Comandante Zona Marítima da Madeira;
- 27.10.2009 – João Carlos Gouveia – Presidente PS-Madeira;
- 03.11.2009 – João Rodrigues – Velejador;
- 10.11.2009 – João Luís Gonçalves, Juiz, Procurador do Ministério Público;
- 17.11.2009 – Eduardo Jesus – Presidente Ordem dos Economistas;
- 24.11.2009 - Castanheira da Costa – Reitor da Universidade da Madeira;
- 01.12.2009 – Ventura Garcês – Secretário Regional Finanças;
- 15.12.2009 – Nini Andrade – Decoradora / Designer;
- 12.01.2010 – Nuno Teixeira – Eurodeputado PSD;
- 19.01.2010 – Jacinto Serrão – Presidente PS-Madeira;
- 27.01.2010 – Duarte Rodrigues – Presidente da ACIF;
- 02.02.2010 - Carlos Gonçalves – Director Gabinete Coordenador Educação Artística;
- 09.02.2010 - João Carlos Abreu – Presidente Criamar e ex-secretário regional turismo;
- 23.02.2010 – Almada Cardoso – Presidente Conselho de Administração Sesaram;
- 16.03.2010 – Jorge Faria, IDE;
- 23.03.2010 – Élvio Rúbio Gouveia, mestre, e autor do Livro “Sobrepeso e Obesidade – O Estudo de crescimento da Madeira;
- 13.04.2010 – Roberto Silva – Presidente da Câmara do Porto Santo;
- 20.04.2010 – Marília Azevedo – Presidente do Sindicato de Professores da Madeira;
- 04.05.2010 – Paulo Atouguia – Presidente da Empresa Investimentos Habitacionais da Madeira;
- 11.05.2010 – Élvio Jesus - Presidente do Conselho Regional da Ordem dos enfermeiros.
- 18.08.2010 – Padre Marcos Gonçalves – Juiz Tribunal Eclesiástico;
- 01.06.2010 – Ventura Garcês – Secretário do Plano e Finanças.
Espero ter esclarecido as suas dúvidas.
Abraço,
Virgílio Nóbrega
Obrigado pelo seu comentário.
Creia que, efectivamente, foi esclarecedor o seu texto. O leque de entrevistados falam por si. Mas esse, Dr. Virgílio Nóbrega, é um critério seu e da RTP-Madeira que eu respeito, totalmente. Entendo que a televisão ou qualquer outro órgão de comunicação social, deve ser gerido de dentro para fora. Outra coisa somos nós, espectadores, políticos ou não, que observamos, não o programa A ou B, mas o comportamento geral da Empresa que tem responsabilidades de serviço público.
Ora bem, quando me referi à RTP-M, enquanto passerelle do governo, salientei o facto específico do Secretário das Finanças ter a possibilidade de vender, uma vez mais, o seu "produto" quando o que a Região precisa, no sector da Economia, é de outros olhares. Por isso, mais do mesmo. E isso acontece em outros programas. Por exemplo, ainda há dias, semanas talvez, acompanhei um programa com o Secretário do Equipamento Social, a solo, quando o problema, neste momento, repito, é de outros olhares, porventura também a solo. O que fazer em função do que a tragédia de 20 de Fevereiro colocou a nu, necessita de outras considerações que o Secretário, pela posição que ocupa, obviamente, não adianta.
Aliás, o governo, esse tem três, quatro ou cinco palcos por dia para vender a sua imagem. Olhe, por exemplo, esta manhã, nas NOTÍCIAS, acompanhei, repetidamente, peças com o Vice-Presidente, com Secretário do Ambiente, com o Presidente do Governo e com a Secretária do Turismo e Transportes. Todas as posições da oposição foram retiradas. Aliás, isso acontece todos os dias. Veja, por exemplo, o tratamento dado, ainda à pouco, ao Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, um documento de vital importância para o sistema educativo, cuja conferência de imprensa foi deslocada do seu contexto natural (após a peça da actividade parlamentar)e sem qualquer enquadramento minimamente perceptível. Dir-me-á que o critério é esse. Aceito, não discuto, mas considero, no mínimo duvidoso, enquanto espectador.
O que o meu Caro deveria ter em atenção é o que escrevo nos parágrafos seguintes ao que começa por: "Esta televisão que deveria ser alternativa...".
Sobretudo quando digo que "o problema disto não está nos trabalhadores em geral, desde administrativos, até aos técnicos passando pelos jornalistas...".
O problema está aí, aos olhos de todos.
E mais lhe digo, tenho várias cartas em meu poder que explicam muita coisa que eu, por responsabilidade, não divulgo. Entendo que, na política, não vale tudo. Não é por esses caminhos que me oriento na vida, pelo que nunca utilizei nem utilizarei o exercício da política para criar situações que ofendem os meus princípios e valores.
Se desta vez falei da RTP-M é porque estou farto de ouvir a mesma cantilena, em um momento de aflição das finanças públicas que necessita de outros actores a desenharem o futuro. Acha, o meu Caro, que o Dr. Ventura Garçês adiantou, ontem, alguma coisa? Nada, no meu entendimento.
Obrigado, uma vez mais, por ter entrado neste espaço. É sempre bom trocarmos impressões e pontos de vista diferentes.
Enviar um comentário