"Pedro Passos Coelho é um produto típico de um "tempo inconvicto" [Tony Judt] que acarinha
e acalenta a frivolidade da superfície, arrastando, com essa frivolidade,
milhões de pessoas para a desgraça e para o infortúnio. É preciso erradicar, da
Europa do Partido Popular, esta patologia endémica, de que são vítimas não só os
países mais débeis (que serão "países mais débeis"?) como todos os outros".
"Olho em volta e sinto uma amargura pesada e trágica. Um movimento silencioso faz
com que as pessoas não se cruzem: atravessam-se com indiferença e, até, com
rancor. Pessoas sem destino certo, absortas não se sabe bem com quê. Porquê,
sabemo-lo pela evidência cruel. Não é só a atmosfera de descrença: é o riscar de
uma angústia que nada tem de metafísica. Há algo de implacável nas declarações
que ouvimos, e nos colocam num patamar sem saída. Leio os jornais e nem um traz
a limpidez de uma esperança porque, na realidade, já não há esperança. E ela já
existiu, na afronta e no opróbrio.
As nossas causas eram a justificação das nossas vidas. Envolvíamo-nos em coisas muito perigosas, empolgados pelo desafio e pela reminiscência de que ajudávamos o mundo a ser algo de melhor. Não sabíamos muito bem o que era; porém, não era aquilo em que sobrevivíamos tristemente. Uma frase que escrevi, por essa ocasião, e fez escola: a esperança tem sempre razão. E agora? A esperança perdeu, até a razão de ser?
As causas do que nos está a acontecer vêm de longe. E, se quisermos ser honestos, o desequilíbrio começou com os dez anos de primeiro-ministro do Dr. Cavaco. Não vale a pena derramar lágrimas. A História é o que é. O impreparo do então primeiro-ministro advinha da sua incultura geral, do facto de a Europa nos mandar dinheiro a rodos, o que facilitava a governança, e da raiz da sua própria ideologia (...)".
As nossas causas eram a justificação das nossas vidas. Envolvíamo-nos em coisas muito perigosas, empolgados pelo desafio e pela reminiscência de que ajudávamos o mundo a ser algo de melhor. Não sabíamos muito bem o que era; porém, não era aquilo em que sobrevivíamos tristemente. Uma frase que escrevi, por essa ocasião, e fez escola: a esperança tem sempre razão. E agora? A esperança perdeu, até a razão de ser?
As causas do que nos está a acontecer vêm de longe. E, se quisermos ser honestos, o desequilíbrio começou com os dez anos de primeiro-ministro do Dr. Cavaco. Não vale a pena derramar lágrimas. A História é o que é. O impreparo do então primeiro-ministro advinha da sua incultura geral, do facto de a Europa nos mandar dinheiro a rodos, o que facilitava a governança, e da raiz da sua própria ideologia (...)".
Este é um excerto de um artigo, recentemente publicado, assinado por Baptista-Bastos, um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos. Motivou-me a leitura a primeira frase do texto, ao ir de encontro ao sentimento que transporto: "Olho em volta e sinto uma amargura pesada e trágica". Aliás, já aqui escrevi nesse sentido. Basta um pouco de atenção, alguma sensibilidade, ouvir e esmiuçar o que outros dizem, escutar as palavras penosas que saem boca fora de quem se sente hoje completamente espremido e desprovido de oportunidades, desde jovens a menos jovens até aos que se encontram no outono da vida, para ficarmos com essa sensação de desesperança e de incapacidade para combater o desespero. Há amargura em milhões de homens e mulheres, qual metáfora, tetraplégicos sociais, impossibilitados de possuírem autonomia quanto baste para transportarem e transmitirem um mínimo de felicidade. Tempos de revolta estão já no horizonte Só eles não conseguem enxergar que dos dramas germinará a reacção contra aqueles que, por ganância, teimosia e estupidez política, fazem do povo capacho dos seus interesses maiores.
Ilustração: Google Imagens.
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