Nos seus mandatos, recordo por não ser de somenos importância, nomeou cinco ministros da Educação (João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite), provocando, assim, uma grande instabilidade na política educativa. Nunca tivemos um período tão conturbado, à excepção de algum trabalho meritório do ministro Roberto Carneiro. Se há vinte e sete anos o Presidente tivesse lançado, em todas as variáveis, as bases de um sistema inteligente, articulado, sistémico e portador de futuro, hoje, Portugal estaria a colher os frutos do investimento. Por isso, entendo as palavras do Presidente como de circunstância, de má consciência, de choro sobre o leite derramado, até de arrependimento pelo que não soube fazer. As palavras ditas ficam bem mas não resolvem o drama global da qualificação deficitária e das oportunidades que devem ser criadas aos jovens e que ele, no período crucial da nossa recente história não soube desenhar. O Presidente parece que se esqueceu que a Escola está a jusante e que os professores não podem ser remediadores sociais.
O sistema educativo está como a bandeira! Não só as políticas educativas, mas uma grande parte de todas as outras. |
O Senhor Presidente da República já nos habituou a um tipo de discurso que nem adianta nem atrasa. Fala do conhecido e do óbvio para mais tarde vir dizer... "eu avisei". O problema é que aparecem, de imediato, os políticos de serviço a elogiarem a sua prestação discursiva, não a comentarem com frontalidade as palavras ditas, mas a dizerem qualquer coisa no quadro daquilo que se convencionou designar por atitude politicamente correcta.
Interrogar-se sobre o que ele disse, fazer um apelo à memória, ir ao baú das suas responsabilidades, ao porquê das situações, enfim, como diz o povo, "tá quieto". Poucos se metem por aí, talvez porque se trata do Senhor Presidente da República. Ora, uma coisa é o respeito institucional pela primeira figura do País, outra, com elevação e delicadeza, o comentário, até porque não pode nem deve estar imune à observação e escrutínio das atitudes e das palavras ditas. A sua intervenção de ontem tem muito que se lhe diga. Li-a e lamento-a. Simplesmente porque, sendo o dia 5 de Outubro, para além de uma data comemorativa da implantação da República, Dia do Professor, o Presidente entendeu dirigir-se aos professores, à Escola e aos jovens. Até aí, tudo bem! Só que procurou um tema cujo seu activo político tem muito a ver com o desastre em que o sistema educativo está mergulhado. Não esqueço e, por isso, lamento, que o Presidente toque num assunto face ao qual, aquando da sua passagem pela liderança do governo, pois foi primeiro-ministro durante dez anos, não assumiu as preocupações ontem enunciadas. Nos seus mandatos, recordo por não ser de somenos importância, nomeou cinco ministros da Educação (João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite), provocando, assim, uma grande instabilidade na política educativa. Nunca tivemos um período tão conturbado, à excepção de algum trabalho meritório do ministro Roberto Carneiro. Se há vinte e sete anos o Presidente tivesse lançado, em todas as variáveis, as bases de um sistema inteligente, articulado, sistémico e portador de futuro, hoje, Portugal estaria a colher os frutos do investimento. Por isso, entendo as palavras do Presidente como de circunstância, de má consciência, de choro sobre o leite derramado, até de arrependimento pelo que não soube fazer e pela falta de visão que demonstrou. A mesma ausência de um sentido prospectivo se fez sentir na política do mar e na política da agricultura. Hoje manda o País olhar para a riqueza do mar, mas foi no seu tempo que a nossa frota pesqueira levou um rude golpe! E quem não se lembra do abandono dos campos produtivos!
Ora, as palavras ontem ditas sobre o problema da Educação ficam bem mas não resolvem o drama global da qualificação deficitária e das oportunidades que devem ser criadas aos jovens e que ele, repito, no período crucial da nossa recente história não soube desenhar. O Presidente parece que se esqueceu que a Escola está a jusante e que os professores não podem ser remediadores sociais. E são. A Escola está, neste momento, desvirtuada da sua missão e os professores mandados porta fora, como se não fossem necessários no combate ao défice de conhecimento. O presidente esquece-se que o "produto" (o aluno), que chega à escola reflecte não só a ausência de políticas de família sérias e justas, mas também a desregulação do mundo laboral. Concomitantemente, esquece-se que não compete aos professores resolverem o problema da rede escolar, a arquitectura dos currículos e o desnorte programático. E se há, hoje, indicadores muito graves ao nível das taxas de abandono, insucesso e graves lacunas na formação profissional, tal fica a dever-se a muitos anos de desinvestimento na educação e de uma tentação governativa pela não descentralização do processo educativo, antes concentrando, através de exigências burocráticas, todo o País num só edifício, em Lisboa . Salvam-se, obviamente, muitos e bons estudantes que, entretanto, têm de procurar lá fora, a convite do governo (emigrem!) aquilo que o País não consegue aproveitar para o seu desenvolvimento. Em suma, quando o Presidente diz que “todos somos chamados a refletir sobre a escola que queremos”, tal reflexão discursiva deveria tê-la tido há quase trinta anos. Hoje estaríamos bem melhores. Mas vamos sempre a tempo, porque o futuro não termina amanhã! Porém, enquanto cidadão, não posso aceitar que o Presidente faça abordagens como se todo o povo tivesse memória curta.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário