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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O TEMPO DE TOLERÂNCIA COMEÇA A SER ESCASSO


Não sei onde isto irá parar, mas nada de bom vem por aí. O enervante silêncio do Presidente da República, as movimentações no seio das Forças Armadas, as manifestações populares, sectoriais e globais, que estão a surgir cada vez mais com o recurso a uma certa violência, a ausência de credibilidade do governo da República que denuncia um misto de teimosia e de insegurança, a existência de um governo Regional que, na prática, já não existe, enfim, todo o quadro que está desenhado assume contornos de uma grande preocupação. Existe angústia, irritação, falta de esperança, falta de confiança, fome e a sensação que resta é que o balão vai estoirar. Julgo, por isso, que só há uma forma de travar este processo: renegociar a dívida, prolongar os prazos de pagamento, suavizar a situação global das famílias e das empresas, diminuindo, assim, a severa carga de impostos, concomitantemente, fazendo crescer a economia. Se o caminho for apenas a da austeridade, tarde ou cedo, lamentavelmente, vamos ter conflito e provavelmente sangue.
 
 
Uma mulher de meia idade, bem parecida, em luta pela vida devido a uma doença oncológica, com os olhos rasos de lágrimas, lamentava-se ao jornalista sobre a carestia da vida, sobre o que recebia e o que pagava, que aquilo que estão a fazer ao povo só conduz a "depressões e suicídios" dos mais vulneráveis. Hoje, leio na primeira página do DN-Madeira: "a fome alastra". Compaginado com esta situação, passo os olhos sobre as declarações do Padre Agostinho Jardim Moreira, da Agência Europeia Contra a Pobreza: "a troika está a transformar os portugueses em miseráveis e em escravos, está a exigir o que não podem dar". Folheio mais umas páginas e constato a preocupação de pais aflitos porque não podem pagar o passe escolar, para além do drama dos manuais escolares a que muitos experimentam dificuldades em ter acesso. A completar o ramalhete da desesperança, o anúncio que já vem de ontem que, dos 40.000 dispensados da função pública, largas centenas, com toda a certeza, engrossarão as fileiras do desemprego na Madeira. Tudo isto numa só edição. Nada que não se soubesse, é verdade, mas que, diariamente, nos traz bem vivas as cores negras que embrulham a nossa sociedade.
No meio deste descalabro político, económico, financeiro, social e cultural, surge o governo regional com uma esmolinha de 100.000,00 euros para derramar por 100 famílias no quadro de um apoio aos desempregados. Bom, dirão alguns, mais vale isso que nada. Só que o problema não se resolve com pensos rápidos. Os cem mil, num ápice, desaparecerão e a fome, que não pode esperar, regressará ao seio dessas famílias a muito curto prazo. Por outro lado, esta dádiva, esta esmolinha do governo regional, pouco significado tem no universo dos 23.000 desempregados, quase 50% dos quais, neste momento, não tem direito a subsídio. Basta dividir o dinheiro disponível pela legião de desempregados. Refere o DN, numa peça da Jornalista Marta Caires, que nos primeiros nove meses do ano, foram distribuídas pela Cáritas, oitenta toneladas de alimentos por mil famílias. Este número reflecte a dimensão de um problema que é crescente e que está a tornar remediada e pobre a classe dita média e em escravos todos os outros daí para baixo.
Não sei onde isto irá parar, mas nada de bom vem por aí. O enervante silêncio do Presidente da República, as movimentações no seio das Forças Armadas, as manifestações populares, sectoriais e globais, que estão a surgir cada vez mais com o recurso a uma certa violência, a ausência de credibilidade do governo da República que denuncia um misto de teimosia e de insegurança, a existência de um governo Regional que, na prática, já não existe, enfim, todo o quadro que está desenhado assume contornos de uma grande preocupação. Existe angústia, irritação, falta de esperança, falta de confiança, fome e a sensação que resta é que o balão vai estoirar. Julgo, por isso, que só há uma forma de travar este processo: renegociar a dívida, prolongar os prazos de pagamento, suavizar a situação global das famílias e das empresas, diminuindo, assim, a severa carga de impostos, concomitantemente, fazendo crescer a economia. Se o caminho for apenas a da austeridade, tarde ou cedo, lamentavelmente, vamos ter conflito e provavelmente sangue.
Por aqui, já não há pachorra nem espaço para esta gente que governa há trinta e tal anos consecutivos. Vejo-os na televisão ou nos jornais e metem dó. Aquelas caras repetitivas, que não trazem nada de novo, engasgados pela situação mas agarrados como lapas, devem sair de cena rapidamente, muito rapidamente. Sinto-me perante políticos sem vergonha na cara, medíocres, que actuam na base na mentira, gente de pensamento esclerosado de quem já nada se espera. Fazem da governação um emprego e da Assembleia um poiso de interesses pessoais. Cuidado, muito cuidado, porque a paz, a tranquilidade deve ser preservada e o tempo que resta tudo leva a crer que começa a ser muito escasso.
Ilustração: Arquivo próprio.

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