Mais adiante o Jornalista insiste: Mas o futuro não deveria ter sido acautelado de forma mais prudente e séria? Resposta é concludente e arrasadora para o governo regional: "(...) o que nós vimos em Portugal foi uma enorme tendência para o despesismo, para a aposta em cavalos errados. Fizemos muitas coisas boas, mas também temos de reconhecer que tivemos opções que à luz da retrospectiva poderiam ter sido melhores. No entanto, culpar alguém individualmente por esta situação não é justo". Ora, aqui está, falou de Portugal, eu falo especificamente da Madeira, onde esse futuro não foi acautelado e se é verdade que assim aconteceu, face à falência de toda a estrutura, temos de encontrar um culpado político e esse é, indiscutivelmente, aquele que foi centro da decisão: Dr. Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional. É por isso que não pode dizer, embora politicamente compreenda, que "(...) o nosso Governo Regional tem muito orgulho naquilo que o desporto regional conseguiu em tão pouco tempo. Muita da projecção que a Madeira tem conseguido lá fora deve-se àquilo que conseguimos em tão pouco tempo no âmbito desportivo. O desporto é uma grande conquista da Autonomia, é um dos grandes diamantes da coroa da Madeira". Eu diria que este governo não pode orgulhar-se de um desporto que "fabricou títulos" (à custa da colaboração, em média, de cerca de 200 praticantes continentais e estrangeiros), mas que deixou um rasto de analfabetismo desportivo consubstanciado numa população onde 77% não tem qualquer actividade física ou desportiva regular (15/65 anos). Não pode orgulhar-se de uma política que conduziu a um estado de total dependência e, hoje, de insolvência da esmagadora maioria dos clubes e associações. Política que nem possibilita, nas infraestruturas construídas (por exemplo piscinas) os meios necessários ao seu pleno funcionamento.
Li, com muito interesse a entrevista do Dr. Francisco Gomes (Clube Amigos do Basquete) publicada na edição de ontem no DN-Madeira. Reli, depois, saltando de pergunta em pergunta, para tentar perceber o embaraço do entrevistado perante as perguntas do jornalista, muitas de extrema oportunidade. Para mim, enquanto leitor e através do meu olhar resultante minha própria formação, descobri tantas incoerências que, ao fim e ao cabo, explicam a dificuldade em tocar no cerne das questões. Mas quero aqui ressalvar dois aspectos fundamentais: primeiro, o CAB, um clube com um percurso singular, eu diria fantástico no campo da formação educativa através do desporto, de alguns bons milhares de jovens que por lá passaram desde a sua fundação, em 1979; em segundo lugar, a pessoa do Dr. Francisco Gomes, que foi exímio atleta e sempre excelente aluno e cidadão. O que aqui escrevo tem, portanto, uma claríssima componente política em função das respostas dadas ao jornalista. Não confundo a acção altamente meritória do clube, com a pessoa em causa, face à política desportiva que a Madeira tem. E neste aspecto, caro Dr. Francisco Gomes, ao contrário do que sublinhou, a falência do sistema desportivo regional tem responsáveis. Quando o jornalista questiona "a participação nas competições nacionais, a sobrevivência das equipas seniores (...) e de quem é a culpa?", não me parece correcto que fale "(...) da conjuntura difícil que vivemos, que não envolve apenas este ou aquele dirigente, um secretário ou outro secretário". Não, digo-lhe eu, há culpados políticos, pessoas que em devido tempo, há trinta anos, foram informadas, mas que, teimosamente, seguiram os caminhos que entenderam seguir, de um desporto ao serviço da política e não um desporto ao serviço do desenvolvimento. E tanto assim é que, pressionado pelo jornalista, surgiu a contradição face às declarações assumidas: "(...) a situação difícil que vivemos hoje é o culminar de décadas de opções que foram tomadas, que poderiam ter sido tomadas de forma diferente, é verdade (...) mas não podemos olhar para trás e pensar apenas naquilo que poderíamos ter feito melhor". Pois, diz bem, poderiam, mas não foram! Daí existirem responsáveis. E quando adianta que o que "se está a passar ocorre porque não há capacidade financeira para honrar determinados compromissos, promessas e indicações que foram dadas", tal asserção pode significar que se houvesse dinheiro o regabofe continuaria, isto é, quase zero aposta no desporto educativo escolar e milhões num associativismo absolutamente desconforme com a realidade económica, financeira, social e cultural da Madeira, região pobre, dependente e assimétrica. Outra coisa são os contratos-programa assinados e não cumpridos. E neste aspecto, uma vez mais, há responsáveis políticos, existem pessoas que mandaram avançar e que, depois, retiraram o tapete!
Mais adiante o Jornalista insiste: Mas o futuro não deveria ter sido acautelado de forma mais prudente e séria? Aqui, a resposta é concludente e, do meu ponto de vista, arrasadora para o governo regional: "(...) o que nós vimos em Portugal foi uma enorme tendência para o despesismo, para a aposta em cavalos errados. Fizemos muitas coisas boas, mas também temos de reconhecer que tivemos opções que à luz da retrospectiva poderiam ter sido melhores. No entanto, culpar alguém individualmente por esta situação não é justo". Ora, aqui está, falou de Portugal, eu falo especificamente da Madeira, onde esse futuro não foi acautelado através do planeamento e dos "cavalos certos" e, se é verdade que assim aconteceu, face à falência de toda a estrutura, temos de encontrar um culpado político e esse é, indiscutivelmente, aquele que foi centro da decisão: Dr. Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional. Tudo girou em seu redor. É por isso que não pode dizer, embora politicamente compreenda, que "(...) o nosso Governo Regional tem muito orgulho naquilo que o desporto regional conseguiu em tão pouco tempo. Muita da projecção que a Madeira tem conseguido lá fora deve-se àquilo que conseguimos em tão pouco tempo no âmbito desportivo. O desporto é uma grande conquista da Autonomia, é um dos grandes diamantes da coroa da Madeira". Eu diria que este governo tem sim uma coroa de espinhos, não pode orgulhar-se de um desporto que "fabricou títulos" (à custa da colaboração, em média anual, de cerca de 200 praticantes continentais e estrangeiros), mas que deixou um rasto de analfabetismo desportivo consubstanciado numa população onde cerca de 77% não tem qualquer actividade física ou desportiva regular (15/65 anos - estudos europeus aplicados com o mesmo protocolo em todo o Portugal). Não pode orgulhar-se de uma política que conduziu a um estado de total subsidiodependência que levou à insolvência da esmagadora maioria dos clubes e associações, com claro prejuízo para a juventude. Política que nem possibilita, nas infraestruturas construídas (por exemplo piscinas) os meios necessários ao seu pleno funcionamento.
E quanto à excelente pergunta do Jornalista, "se valeu a pena traçar um caminho que neste momento não nos leva a lado algum, a não ser para o abismo", a resposta em nada foi convincente: "(...) É claro que valeu a pena, apesar de reconhecer que poderíamos ter feito coisas de forma melhor. Não é por acaso que temos um João Rodrigues, um Marcos Freitas, um Cristiano Ronaldo, entre tantos outros". Ora bem, eles, de facto, são madeirenses e dos seus nomes tenho muito orgulho, mas sejamos honestos, não são consequência de uma política desportiva sustentável: Ronaldo, por exemplo, saiu da Madeira aos onze anos, salvo erro; João Rodrigues é uma andorinha num mar de desencanto, pois ainda hoje a nossa principal instalação desportiva continua a não ser tratada com a prioridade que deveria ter; o Marcos, esse talvez sim, é consequência de uma Associação que promoveu o ténis-de-mesa, dinamizando-o no meio escolar com uma prática de base informal. Há outros, pois sim, existem e que, repito, são o nosso orgulho, mas a questão é esta: com outra política, com outras prioridades e com menos custos, apostando, como foi referido, nos "cavalos" certos, quantos madeirenses hoje teriam a actividade física e a prática desportiva regular no quadro dos seus hábitos culturais e quantas referências madeirenses não teríamos no plano da competição desportiva de rendimento elevado?
Finalmente, assumiu: "Criou-se a ideia em torno do desporto de que não é uma actividade necessária válida para a sociedade. E não é assim!". Eu respondo tal como o Dr. Álvaro Cunhal: "Olhe que não, olhe que não!". Sabe, as pessoas são levadas a integrar determinadas actividades no plano dos consumos culturais se a isso forem conduzidas. E para tal, como sabe, existem estratégias conjugadas de política educativa e de articulação entre os sistemas educativo e desportivo.
Eu percebo o Dr. Francisco Gomes, uma vez que está entre dois amores: o do CAB, onde sofre as consequências de uma política desportiva regional errada de raiz; e o amor político, o do PSD, onde a sua participação impede de ir ao âmago das questões. Não por falta de capacidade e de inteligência, simplesmente porque não pode! O problema é esse.
Peço que não leve a mal as minhas considerações. A Democracia é assim, implica debate entre a diversidade de opiniões.
Peço que não leve a mal as minhas considerações. A Democracia é assim, implica debate entre a diversidade de opiniões.
Ilustração: Google Imagens.
5 comentários:
Este Sr. Francisco Gomes é um marrão brilhante e um "lambe-botas" excepional. Aposta sempre em 2 cavalos que nunca ganham. Figura asquerosa que não é uma mais valia para qualquer organização, que o digam os funcionários da EEM. Lamento a escolha que os sócios do CAB fizeram, entre os quais eu próprio, para que este senhor, com licenciatura não homogalada em PT, fosse o Presidente da Direcção.
Caro "Anónimo",
Muito poucas vezes falei com o Dr. Francisco Gomes, mas o suficiente para dele ter uma opinião que não se compagina com a sua. Publiquei este comentário apenas para não ser acusado de censura, situação que já ocorreu e que me deixou numa situação menos agradável.
Escrevi um comentário a uma entrevista, com todos os cuidados e sobretudo com "elegância" democrática.
Politicamente, como é óbvio, estou muito distante do Dr. Francisco Gomes, mas enquanto cidadão e dirigente desportivo respeito-o.
Caro Prof. André Escórcio,
Embora não tenha redigido no post anterior, tenho que admitir que sou um leitor assíduo do seu blog. Não concordando com a quase maioria das suas opiniões, considero os seus textos bem estruturados e fundamentados. Politicamenete, situou-me à direita de V.Exa, não partihando a mesma fação e côr partidária do Sr.Francisco Gomes.
Voltando a este "rapaz", exponho o meu desagrado da seguinte forma: nos tempos actuais,com tantos jovens bem-formadas e com experiência na Admisntração Pública,é de lamentar que os mesmos não tenham tido uma das oportunidades que este senhor, que não tem licenciatura equivalente em PT,teve. Ex: Consultor da EEM, Assesor na Secretaria do Turismo e hoje em dia no Ambiente e a Presidencia no CAB.O seu conhecimento é tanto da realidade circundante que diz-se na nossa praça que este "boy" conhece muito bem Nova York mas não sabe onde é Santana.
Por fim saúdo a sua "tolerância" e sentido democrático, em colocar o meu post.
Obrigado pelo seu novo comentário. Peço desculpa pelo atraso na publicação. Tal fica a dever-se ao facto dos comentários não estarem a ser indicados na caixa de entrada de e.mail. Não sei a que se deve.
Gosto da diversidade de opinião e, portanto, é um bom sinal saber que discorda de muitas das minhas posições. É assim que se constrói uma sociedade democrática e de respeito.
Tenho muitos amigos da esquerda à direita. Desde os mais radicais aos mais conservadores e com eles mantenho boas relações de amizade. Daí que considere que é um enorme prazer tê-lo como comentador do que por aqui vou divagando. Obrigado.
Caro Prof. André Escórcio,
Obrigado pelo elogio.
Cumprimentos,
"Anónimo"
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