Começam hoje os exames do final dos Ensino Básico e Secundário.
Cerca de 260.000 alunos estão envolvidos. O curioso, ou talvez não, é que, de
acordo com os resultados aferidores, "os exames não estão a gerar melhoria
nas aprendizagens" (Público).
E como não estão, ora bem, a ordem é para que os "critérios sejam mais
flexíveis na avaliação das respostas" podendo os professores "validar
respostas não previstas no guião" (Diário de
Notícias). E dizem os mentores que as suas políticas são contra o
facilitismo! Tudo isto é trágico, apesar do "acompanhamento
extraordinário" dos alunos ditos mais fraquinhos; das numerosas edições de
livros de testes que inundam desde livrarias a estações de correio; da insistência,
na sala de aula, na resolução de testes de treino dos anos anteriores e não só;
e, ainda, das explicações, algumas pagas a peso de ouro, a que os pais
recorrem. E apesar disso, dizem, não há melhoria!
Esta é a realidade do sistema. A obsessão pelos exames em detrimento de
uma avaliação contínua, sobretudo no Ensino Básico, tomou conta da inteligência
do decisor político. Trabalha-se para a avaliação e não para o conhecimento. A
sensatez que deveria conduzi-los a equacionar as causas, isto é, à formulação
de uma pergunta tão simples quanto esta: "eu ensino... tu aprendes"?
é negligenciada pela teimosia e por uma atroz cegueira. E assim vão, de erro em
erro, sem darem conta ou se deixarem fecundar pelo conhecimento trazido pelos
investigadores. Para eles, refiro-me a todos esses "cratos" que
infernizam a nossa vida, os exames estão certos, os professores é que estão
errados; a política social do governo está certa, os portugueses é que não
querem trabalhar.
Mas a paranóia está longe de ser atribuída apenas ao decisor político
e à questão dos exames. "O Conselho das Escolas (CE) fez, esta semana, uma
recomendação ao Ministério da Educação no sentido de os alunos terem uma pausa
de dois dias, a meio do primeiro período, uma espécie de "férias de
outono", altura em que as escolas poderiam planear actividades de apoio
aos alunos que revelassem maiores dificuldades". Li que "a proposta
não agradou à Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap) que
criticou as várias pausas que já existem ao longo do ano e defendeu a
necessidade de uma revolução no ensino e um período lectivo muito mais longo:
"as aulas deveriam começar no início de Setembro e terminar no final de
Julho", sugeriu o presidente da Confap. É caso para dizer que este homem
não percebe nada nem de educação, nem de sistema educativo. A revolução que
este senhor fala não é sistémica, logo à partida, de (re)organização de toda a
sociedade; de atenção à diversidade (culturas que chegam à escola) e à desigualdade
(económicas e sociais); a revolução não é de ruptura com um disparatado sistema
educativo curricular e programático e não é de financiamento do sector
educativo. Para este senhor que faz parte do Conselho Nacional de Educação,
pasme-se, o problema é de mais tempo na escola, diariamente e ao longo de todo
o ano. Isto porque, está subjacente à sua posição, torna-se necessário que os
pais trabalhem de sol-a-sol, progressivamente sem direitos sociais, com baixos
salários, sem direito a horas extraordinárias e sempre com a espada do
despedimento sobre as suas cabeças. Para este senhor, a escola deve ser uma
espécie de armazém. Não estranho, caro leitor. O Dr. Jorge Manuel Ascensão,
presidente dessa Confap, é Licenciado em Gestão Financeira, é ou foi Consultor
na empresa Portugal Telecom, Auditor de Fornecedores da PT (Sistemas de Gestão
e Responsabilidade Social) e Gestor do Segmento de Negócio Empresarial.
Com uma opinião diferente, que aplaudo, a presidente da Confederação
Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIP), Isabel
Gregório, saudou a recomendação do Conselho das Escolas (CE) sublinhando que a
proposta de uma pausa lectiva ia ao encontro de outros pressupostos que a
Confap não entende: "(...) as crianças, jovens e adolescentes precisam de
tempo para crescer" (...) "Não queremos criar robots, queremos
cidadãos completos e as crianças precisam de espaço para socializar, e a
verdade é que, neste momento, muitos estão na escola das oito da manhã às seis
da tarde a estudar, com a agravante de ainda trazerem TPC para fazer em
casa" (...) "as crianças precisam de crescer como um todo e não
apenas na vertente escolar. Os nossos filhos estão cada vez mais ocupados, são
cada vez mais competitivos no sentido de terem as melhores notas e serem os
melhores, e isso pode pôr em causa a entreajuda entre colegas".
Concluo, para o presidente da Confederação Nacional de Associações de
Pais (Confap), bom, bom, seria os meninos levarem a cama para a escola,
libertando os pais da função de educadores primeiros. E assim vai o país, com
exames e mais exames, e com uns senhores que disto percebem como eu de energia
nuclear!
Ilustração: Google Imagens.
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