Com interesse costumo ler os artigos do Dr. Domingos Abreu, saliento, aqueles que se situam na área da sua formação académica. São reflexões com as quais muitas vezes, eu, leigo, aprendo. Quando o Dr. Domingos Abreu envereda pelas questões de análise política, particularmente, as da Câmara Municipal do Funchal, onde é líder da bancada do PSD-M na respectiva Assembleia Municipal, aí, não sei se é sua intenção, na maioria das vezes cria enjoo. O artigo de hoje no DN-Madeira é mais um daqueles que não prestigia quem o escreve, quando titula "A Marca da Cidade". No seu conjunto trata-se de uma severa crítica a quem tem a responsabilidade de governá-la. Mais parece uma "luta armada" consubstanciada em um despejar de palavras com insustentáveis argumentos. Simplesmente porque há uma história que não pode nem deve ser ignorada. Outro posicionamento teria se o autor tivesse a coragem de colocar a nu os quase quarenta anos de liderança social-democrata, metade dos quais da responsabilidade do actual presidente do governo.
Só que o Dr. Domingos Abreu não tem essa coragem nem o necessário desprendimento político-partidário. Fala de uma Câmara de propaganda, é o que se deduz, sem resultados concretos, que vive da aparência das medidas que toma, mas esquece que os graves desequilíbrios hoje evidentes têm uma história de desleixo, de tolerâncias, de aparências e de gastos supérfluos que redundaram em mais de noventa milhões de dívidas que estrangulam quem alguma coisa deseje fazer. E vezes várias li que a Câmara apresentava saldos positivos.
O Dr. Domingos Abreu esquece-se, da "marca" do desordenamento territorial, sobretudo a ausência de uma operação integrada nas zonas altas (e não só) e que, agora, leva muitos anos a corrigir; esquece-se do não cumprimento de muitos instrumentos de planeamento, particularmente do Plano Director Municipal, onde se passaram anos sem a elaboração de relatórios de acompanhamento; esquece-se, concomitantemente, da descaracterização da cidade mormente a sua escala; esquece-se da falsa e perigosa recuperação da zona antiga da cidade como tem atestado e bem a Delegação local da Ordem dos Arquitectos; esquece-se da precária situação deixada nos bairros camarários; esquece-se da ausência de uma efectiva defesa dos símbolos do património histórico-cultural; esquece-se das significativas bolsas de pobreza de "alto a baixo"; esquece-se da não implementação de um plano de ordenamento comercial; esquece-se da imprescindível concretização de uma nova política de tráfego e de transportes não poluentes, concretamente, no eixo horizontal, de ligação aos concelhos limítrofes, compaginada com as ligações pendulares N/S; esquece-se das causas que estão subjacentes à perda da Praia Formosa enquanto maior zona de lazer da Madeira; esquece-se da megalomania imobiliária, no Toco, felizmente não concretizada, por falta de financiamento, por pressão pública e por ser contrária ao estabelecido no PDM que considera as praias e arribas zonas “non aedificandi”; esquece-se do que permitiram fazer (que pesadelo!) ao longo de anos, com pezinhos de lã, na zona turística do Lido; a própria toponímia que resvalou para critérios que assentam em tudo menos no rigor; esquece-se da incapacidade para promover, em diálogo, uma nova divisão administrativa do concelho; esquece-se do que não foi realizado no âmbito da prevenção primária, do alcoolismo e da toxicodependência; esquece-se, entre tantos dossiês, da questão dos sem-abrigo (...), ora bem, Dr. Domingos Abreu, quer mais?
Fala de ausência de diálogo dando, entre outros exemplos, a recente questão do Mercado dos Lavradores, rotulando-as de "transformista". Apenas conheço o que foi divulgado pela comunicação social, mas aconselhava-o a visitar, respeitando, cautelosamente, a génese e as identidades dos locais, por exemplo, o Mercado da Ribeira, em Lisboa, o do Bom Sucesso, no Porto, a reabilitação do Mercado do Bolhão, também no Porto. Mas existem outros exemplos. É que isto de só dar pancada política não resulta. Se esta é uma política "transformista" tenho de dizer que durante anos assisti a uma política de puro travestismo! Em um aspecto estamos de acordo: "a da identidade comum de uma cidade não é feita apenas de marketing e comunicação". E foi, durante muitos anos.
Ilustração: Google Imagens.
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