Aproximando-se as eleições legislativas nacionais, o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho tem vindo a evidenciar um grande interesse em falar de "mitos urbanos", no essencial, na tentativa de apagar declarações porque, segundo ele, nunca as disse ou foram mal interpretadas. Vou deixar aqui uma série delas, deixando à consideração do leitor aquilo que para ele são "mitos urbanos".
"(...) acho que o Estado deve dar o exemplo. Nós não devemos aumentar os impostos (...) o orçamento apresentado na Assembleia na República este ano (2010), de alguma maneira vai buscar a quem não pode fugir que são os funcionários públicos e portanto precisamos de um governo não socialista em Portugal (...) não faz sentido andar a pedir às pessoas, às famílias portuguesas para pagarem mais a crise (...) na prática estão a preparar-se (anterior governo) para aumentar a carga fiscal. Como? Reduzindo as deduções que podemos fazer em sede de IRS (...) significa sempre o mesmo esforço de tratar os portugueses à bruta (...) os sacrifícios não têm sido distribuídos com justiça e equidade (...) não contarão (comigo) com mais ataques à classe média em nome dos problemas externos (...) nós não olhamos para as classes de rendimento a partir dos mil euros dizendo aqui estão os ricos de Portugal que paguem a crise (...) nós hoje obrigamos as pessoas a pagarem com aquilo que não têm (...) há uma condição: é a de não trazer novo aumento de impostos, nem directos nem encapotados (...) acusava-nos o partido socialista de querermos liberalizar os despedimentos. Que lata! (...) relativamente a medicamentos que tinham até hoje uma comparticipação de 100%, porque correspondem a doenças graves, que atingem muitas vezes pessoas que não têm condições para comprar esses medicamentos, para esses baixam-se as comparticipações, para esses não há dinheiro para o Estado apoiar (...) para que o caminho que têm pela frente não seja ainda de mais impostos, mais desemprego e mais falências de empresas (...) não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra (...) não basta a austeridade (...) não se pode cortar cegamente (...) as medidas agora anunciadas traduzem uma incompreensível insistência no erro, porque se volta a lançar exigências adicionais sobre aqueles que sempre são sacrificados, porque se atacam alicerces básicos do estado social (...) se eu fosse primeiro-ministro não estávamos hoje com as calças na mão, a pedir e a impor um plano de austeridade (...) o que o país precisa para superar esta situação de dificuldade não é de mais austeridade (...) o IVA, já ontem o referi, não é para subir (...) temos hoje pessoas que deixaram de ter subsídio de desemprego (...) eu não quero ser primeiro-ministro para dar empregos ao PSD e para proteger os que são mais ricos em Portugal" (...) "(...) Estar desempregado não pode ser um sinal
negativo (...) Já alguém se lembrou de perguntar aos 900 mil desempregados de que lhes serviu até hoje a Constituição?". E muitos mais "mitos urbanos" podia aqui adiantar. Bastam estes.
O interessante disto é que um outro "mito urbano" desponta. Ainda hoje li que o presidente do governo da Madeira, Dr. Miguel Albuquerque, foi à Ponta do Sol apoiar Passos Coelho porque ninguém deve "arriscar" uma mudança de governo na República. Diz a sabedoria mais ou menos isto: diz-me com quem andas e eu te direi quem és. No plano político, só pode ser igual, embora a matreirice política seja outra. São muitos anos "a virar frangos"!
Só falta agora que Paulo Portas venha também falar de "mitos urbanos". Ele que escreveu, entre 1988/1995, enquanto jornalista do "Independente": "As cabeças da maioria passam a fronteira do absurdo sem pestanejar". (...) Contra a ditadura fiscal... "desobedecer, desobedecer, desobedecer". (...) "O Estado decreta, arbitra, taxa, cobra e recebe com a facilidade com que um ladrão perfeito entra em casa de pessoas decentes". Nos dias que correm não há "ladrão" mais perfeito que o "governo". Portas aceitava que a classe média fugisse aos impostos, de acordo com o bom e velho princípio que "ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão". "Os portugueses comovem-se com pouco e deixam-se enganar depressa e bem". (...) "As contas não falham por magia. (...) Falham porque as decisões de política estavam erradas" (...) "Quem promete números tem de os cumprir. Quem promete algarismos tem de ser exacto. Quem faz a política do rigor não pode desconversar" (...) "tão pouco é bonito vir dizer que, se não chegar agora à meta anunciada, logo se verá, no outro ano ou no ano que virá depois". "O pior socialismo que existe é a social-democracia" e os "impostos estão para a social-democracia como a bola está para o futebol". É esta figura que hoje é Vice-Primeiro-Ministro de Portugal. Outro com muitos anos a "virar frangos" nas feiras por onde passou!
Ilustração: Google Imagens.
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