"(...) Não vou comentar manuais escolares de Português. São sempre iguais e já os estudei sobejamente. Este ano chegaram-me à mão dois da ASA, da Areal e da Porto Editora e um da Raiz Editora, da Santillana, da Texto Editora, da Plátano Editora e da Didática Editora. Para já, 11 manuais! Se olharmos para um deles, com 340 páginas, mais 270 do dossiê do professor, 144 do caderno de actividades, 48 do livrinho de leituras suplementares e ainda umas 12 de mapas de planificações e quejandas, temos um total, se a calculadora do PC não se engana, de 814 páginas. Multiplicadas por 11, são 8.954 páginas para serem analisadas! Sem incluir CD-roms, vídeos e outros. Ou seja, há aqui qualquer coisa que não bate bem (...)".
Mas o pior, apesar de ser muito grave e desesperante, não está no número de páginas, está, sobretudo nos conteúdos. O Professor Rafael Tormenta analisa-os na edição de Verão 2015 da singular e única revista de qualidade A Página da Educação.
O Sistema Educativo tornou-se um monstro, cada vez menos domável, alimentado pela ignorância política que há anos prevalece nos gabinetes de quem tem tido a responsabilidade do sistema. Multiplique-se o número de páginas pelo número de "disciplinas", junte, como quem faz um bolo, as "resmas" de planificações que derivam das reuniões de departamento, de disciplina e de grupo, o projecto curricular de turma ou coisa semelhante, mais, ainda, ao longo do ano, os relatórios e todos os normativos que entram pela escola adentro, burocratizando e infernizando a vida e vivência da escola. Pressupostamente, dizem os mentores, tudo em favor do aluno enquanto centro das preocupações educativas, todavia, toda aquela catrefada, que começa na escolha do manual até à verdadeira função do professor acaba por atirar o aluno para a margem do processo ensino-aprendizagem. Passa de centro a periférico. Será que é difícil perceber isto? Que o sistema está errado de raiz e que ele tem de ser urgente e paulatinamente mudado?
Ainda ontem estive a ouvir uma entrevista do Professor Agostinho da Silva. Volta e meia apetece-me escutá-lo pelos conceitos e profundidade do seu discurso onde as palavras estão muito para além do significado aparente. Parecendo nada ter a ver com a preocupação que aqui trouxe, aqui o deixo nesta CONVERSA VADIA. Vale a pena escutá-lo.
Ilustração: Google Imagens.
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