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domingo, 7 de junho de 2015

A NOVELA DOS MILHÕES


Parece que não temos mais nada com que nos preocuparmos, quando se assiste a uma semana de sessões contínuas da novela de um Jesus que não "encarnou", "verdou"! Parece que estamos todos muito bem, para darmos ao luxo de falar de senhores que nadam no pântano dos milhões, enquanto a maioria discute-os, de imperial na mão, encostados ao balcão da vida real e com inusitado entusiasmo. 


Parece que nada se passa de relevante quando um telejornal concede, como primeira "notícia", treze longos minutos de paleio sobre uma mudança de um lado para o outro da avenida. Parece que nada nos aflige quando quatro canais, em simultâneo, discutem ao pormenor, uma situação que esquece, por algumas horas, o dia seguinte, a realidade dos milhões relativamente à contagem dos cêntimos para pagar a habitação, a educação, a saúde, o pão e o endividamento. Parece que somos um país normal quando nos ameaçam com mais austeridade, congelamento de carreiras, precariedade, desprezo pelos jovens e roubo nas pensões, enquanto toleramos os milhares de milhões que circulam à nossa frente em actos de alegada corrupção (a FIFA é, com toda a certeza, a ponta do icebergue, mas há muitas outras corrupções). Parece que vivemos em total bem-estar, sem problemas por resolver, que o salário mínimo permite enfrentar o custo de vida e que existe equilíbrio entre direitos e deveres, quando nos deixamos enredar nesta teia que esconde o importante e alimenta o supérfluo. Parece que valorizamos mais os milhões de um profissional da bola, do que aqueles que "queimam as pestanas", anos a fio, nos laboratórios da ciência, na persistente finta às dificuldades para encontrarem a solução, por exemplo, para o temível cancro! 


Respeito quem goste, quem devore os jornais desportivos de uma ponta à outra e consiga sentar-se à frente de um televisor para consumir conversa de treta. Quem sou eu para tecer considerações de severa crítica! Apenas aqui fica, sem miserabilismo, o meu estado e desabafo de Domingo.
Ilustração: Google Imagens.

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