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domingo, 26 de julho de 2015

GOVERNANTE QUE ASSIM FALA DA EMIGRAÇÃO, PERGUNTO, POR QUE NÃO EMIGROU?


Há declarações de governantes que, das duas, uma: ou pecam pela fragilidade conceptual ou se enquadram na useira e vezeira propaganda, a qual, pelo bulir dos beiços facilmente se percebe a intenção. O portador de uma esquisita "licenciatura", Miguel Relvas de seu nome, no início do mandato também aconselhou os portugueses a emigrarem (10 de Novembro de 2011): "(...) a emigração de jovens portugueses qualificados sem oferta de emprego em Portugal pode ser algo "extremamente positivo". Quatro anos depois do desastre que tem sido a emigração jovem, vem o governo regional, pela boca do secretário regional da Educação da Madeira, assumir que "(...) temos uma emigração completamente diferente daquilo que estávamos habituados. Antes tínhamos cidadãos que emigravam sem qualificação e muitas vezes sem saber ao que iam. Hoje, quando falamos de emigração falamos de quadros e pessoas altamente qualificadas que fruto dessas experiências, no exterior, poderão ser um contributo muito significativo para o desenvolvimento da Região". E para os que não se resignam eis a receita: "(...) os empregos não existem. Criam-se. É essa capacidade criadora que a juventude tem de encontrar (...) para "vencer neste mundo globalizado". Eu diria, neste mundo do salve-se quem puder e de governantes que não o sabem ser!


Frases feitas, repetidas vezes sem conta na perspectiva de gerarem um ambiente de clara desculpabilização relativamente às políticas internas. A engrenagem é perfeita. Já no final da década de 80, o designado "guru" da gestão, Tom Peters escreveu: "nada mais certo no futuro que o emprego incerto" e que a empresa do futuro chamar-se-ia "Eu, SA". Palavras que serviram monumentais interesses, na altura embrionários, de raiz especulativa e de mão-de-obra cada vez mais barata. E custa-me olhar para os novos governantes, que não tiveram a coragem de emigrar, de deixar a família para trás, de se interrogarem sobre as razões do Estado ter investido milhares na sua formação para outros a aproveitarem, virem agora, depois de todos os exemplos negativos, da angústia que anda aí à solta, defenderem as vantagens da emigração. Falam do "mundo globalizado" mas esquecem-se, propositadamente, que esse mundo globalizado deve começar cá dentro e não lá fora, através de consistentes políticas económicas. Que é, fundamentalmente aqui, na Madeira, que os jovens devem ter a possibilidade de construir o seu futuro, ressalvando todos aqueles que, pelas mais diversas razões (e são muitas) entendam que o seu futuro está em outras paragens. Até no espaço da aventura! Daí que não deva ser o governante a empurrá-los, porque ao governante deve competir a tarefa de criar condições para garantir que possam ser felizes cá dentro. 
Por outro lado, esquecem-se que para um jovem criar a sua própria empresa, não basta dispor de alguns apoios possibilitados por alguns programas, mas que necessário se torna ter currículo bancário. Depois, quantos Licenciados, Mestres e Doutores andam aí, dentro e fora do país, a viver com ofertas de emprego de € 500, 600 e 700,00, escravos da situação criada por outros! Quantos, apesar da formação, a recibo-verde, são esmagados e triturados pela máquina exploradora inteligentemente montada? Que esperança podem ter apesar da sua "formação e qualificação" profissional? Quantos, depois de um grande sacrifício, inclusive, com as escandalosas propinas universitárias e esforço de pais e de padrinhos, foram à procura do "seu próprio emprego", esbarraram e tiveram de regressar à dependência dos pais e avós? Governante(s) que assim fala(m) da emigração como aspecto vantajoso, pergunto, porque não emigrou(aram)? Pois, é difícil o amargo da despedida, a decisão de deixar para trás a família, muitas vezes os filhos, o espaço onde se nasceu e criou o leque de amigos. Entendo. Nem todos estão para isso.
Eu sinto orgulho quando tomo conhecimento de portugueses de extraordinário valor que ocupam lugares de topo na investigação científica (e não só, em todas as áreas, saliento), jovens de vários ramos do conhecimento que tiveram de emigrar porque Portugal não lhes reconheceu o mérito. Fechou-lhes as portas e raros são os que regressam! Mas, simultaneamente, fica-me esse amargo de outros beneficiarem das nossas gentes, pela nossa histórica incapacidade de ver longe a partir de olhos centrados cá dentro. O patético Relvas disse que "(...) nós temos hoje uma geração extraordinariamente bem preparada, na qual Portugal investiu muito. A nossa economia e a situação em que estamos não permite a esses activos fantásticos terem em Portugal a solução para a sua vida activa (...)". Apesar de Relvas, no plano académico e político não ser exemplo, após quatro anos de sucessivos erros, de uma juventude encostada à parede, lamento que haja quem deseje continuar com essa triste e revoltante mensagem política. E se fossem pregar para outra freguesia? Ou, então, se fizessem um esforço para ver o problema por outro ângulo: que este é um problema de Economia e de organização estrutural da sociedade, antes da emigração se constituir como uma necessidade?
Ilustração: Google Imagens.

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