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terça-feira, 28 de julho de 2015

MOTA TORRES O DEMOCRATA E LUTADOR POR CAUSAS NOBRES


Li um texto do Dr. Mota Torres, ex-presidente do PS-Madeira, no qual concede o seu apoio à candidatura do Professor Sampaio da Nóvoa à Presidência da República. Escreveu: "(...) Assumo, com convicção, determinação e entusiasmo, que o modesto apoio que dispenso à candidatura de Sampaio da Nóvoa, bem como o voto que lhe confiarei nas eleições presidenciais tem, como suprema motivação, a minha vontade de, de novo, ver o meu País a trilhar os caminhos da liberdade, da tolerância, da Justiça, da justiça social, da igualdade de oportunidades, do equilíbrio, da cidadania incentivada e respeitada e da modernidade, como elementos indispensáveis daqueles que serão os identificáveis e inultrapassáveis marcos civilizacionais que, orgulhando-nos, a História, um dia, registará (...)". Não esperava outra coisa deste socialista de corpo inteiro. Mas não é da leitura desse texto que hoje alinhavo estas palavras. Quero falar de Mota Torres, o Amigo e político.



Foi ele que, em 1993, depois de alguns anos na Assembleia Municipal do Funchal, me telefonou, convidou para um almoço e uma longa conversa, ali na marina do Funchal, diálogo esse do qual resultou vários dias a pensar na candidatura à presidência do município do Funchal. Um desafio que não estava, nem minimamente, à espera. E lá fui. Desse tempo registo o que muito aprendi através das suas reflexões assentes na sua experiência política adquirida, fundamentalmente, na Assembleia da República. Guardo a carta que me enviou nem 24 horas passadas sobre tão disputado acto eleitoral.
Ao longo dos anos nem sempre estivemos de acordo, é certo, e, momentos houve, de alguma tensão entre nós. Talvez mais motivada por mim, pela fogosidade desses idos anos conjugada com a minha inexperiência política. O exercício da democracia e a vida partidária não é fácil de ser gerida, convenhamos. Mas, confesso, muito do meu pensamento político fica a dever-se a esse Homem que uma parte do PS não compreendeu e que a Madeira não soube aproveitar. Fui seu secretário-geral e, depois, vice-presidente, em momentos muito complexos, onde a disponibilidade financeira do partido era muito curta (que o diga Rafael Jardim um outro socialista de referência) para tantas necessidades no enquadramento das estruturas concelhias e campanhas eleitorais. Tempos complexos, também, quando as relações institucionais com o grupo parlamentar, infelizmente, não eram as melhores. Tempo de, solidariamente, assinarmos significativas responsabilidades bancárias ("letras" boas para aval) para que o processo partidário crescesse. 
E com Mota Torres o PS cresceu e consolidou-se, através da descoberta e responsabilização de pessoas em toda a Região, em uma época que o regime jardinista ameaçava e amedrontava quem desse a cara por uma qualquer outra opção política. Mota Torres soube fazê-lo, aguentou ofensas sem fim, deixando sempre uma marca de grande elegância quer na fluência do discurso político quer na qualidade do texto escrito. Recordo, igualmente, várias desconsiderações, por ausência de tacto político, quando ministros e secretários de Estado socialistas por aqui passavam e teciam loas à "obra" jardinista, absolutamente contrárias ao discurso local e à verdade de uma Região que caminhava, lenta mas seguramente, para o abismo financeiro. Aspecto que, mais tarde, veio a comprovar-se.
Mota Torres foi um Senhor no exercício da política na Madeira e na representação da Região. Escolheu esta terra para viver (e a verdade é que continua aí) e isso custou-lhe muita injustificada agressividade no plano político. Nunca o vi aproveitar oportunidades para si (Parlamento Europeu, por exemplo) mas antes abriu espaço para outros. Mota Torres é um Homem culto, com um refinado sentido de  humor e com uma capacidade de argumentação política como poucos. E quando vejo, por aí, gente galardoada com a distinção autonómica disto e daquilo, sobre as quais não teço qualquer comentário, questiono-me: e o Dr. Mota Torres? Ele que, em uma aproximação ao que escreveu para Sampaio da Nóvoa, sempre quis ver a Região a "trilhar os caminhos da liberdade, da tolerância, da justiça, da justiça social, da igualdade de oportunidades, do equilíbrio, da cidadania incentivada e respeitada e da modernidade, como elementos indispensáveis daqueles que serão os identificáveis e inultrapassáveis marcos civilizacionais que, orgulhando-nos, a História, um dia, registará (...)".
Ilustração: Google Imagens.

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