Sobre o Programa da Coligação PSD/CDS, anteontem apresentado, li no jornal I: "PSD e CDS querem creches abertas de madrugada e escolas com autonomia para marcar menos férias". Por aqui, o secretário regional considera antipedagógicas as turmas com menos de 15 alunos tal como o ensino misto e, por isso, quer trabalhar no sentido de acabar progressivamente com estas realidades(!). A pergunta que coloco é esta: saberá esta gentinha o que anda a dizer e a fazer? Do meu ponto de vista, não sabem.
Creches abertas de madrugada quase significa assumir o internato desde bebés e significa um absurdo corte com a vida e a vivência familiar. Complementarmente, a liberdade dos estabelecimentos de ensino para que se mantenham mais tempo abertos, portanto, com menos férias ou pausas lectivas, significa a escola tornar-se em um armazém de jovens. E tudo isto porquê? Porque Passos Coelho e Paulo Portas não pretendem resolver a questão central e básica que é a da organização estrutural da própria sociedade. Demonstram, por isso, defender a escravização laboral, os baixos salários e a desestruturação familiar. Como se mais horas de trabalho significasse melhor trabalho e maior produção. São políticos incapazes de irem à causa dos problemas, antes preferem a política do penso rápido oferecendo a resposta certa para o problema errado. Relembro, uma vez mais, as palavras do Frei Fernando Ventura, numa entrevista à SIC, sobre esta estrutura de sociedade: “(…) estamos a pagar facturas altíssimas (…) estamos a criar gerações de “monstros”. Estamos a criar gerações de jovens sem memória. Estamos a criar gerações de pessoas sem história. E quando a memória e a história não se encontram, nós temos os cataclismos sociais. As nossas crianças desde os três meses estão nos berçários, nos infantários, porque têm de estar porque os pais precisam, desesperadamente, de ter dois e três empregos para sobreviverem (…) a história dos novos e dos velhos não se encontra, as crianças não têm voz, as crianças não têm sequer pais, porque têm de trabalhar “25 horas por dia” se for preciso. (…) É esta estrutura por dentro que precisa de mudar (…)”. Mas Passos e Portas pouco se ralam com estas questões fundamentais na construção do futuro. Importante é o blá, blá, a promessa fácil, interessa é enganar, falsear a verdade, assumir o disparate com convicção e algum sorriso cínico. Paradoxalmente, saliento, dizem querer implementar medidas visando a defesa da natalidade, mas logo a seguir prometem criar condições para que as crianças fiquem à guarda das instituições. Que pobres cabeças que nem descobrem as contradições do seu próprio discurso político.
E pela Madeira, questiono, onde é que o secretário regional da Educação leu, segundo o DN-Madeira, que é "antipedagógica" a existência de turmas com menos de 15 alunos? Onde é que foi descobrir que a existência de turmas mistas são prejudiciais na aprendizagem? Deve explicar se esta posição corresponde ao seu pensamento, que vale o que vale, e sobretudo tem o dever de explicar, no plano científico (não no plano político) tais posições, se elas abrangem todas as idades, todos os ciclos ou apenas a especificidade de algumas disciplinas no quadro do actual "modelo" organizacional. "Modelo", saliento eu, absolutamente ultrapassado. No plano pessoal tenho muito interesse em perceber.
Ilustração: Google Imagens.
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