O caso Grécia determinou que não existe União Europeia, existe sim uma Alemanha conjugada com alguns parceiros de circunstância. Quando um encontro de negociação sobre a difícil situação grega é suspenso para que a Chanceler Merkel tenha um encontro com Tsipras, penso que está tudo ou quase tudo dito. Sem um único tiro a Alemanha não consegue sair do seu registo histórico. A luta pela hegemonia, agora nos domínios económico e financeiro, não pára e, por isso mesmo, pressuponho que acabará mal. Os povos europeus não aguentam tanta chantagem e tanta humilhação. O povo grego que o diga.
Que a Grécia, como aqui já escrevi, pelo que leio e oiço, apresenta um quadro de históricas deficiências na organização do Estado, parece-me óbvio. São muitos a dizer a mesma coisa. Só que o problema, eu enquanto mero observador, julgo ter outros contornos se considerarmos a história política mais recente. A Grécia vem de vários anos de austeridade imposta que não resultou em qualquer melhoria. Piorou a sua situação. As mediadas de austeridade não resultaram lá como não resultaram aqui, em Portugal. No nosso caso, basta ter presente o estudo "Três Décadas de Portugal Europeu", do Professor Augusto Mateus. Alguns dados: temos a maior população emigrada da Europa e estamos mais precários; Portugal está incluído num segundo patamar de convergência, composto por países com um nível de vida 20 a 30% abaixo do padrão europeu; entre 2010 e 2013, o PIB 'per capita' português caiu 7% face ao padrão europeu e o nível de vida das famílias regrediu mais de 20 anos; Portugal foi o país europeu que registou maior aumento na fiscalidade entre 2010 e 2013, com a carga fiscal a subir mais de 11%; o aumento das receitas do Estado ficou a dever-se sobretudo aos impostos directos, em particular o IRS, que aumentou mais de um terço entre 2010 e 2013; Portugal é também o Estado-membro em que os juros absorvem uma maior proporção da riqueza criada. E a dívida passou de 90% do PIB para 130 e tal por cento. E dizem, a todo o pulmão, que estamos no caminho certo!
Ora, esta União Europeia, assim, é um logro. O caso da Grécia é paradigmático. Calmamente, souberam esperar e encurralaram um povo e um governo. O único "referendo" admitido é a dos "senhores Europa" de braço dado com o FMI. A voz e o sofrimento dos povos é secundária. Esta Europa não gosta de partidos, embora eleitos democraticamente, que se desviem da liturgia de uma direita política cada vez mais ávida de dinheiro. Que dorme, sonha e acorda a pensar em dinheiro e em mercados. Humilham, se necessário for, para que a razão da força imponha o respeito, o medo e a subjugação que trazem em memória activa. Eles, os senhores da dominação, aplicam a sua receita universal, marimbam-se para os direitos, para os gestos de solidariedade, para o sentido de humanidade, ignoram que a crise foi fabricada fora e são incapazes de assumir medidas sensatas que responsabilizem, obviamente que sim, mas que sejam aceitáveis em todos os planos de análise. Não sei, porque não sou especialista nem fiz o esforço mínimo de compreensão de todas as variáveis implicadas, mas parece absolutamente óbvio que o pacote de medidas a aplicar, se ontem não resultou, amanhã, tenderá a ter resultados piores. A própria pobreza é geradora de mais pobreza. Com aquele plano, a Grécia entrará, estou convencido, em uma fase de conflito interno, de insegurança, de greves, isto é, de significativa fragilidade. Como mero observador, com todos os sacrifícios daí resultantes, preferia que a Grécia saísse da zona Euro, que regressasse à sua moeda, de uma forma programada, mas que não se submetesse a esta ditadura dos mercados. Tsipras escolheu um caminho, penso que não foi o melhor. A não ser que os trunfos não tivessem sido todos jogados. O futuro o dirá.
Ilustração: Google Imagens.
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