E tanto que falam na "obra"! E tanto que falam nas inaugurações realizadas. E tantos milhões jogados fora sempre com o pretexto da "obra", periodicamente reunida em álbum, julgo em dezasseis volumes, titulado 'Res non Verba' (factos e não palavras), entre investimentos públicos e empreendimentos privados, que compilam cerca de 5.000 das ditas "obras". De que valeu essa propaganda quando a grande OBRA, a do ser humano, apresenta um lastimável quadro? A tal obra foram palavras, porque os factos estão aí nos variadíssimos indicadores: os da pobreza, os do desemprego, os da emigração forçada, os da cultura, os da educação e os da saúde.
Não é que a obra (física) pública não tivesse de ser realizada. Muitas justificavam-se, e de que maneira, mas seguindo os princípios do desenvolvimento, entre os quais, o da transformação graduada, da prioridade estrutural, da auto-sustentação, da continuidade funcional, da integração e da optimização dos meios. Foram anos de atropelos, como se tudo terminasse amanhã, e de ausência de conjugação de três dimensões que deveriam ter sido inter-relacionadas: a económica (ligada à produção e distribuição dos bens); a social (que tem a ver com as condições de vida e com as desigualdades) e a cultural (relativamente ao património humano, em um sentido lato, enquanto conjunto de capitais individuais). Não sinto que alguma vez tivessem sido feitas, entre outras, perguntas ou ponderações do tipo: porquê fazer? Para quê? Como? Com que plano de acção? Com que financiamento?
Por isso, temos o sistema educativo que temos e temos o sistema de saúde com 18.200 seres humanos que aguardam na fila do sofrimento. Este é o facto, tudo o resto foram e são palavras debitadas em palcos desde a festa da cebola (que nos faz chorar) até aos túneis que fizeram, também, na cabeça das pessoas. Nós, todos os que aqui vivemos, que amamos a nossa terra, merecíamos outra qualidade política. Hoje, no labirinto, descobrir a saída implica uma mudança de actores com pensamento humanista.
Ilustração: Google Imagens.
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