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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Coerência

 

NOTA
Estas duas intervenções, praticamente com os mesmos membros do governo, têm dois anos. O que mudou?

Segui o último discurso do Senhor Deputado Lopes da Fonseca por ocasião do debate do Orçamento da Região para 2021. Desde logo, uma nota: respeito, sincera e totalmente, as suas posições de agora, quando confrontadas com outras anteriores ao acordo de coligação com o PSD, na sequência das últimas eleições regionais. Mudou, é certo, muito, corrigiu o azimute, é verdade, porque lá diz o povo que "só os burros não mudam de ideias", não é? São tantos os casos que ontem dissertavam a cores negras, algumas vezes cinzentas e que, hoje, "branco mais branco não há". 

Mas o problema não está aí, embora isso gere um gravíssimo desconforto junto dos eleitores. No cerne do problema está a diferença entre ser social-democrata e ser democrata-cristão. De facto, são tão próximos quanto distintos naquilo que é essencial. Portanto, vá lá acreditar em quem? Daí que o problema, pelo menos do meu ponto de vista, não é que seja complexo, colide sim e de que maneira, com uma palavra: COERÊNCIA. 

Porque um partido tem, forçosamente, uma base ideológica distintiva face à qual permite a sua identificação por parte dos eleitores. Daí as diversas formações políticas. Quando a ideologia deixa de existir, quando ela se dissolve no oceano dos interesses, quando os princípios orientadores são deitados no lixo, deduz-se, então, das duas uma: ou as pessoas não estão no lado dos valores que dizem acreditar, ou a questão é mais profunda e prende-se com arranjos partidários e outros, muitos outros, que justificam vender, neste caso, a Democracia-Cristã aos bocados e a pataco, até ao momento de ser completamente engolida pela força maior. 


Aquilo a que assisto não tem nada a ver com as posturas de ilustres figuras públicas de um passado recente que foram, na Região, referências maiores da Democracia-Cristã. Respeitáveis figuras, muitas que tive o prazer de conhecer e, demoradamente, conversar. Que falta fazem à democracia vivida com princípios e de forma honesta. Mas a política chegou a este nível. É a política ziguezagueante, gerida no bas-fond, baseada na facilidade do que hoje é verdade, amanhã, tornar-se em uma grosseira mentira, é a política assente em palavras falsas como se todos fossem mentecaptos. E não é só a Democracia-Cristã na Região. O leitor, pergunto a propósito, entenderá que os socialistas, com 22 Deputados, se tivessem abstido no último Orçamento Regional, depois de dias e dias de tanta crítica e de tanta proposta apresentada e chumbada? Porque não é normal, pergunto, o que estará por detrás disto? Ah e tal, o Covid, o benefício da dúvida! Treta política. Um partido que deseja ser poder tem de apresentar uma alternativa orçamental naquilo que é estruturante. Se não apresenta, então, nada os difere. Abster-se pode significar tão-somente isto: não faríamos melhor!

É nestas circunstâncias que os eleitores vivem. E queixam-se da abstenção? Pois, meus Caros, sem credibilidade, honestidade, referências e posicionamentos exemplares, Bordallo Pinheiro criou a fantástica metáfora do "Zé Povinho".

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