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quarta-feira, 31 de março de 2021

"Dar cartas"...


FACTO


"Acho que vamos criar aqui uma instituição que vai dar cartas". Palavras ditas pelo presidente do governo regional, relativamente a um serviço de investigação médica na área da oncologia.

COMENTÁRIO



Desde logo, entendo que pensar grande é fundamental. Só assim a ciência pode avançar. Aliás, em todos os sectores e áreas de actividade. Demonstrar ambição contrapõe-se, obviamente, ao cruzar de braços ou a ombros caídos. Porém, quando se desenha o futuro, quando se trabalha para trazer o futuro ao presente ou se pretende, na área científica, um determinado objectivo, temos de ter presente as óbvias três perguntas: onde estamos, onde queremos chegar e que passos temos de dar para lá chegar.

Ora, em um mundo onde a investigação oncológica já atingiu altos níveis de conhecimento, inclusive, em Portugal, onde a Fundação Champalimaud constitui um exemplo, por melhores que sejam as parcerias encontradas, o bom senso aconselharia uma certa moderação nas palavras. Porque a complexidade da "escada" implica que não possa ser subida de três em três degraus, mesmo que já exista algum trabalho multidisciplinar realizado. E sendo assim, talvez melhor ficaria ao presidente congratular-se pela iniciativa, entusiasmando ao trabalho sério, profundo, apaixonado entre todos os intervenientes. Ah... e que todos tivessem presente que os recursos nunca faltariam. Eis um ponto fundamental. Talvez tivesse sido mais avisado, porque "dar cartas", na complexidade deste contexto, não é nada.

Mas esta é uma tendência que por aí subsiste. Mal é dado um primeiríssimo passo, logo surge o objectivo, em alguns casos, o da internacionalização, em outros, "dar cartas" perante quem já há muito partiu na escadaria do conhecimento. Existem inúmeros exemplos de iniciativas que "morreram na casca". E, certamente, não é isso que se pretende. Portanto, entusiasmar, sim, garantir os meios adequados, sim, mas sempre com moderação e humildade, até porque, "palavras leva-as o vento". Alguém disse, "o importante não é convencer com palavras, é surpreender com grandes atitudes". É isso que se pede a um líder... despertar nos outros a vontade de fazer. Sem a presunção de vir a "dar cartas".

Ilustração: Google Imagens.

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